sábado, 26 de agosto de 2023

Fama

Por enxergar muito

Você ficou cego

Por saber demais

Perdeu toda razão

Pela sua bondade

Se tornou malvado

A sua generosidade

É tão mesquinha...


Você é um cara tão famoso

E a morte lhe tratará do mesmo jeito

Que ao mendigo da sarjeta...


Por estudar demais

Você ficou burro

Por entender tudo

Não sabe de nada

Aparece demais

E corre perigo

Tem muito dinheiro

Virou escravo dele...


Você é um cara tão famoso

Mas a doença tem fome total

E não dispensa ninguém...


Tem cama macia

Vai dormir num caixão

Pode comprar tudo

Menos um amor sincero

Tem muitos aduladores

Tem poucos amigos

Pode comprar armas

E não evitar a guerra...


Você é um cara tão famoso

Mas não pode parar o tempo

Que um dia vai engolir...


Tem fama na rede social

Muitos debocham de você

É um escravo da mídia

Não tem noção disso

Tem uma linda filosofia

E só pratica o inverso

Mostra tanta moral

É só mais um canalha...


Você é tão famoso

Mas só será assim desse jeito

Enquanto interessa ao poder...


Sua morte renderá mais

Mas não comprará o céu

Seu corpo fora da geladeira

Vai feder no dia seguinte

Vão lembrar de você

Porque isso faz parte

Que conste no epitáfio:

Ele era tão famoso...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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