sexta-feira, 18 de agosto de 2023

Avis Rara XXIV (Quê Místico)

Um quê místico

Marcas de sua pele

Um exército de memórias

Umas e outras

Pois não?

São precisos alguns olhos

Mesmo que invente

Alguns deles agora

Tudo é simples

Como uma espuma

Que descerá

Garganta abaixo

Mestres do Nada

É o que somos

Estruturas avessas

Que temos sempre

Quanto houver mais

Haverá bem menos

Carpiremos no riso

Apontar os dedos

Para pecados pessoais

Em caso de dúvida

Quebre logo esse vidro

O nosso ridículo faz parte

Toda podridão existente

É de minh'alma

Fiz vários cortes nela

E não me arrependi

Os marionetes choram

Mas acabam obedecendo

Um roteiro suicida

Sem letra alguma

Mais com muitos likes

Num caderno sujo

Coloquei as receitas

Copiosamente copiaram

O novo endereço

Nem a tristeza

Agora tem um nome

É uma sinonímia total

As duas se beijam

Depois beijam rapazes

Os lobos uivam

Canções fora de nota

A primeira dose é a partida

A segunda dose é o vício

A estrela caída dos céus

Um pássaro sem asas

Os óculos quebrados

E os demais vidros

Valentia disfarçada

De qualquer covarde

Erros todos ensinados

Almofada sob os quadris

Palavras agora repetidas

Tudo está sob a sombra

O programa tem suas falhas

Navalhas cortam demais

O chão tudo conhece

Talvez menos frio

Para minha fogueira

Formigas de folga

Todos os desenhos do mundo

Um quê místico

Marcas de sua pele

Por que não?... 


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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