Por enxergar muito
Você ficou cego
Por saber demais
Perdeu toda razão
Pela sua bondade
Se tornou malvado
A sua generosidade
É tão mesquinha...
Você é um cara tão famoso
E a morte lhe tratará do mesmo jeito
Que ao mendigo da sarjeta...
Por estudar demais
Você ficou burro
Por entender tudo
Não sabe de nada
Aparece demais
E corre perigo
Tem muito dinheiro
Virou escravo dele...
Você é um cara tão famoso
Mas a doença tem fome total
E não dispensa ninguém...
Tem cama macia
Vai dormir num caixão
Pode comprar tudo
Menos um amor sincero
Tem muitos aduladores
Tem poucos amigos
Pode comprar armas
E não evitar a guerra...
Você é um cara tão famoso
Mas não pode parar o tempo
Que um dia vai engolir...
Tem fama na rede social
Muitos debocham de você
É um escravo da mídia
Não tem noção disso
Tem uma linda filosofia
E só pratica o inverso
Mostra tanta moral
É só mais um canalha...
Você é tão famoso
Mas só será assim desse jeito
Enquanto interessa ao poder...
Sua morte renderá mais
Mas não comprará o céu
Seu corpo fora da geladeira
Vai feder no dia seguinte
Vão lembrar de você
Porque isso faz parte
Que conste no epitáfio:
Ele era tão famoso...
(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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