quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Voou e Caía

Nós, os nós

Entre cores novas tão velhas

De seda sim

A corda que o trapezista desafia a vida...

Entre linhas e sitcons

Mais ou menos sem graça

A fera se atirou no espaço

Para cair no abismo...

Pássaros noturnos

De uma surpresa esperada

Que acaba nos sufocando

Sem vermos...

Todo mito se esvai

Numa incomum fumaça

Que nem toda estética

Poderá explicar...


Nós, os sós

Entre dores velhas tão novas

De medo enfim

A moda que o artista desfia a vida...

Entre bocas e batons

Mais ou menos só pirraça

A espera que virou fracasso

Para sair do cinismo...

Pássaros soturnos

De brasa acesa ora apagada

Que acaba nos queimando

Sem termos...

Todo rito se abstrai

Numa incomum trapaça

Que nem toda ética

Poderá argumentar...


(Extraído do livro "Palavras Modernas" de autoria de Carlinhos de Almeida). 

terça-feira, 29 de agosto de 2023

Neandertais São Os Tais

Saudade também endoida.

Preciso de óculos novos.

E asas se assim puder.

Dedos e teclas em tal rumo.

O paraíso entre linhas.

Vagas para pensamentos.

Minha culpa é toda sua.

Sangue para pernilongos.

E uma lata de poesia tola.

Nunca mais saberemos.

A cegueira moderna chegou.

O camaleão está sentado.

Vamos ver as notícias de sempre.

Francamente não há franqueza.

E todas as previsões falharam.

Mas o tempo não tara não.

Pois tudo um dia já foi pop.

O popstar teve dor de barriga.

Todos jovens vão envelhecer.

A blusa dele era da cor lilás.

Uma rodada de vodca para todos.

Me jogarei para um canto.

Só há alegria nas fotografias.

O gozo é o princípio do fim.

A fumaça toma conta de tudo.

O relógio sai correndo de mim.

Há escuridão até na claridade.

Mas isso agora pouco importa.

Cada um desempenhe seu papel.

Mesmo o improviso tá valendo.

Vocês querem bacalhau?

A teimosia é mãe da desgraça.

Mas é a madrinha do êxito.

Os neandertais são os tais.

Estou demasiadamente com sono...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida). 

segunda-feira, 28 de agosto de 2023

É Que Eu Não Entendia

Olho  para a frente calmamente

(Uma calma que até me irrita)

E ando com certa dificuldade

Só como velhos e aleijados andam

Mas por que parar se o espaço

É de apenas um quarteirão?

Peço mentalmente que não chova

(Eu não posso tomar chuva)

E me sinto como se estivesse

Em uma máquina do tempo

O filme foi de baixo orçamento

E seus efeitos são sofríveis?

Dia desses mesmo eu não entendia

(Ou pelo menos forçava a barra)

Para entender coisa alguma

Pensando que a saudade não viria

Fora a doença e também a velhice

Elas engolem tudo e todos?

Agora consigo entender algo

(Mesmo com as cores fugindo)

Me deixaram num preto-e-branco

Como uma velha foto post-mortem

E como as mãos trêmulas pergunto:

Será a morte uma grande vida?

Há nuvens e pássaros sobre a cabeça

(Escuto os sons viciados do dia)

E vejo minha solidão é um engano

Minha alma irá me acompanhar

Como aquela sombra mais fiel

Será que ela não descansa nunca?

Olho para a frente calmamente

E acho que agora entendo...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida). 

Poesia Gráfica LXXIII

N I N G U É M É D E N I N G U É M

N I N G U É M P A R A E S S E T R E M

N Ã O É M A L E N E M É B E M

A I N D A T E M T R I B U N A L E M S A L E M

E U M E S I N T O I G U A L U M N E N É M

P A P A I N O E L M E D Á U M H A R É M

L O G O L O G O T O U I N D O P R O A L É M


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H O D I E

N O N N E A L I Q U I S M O R I

N O S O M N E S M O R I T U R I


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M m A e I n O o R r

I p N e T d E a I ç R o O

P s R e I g M u E n I d R o

S b I a L r Ê u N l C h I o O

A a Q l U i I

A ó M d O i R o

C a R t E e N u T s E


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F I Q U E D E P É 

M U I T A S N U V E N S

N O A G O R A

F I Q U E A C O R D A D O

S O B R A S E M P R E

A L G U M A R I M A


...................................................................................


P O R Q U E L E T R A S 

E N Ã O S O N H O S ?

P O R Q U E G R A N A

E N Ã O R I S O S ?

P O R Q U E C H O R O S

E N Ã O C O R E S ?

A S C R I A N Ç A S E S T Ã O C E R T A S

S I L Ê N C I O N O T R I B U N A L !


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U M T I R O N O E S C U R O

U M T I R O N O M U R O

U M T I R O N O F U R O

T O D A S A S F L O R E S D O M U N D O

T O D A S N U M A S Ó

V O C Ê . . .


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S O N H O S N Ã O M O R R E M

F A N T A S I A S S E F A N T A S I A M

C O R E S S E T R A N S F O R M A M

N A D A P O D E M A T A R A A L M A 

A D O R É P O U C O M A I S Q U E U M B R I N Q U E D O


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domingo, 27 de agosto de 2023

Tanta Chuva

Olhavam em tempos idos

Quando a chuva caía lá fora...

Os meus dias são outros...

Apenas escuto seu lamento

Espalhado pela noite caindo...

Corriam pra tirar roupas da corda

Botavam vasilhas nas goteiras...

Não dou um passo sequer...

Nesse solidão de velho triste

Estendo meus olhos para além da tela...

Minha tristeza de nada adianta...

Um verso ou outro tentará escapar

Mas o frio da noite vai atingi-lo...

O pássaro que era do dia caiu

Morto no asfalto agora gelado...

Apenas um corpo como muitos...

Não farei mais pergunta alguma

Toda palavra é som que morre...

Ou um simples rabisco no chão...

Talvez amanhã pare de chover

Quando acordar para mais tédio...

Dias iguais em minha pobreza...

Apesar de tudo sou quase nada...

Apesar de nada sou quase tudo

Que só soube incomodar até agora...

Durma bem quem for dormir...

Sonhe com os anjos quem acredita

Todos num céu que agora duvido...

Pra que tanta chuva assim?...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

O Roubo (Miniconto)

Roubei, roubei mesmo. Aliás, não foi roubo, fui furto mesmo. Os moralistas de plantão podem arregalar os olhos e abrir a boca de indignação. Mas eu não resisti. Deus que me perdoe, mas sou humano e, por isso mesmo, não sou infalível. Dizem que erro é erro, independe do tamanho, mas acho que nem prejudiquei ninguém, sabe? Eu vejo tanta coisa bem pior por aí... Já estou até tomando medo de me informar. É guerra não sei aonde, um monte de casas e prédios atingidos por bombas; gente morrendo de fome (especialmente crianças); campos de refugiados, todo mundo amontoado feito bicho; bala perdida matando inocente; Federal pegando mala de dinheiro na casa de político vagabundo. Tanto que o velho aqui acaba entrando em parafuso. Tira o tesão de qualquer um. Ontem tava deitado quando Léo chegou do serviço. Nem passou dois minutos e escutei o barulho da lata abrindo. Não era latinha, era latão mesmo. Estão uns três dias lá no canto da nossa geladeira quase vazia. Roubei mesmo, furtei, sei lá, pra mim é a mesma merda, só muda a palavra. Coloca aí na lista, quando tiver dinheiro, coloco outra no lugar...

sábado, 26 de agosto de 2023

Conhaque (Miniconto)

Porra, tenho uma sorte filha-da-puta mesmo! Não costumo mesmo passar nessa rua já que devo uma graninha pro cara da barraca. Já tive até dinheiro pra pagar, mas acabei gastando com outra coisa e nem me lembro com o que foi. Pois é. Não passo faz tempo, mas me esqueci e acabei passando. Ainda bem que ele estava distraído com um pessoal que tava lá e nem me viu. Apertei o passo, fingindo que tava olhando pro outro lado da rua. Não tinha ninguém, ninguém, só um cachorro bebendo água num pote de margarina vazia que colocaram na calçada. Até aí já dei sorte, né? Mas quando eu olho, vejo uma coisa na outra esquina - um despacho! Ainda tava recente, tinha vela acesa. Fazia tempo que eu não via um. Acho que senti até o cheiro de charuto vindo no meu nariz e aquele cheiro de dendê da farofa. Mas olha lá, olha lá! Chegava brilhar no sol aquele vidro da garrafa que colocaram junto. Conhaque! Isso mesmo, co-nha-que, não era cana (agora tão colocando aquelas barrigudinhas de plástico mesmo) . Não pensei duas vezes. Dei uma paradinha meio que disfarçando pra ver se não tava vindo ninguém. Fui chegando, chegando, pedi licença na maior cara-de-pau. Peguei a garrafa, coloquei a tapinha que tava junta, botei numa sacola de mercado que tava perto. Quem colocou ali só jogou um pouco no chão. Agradeci e saí saindo. Ah, peguei também a caixa de fósforos, meu isqueiro acabou o gás...

Matando na Unha (Miniconto)

Eu mato mesmo na unha. E olha que não sou calma. Sou não! Tenho não paciência de ver novela, todo o dia a mesma coisa. E naqueles capítulos que deixam a gente nervosa? Acabo roendo as unhas, torcendo pano de prato, apertando a almofada que fica no sofá. E mato mesmo. Menina, vem cá logo! Vamos catar esse cabelo. Quer cabelo grande? Tem que tratar... Aí fica com essa piolhada toda. Já cansei de te falar, não vive encostando nas colegas da escola... 

Catarina Não É Santa (Miniconto)

Catarina não é santa, muito menos estado. Nunca foi, não é, nunca será. É gente, gente sim. De carne, osso, muita confusão, e daí? Faço e faço mesmo. Se cismar me atiro de cima da ponte e tá ótimo. Morreu? Dia seguinte faz vinte e quatro horas. Sei ler e escrever, faço as quatro operações e tá ótimo. Tiro o botijão do uso pra vender e comprar minha cerveja, minha maconha e meu pó. E daí? Se me pegam no flagrante, fodeu mesmo. É tapa na minha cara, não é o primeiro, nem vai ser o último. Tem inferno pior que delegacia. Liga a televisão na hora do repórter e vai ver. Mais do que essa merda daqui. Ih, me deixa, porra! Senão boto um pra voar que nem fiz com Binho. Frouxo. Batia na gaguinha feito quem bate em cachorro. Comigo não, porra! Bate na puta da tua mãe, aquela vagabunda que cansou de cornear o filho-da-puta do teu pai. Que o Diabo lhe chame lá nas profundas. Cada um tem o que merece. Te empurrei lá da sacada do apartamento. Deu foi sorte, se cai de cabeça era só mais um. Cadeia foi feita pra gente. Meu nome é Catarina, não recebo nada. Ainda bem, senão recebia era o Cão e daqueles bem tinhoso. Que cospe fogo e peida brasa. Senta aí e pede um copo...

Fantasia (Miniconto)

- Fico bem nesta?

- Fica ótimo!

- Tem certeza?

- Claro que tenho...

- Hum... Não teria alguma coisa...

- ...

- ... digamos, mais... mais atual?

- Acho que tenho sim. Um minutinho...

- ...

- Essa aqui fica perfeita no senhor.

Decorridos alguns segundos.

- Aqui está.

- Mas... mas... não entendi. Isso é apenas uma camisa comum, bermuda e um par de chinelos. Não entendi mesmo...

- Pois aí está, é uma fantasia de morto.

- De morto? Como assim?

- Uma fantasia de morto, quase igual a que o senhor está usando agora. Para ser morto, basta estar vivo...

- Ah, sim, entendi. Brilhante. Fico com esta...

- Obrigado. Volte sempre. Pode passar no caixa. O próximo!...

Sinceridade (Miniconto)

 


- O senhor está apto para a vaga?

- Não.

- Mas está querendo trabalhar?

- Não.

- Mas por que entrou na fila?

- Tenho mania de entrar em filas...

- Então está contratado. Nossa empresa prima pela sinceridade...

 

Cinzas (Miniconto)

 


Cada um tem seu gosto. Nunca gostei de cemitério. Se pudesse tinha evitado de ir no meu próprio enterro, mas fui obrigado a isso. Tiraram-me daquela cama que antes sonhei em sair e não consegui. Foi realmente ruim ver tantos filhos-da-puta, que eram os meus parentes chorarem de falsidade. Depois me senti igual carne de churrasco. Por fim, volto para casa e fico exposto na estante. Na estante da sala de vez em quando acumula um pouco de poeira, mas não é tão ruim assim. De vez em quando, mesmo não querendo alguém lembra de mim...

O Roubo (Miniconto)

 

Dias desses houve um roubo aqui no meu bairro. Eu sei que está sendo comum o roubo em todas as cidades do país, principalmente na minha, mas onde eu moro era considerado bem tranquilo. De vez em quando até haviam alguns roubos. Alguns celulares de quem dava mole, algumas carteiras surrupiadas dos bolsos das calças dos mais incautos, mas hoje teve um roubo bem diferente – um banco! Ainda bem que não houve algum problema com a polícia, já que a maioria do que a mídia mostra acaba dando mal pra alguém. O tal roubo deve ter acontecido à noite, já que nenhuma testemunha apareceu pros devidos registros policiais. Mas veja só você – roubaram um banco. A maioria deles estava quebrada. Sobraram poucos na nossa praça mal cuidada pela prefeitura. Quase não se tem mais onde descansar a bunda...

Poesia Gráfica LXXII

MARO      LARO      BARO

PARO        FARO       CARO

SARO        TARO       GARO


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T R A G É D I A C O M É D I A

P R A Q U E L A D O E U V O U ?

P R A Q U E L A D O E U S O U ?

P R A Q U E L A D O E U T O U ?

C O M É D I A T R A G É D I A


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D E S D E O C O M E Ç O

S E M T E R A L G U M A P R E Ç O

D E P O I S A L G U M P R E Ç O 

A P Ó S O M E U E N D E R E Ç O

C O M T O D O A M O R E U D E S Ç O


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V A L E A P E N A V E R D E N O V O

V A L E A P E N A V E R O P O V O

V A L E A P E N A V E R O O V O

V A L E A P E N A V E R D E O V O

V A L E A P E N A V E R O C O V O

V A L E A P E N A N Ã O V E R D E N O V O


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M E T I R A D O S É R I O

M E N T I R A D O S É R I O

M E T I R A D O C E M I T É R I O

M E T I R A D O M I S T É R I O


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O B U M B U M D E L A

O B U M B U M B E L A

O Z U M Z U M D E L A

O B E M B U M D E L A

O B E B U M D E L A

O B U M B U M D E L A


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A M E M É T I C A

A M E S M A É T I C A

A M E S M É T I C A 

A Q U A S E É T I C A


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Poesia Gráfica LXXI


V A S I L H A V A Z I A
Q U E N T E O U F R I A
E L A E S T Á C O N T E N T E
C O M T A N T A I D I O T I A
L E V E O M O L E Q U E N A C R E C H E
E V Á P R A C A S A F U M A R . . . 

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O S I D I O T A S E S T Ã O C H E G A N D O
E S T Ã O C H E G A N D O S O S I D I O T A S
S Ó P O S S U E M A M I Z A D E
C O M G E N T E D E T E M P E R A M E N T O S Ó R D I D O
D E T E M P E R A M E N T O S Ó R D I D O

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A E S P E R A N Ç A
Q U E N Ã O 
M E E S P E R A
V I R O U
D E S E S P E R O

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S O U D E U M T E M P O
M A S T Ã O A N T I G O
Q U E N E L E H A V I A E S P A Ç O
P A R A I L U S Õ E S

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P A R A F U S O
P A R A F U S A N D O
P A R A F U S O
P A R A F U S A N D O S A N D O
S E M F U S O H O R Á R I O

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M E I A M E I A 
N Ã O V O L T E I A
T Ã O B E L E F E I A
C H E I A D E A R E I A

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P O E S I A C O N C R E T A
P O E S I A R E P L E T A
P O E S I A I N D I S C R E T A
P O E S I A S E C R E T A
P O E S I A B I C I C L E T A

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Fama

Por enxergar muito

Você ficou cego

Por saber demais

Perdeu toda razão

Pela sua bondade

Se tornou malvado

A sua generosidade

É tão mesquinha...


Você é um cara tão famoso

E a morte lhe tratará do mesmo jeito

Que ao mendigo da sarjeta...


Por estudar demais

Você ficou burro

Por entender tudo

Não sabe de nada

Aparece demais

E corre perigo

Tem muito dinheiro

Virou escravo dele...


Você é um cara tão famoso

Mas a doença tem fome total

E não dispensa ninguém...


Tem cama macia

Vai dormir num caixão

Pode comprar tudo

Menos um amor sincero

Tem muitos aduladores

Tem poucos amigos

Pode comprar armas

E não evitar a guerra...


Você é um cara tão famoso

Mas não pode parar o tempo

Que um dia vai engolir...


Tem fama na rede social

Muitos debocham de você

É um escravo da mídia

Não tem noção disso

Tem uma linda filosofia

E só pratica o inverso

Mostra tanta moral

É só mais um canalha...


Você é tão famoso

Mas só será assim desse jeito

Enquanto interessa ao poder...


Sua morte renderá mais

Mas não comprará o céu

Seu corpo fora da geladeira

Vai feder no dia seguinte

Vão lembrar de você

Porque isso faz parte

Que conste no epitáfio:

Ele era tão famoso...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Nada de Nada

Nada de nada de nada

a canção interrompida

a festa adiada...


E eu entre minhas dúvidas e meus desafetos

entre meus desejos aéreos e sonhos concretos

concretismo sim, o mais puro concretismo

de mãos desarmadas e o mais puro cinismo

a tentativa que falha e o alvo não-acertado

esse temporal poderia estar terminado...


Nada de nada de nada

o mar sem onda alguma

e a serra pelada...


Tudo bem parecido e o diferente sempre igual

vamos bater palmas para o paciente terminal

pois eis aqui essa tão nova e tão vã filosofia

de transformar o velho pássaro em montaria

fazer um quadro de rabiscos incompreensíveis

enquanto vivemos todos os dilemas mais risíveis...


Nada do nada do nada

não queria nem falar

a fogueira apagada...


Está doendo?

Não foi nada...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Velho

Velho espaço

     que sempre esteve lá

Os mesmos átomos

     o mesmo tempo

Nada há de modificar...


Como em velhas gravuras 

     que o tempo amarelou...


Velho carnaval

     que iremos comemorar

Desta forma

     ou daquela outra

Até que tudo vá terminar...


Como em antigas paredes

     que logo logo cairão...


Velho dormir

     que irá apenas nos torturar

A noite então corre

      o dia vai clareando

Não poderemos mais descansar...


Como lágrimas já acostumadas

     de escorrer em nossos rostos...


(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).   

Contradictio

Eu sou

o círculo reto

que circula

por aí

A Sansara

louca

sem ter

culpa alguma

O luxo barato

ouro de tolo

para o tolo

no meio da noite

O telefone

mudo

e a notícia pirada

mentindo

O mimetismo

escondendo

a cara

e a bunda de fora

O contratempo

nos fazendo

uns meros

palhaços

Eu sou o cego

pensando

enxergar

mas no escuro

Motivo

algum para

motivo algum

eu tenho

A barata tonta

o sol

com peneira

a topada

Sem-grana

sem-vergonha

sem-tino

quase nada

Eu sou

a curva fechada

que o tempo

não abriu...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quinta-feira, 24 de agosto de 2023

Cá Entre Nós

 

Desculpe se tenho lhe seguido

Por todos esse dias sempre

Momento após cada momento

Lembrando de todas as insatisfações

Que você nunca teve culpa...

Desculpe se eu tenho lhe culpado

Do risco que eu optei correr

Tudo foi de minha autoria

Eu sou o rei das minhas mancadas

Cavador dos meus abismos...

Desculpe se eu mesmo cortei

Essas minhas duas asas

Acreditando em qualquer mentira

Andando cego na contramão

Assinando contratos sem ler...

Desculpe se estraguei a velha máquina

Com preocupações desnecessárias

Com medos imaginários

Acrescidos do meu egoísmo tolo

E meus preconceitos absurdos...

Desculpe se a ternura

Não foi para quem merecia

O carinho não foi para quem me deu

Se não pensei no que falei

E perdi as chances que me deram...

Desculpe se exagerei na ousadia

De acabar com meus minutos

Nas tentativas mais vãs possíveis

Querendo pegar toda a fumaça

Que escapa entre meus dedos...

Desculpe se tenho lhe seguido

Mesmo afirmando que tenho medo

Desde esse primeiro instante

Até que lhe encontre por último

Até que sigamos juntos de uma só vez...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Avis Rara XXX (Rodopio Poético)

E o meu amor deixava tonto

(eu mesmo me tonteei)

como bebida de promoção

de mercadinho de bairro...

E o meu desejo me cegava

(todo ele é espinho)

como quem pede esmola

e não ganha uma moedinha...

E o meu segredo me corava

(confesso que eu a amava)

e eu não podia andar na rua

com medo que alguém me via...

E o carrossel que era o mundo

(que cansa, mas não para)

me enche de medo que nem cão

que levou pedrada na rua...

E tudo o que me aflige

(como um ralado no joelho)

não tem pressa alguma

de partir para bem longe...

E os versos faziam ciranda

(com suas luzes em volta de mim)

num rodopio tão mais bonito

que nem fogo de artificio no céu...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Avis Rara XXIX (Deixe Transformar Meu Desespero Em Canção)

 

Não há porta de saída

     para os tristes...

O ar invade a janela

    nessa madrugada indeterminada...

O anjo não fala mais

     a língua dos anjos

Mas o demônio

     compreende a minha...

A noite é ainda um cobertor

      cobrindo todo mundo

E o sol não veio bater

     seu cartão de ponto...

Um ou outro triste (assim como eu)

     já dá passos incertos...

Deixe cantar minha canção desesperada

     (cantarei ela aqui por dentro)...

Não vai sair som nenhuma

      somente as batidas desse velho coração

que já descompassou tantas vezes...

Logo logo será mais uma canção morta

      (como tantas outras, tenha certeza)

      que se perderam por aí...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Avis Rara XXVIII (Tem A Arte)

(Segura a arte pelos cabelos

E implora tua salvação...)

Vive cada palavra feito a última

Sonhos mesmo machucando

Nos levam até as nuvens...


(Engole qualquer inspiração

Como se fosse um faminto...)

Os versos te ajudarão

A não enlouquecer além da conta

E não morrer pelo caminho...


(Ri daqueles que te ferem

Eles são mais infelizes...)

Recebemos aquilo que damos

O destino é um bumerangue

E ele foi mal atirado...


(Enxerga com mais visão

Do que os que tateiam no escuro...)

Tropeçar é parte da vida

Mas levantar-se é mais ainda

Toda dor uma hora cessa...


(Segura a arte pelos cabelos

e roube um beijo dela...)

O gosto na boca acompanhará

Todos os dias durante a vida

Até que a morte enfim chegue...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sábado, 19 de agosto de 2023

Avis Rara XXVII (Luxury)

Mesmo sem sal engoliremos

Numa nova estética sem números

Qual caleidoscópios desregulados

Desde que a nossa fome consinta

Somos os novos bárbaros

De uma dieta que quase não deu 

Tampa de panelas para o artista 

Palmas fingidas para os idiotas

Pratas jogadas dentro do sal

Vamos nos banhar no Ganges

Pedindo que alguma coisa ocorra

Não me importando quais os pentelhos

Que brotarão em seus sexos

Tudo é uma questão de gramática

E meus nervos não possuem mais flores

Morro cada vez menos e menos

E isso pode ser apenas lamentável

Uma barata voa mais do que eu

E enquanto monto meu inferno com legos

Não vejo mais o relógio correr de mim

O orgasmo é o fim de todo riso

Mesmo se a piada não se acabou

Cavalos brancos de matéria plástica

E bonecas do sex-shopping sinceras

Vou mastigar tudo que não existe

Até conseguir cuspir no chão do bar

Separados estamos desde a maternidade

E nossas estrelas se recusam brilhar

Quase esqueci de certas proibições

E me utilizei de novos códigos secretos

O amor não durou mais que um segundo

E nem por isso morreu ou vai morrer

Mesmo sem sal engoliremos...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Poesia Gráfica LXX

D E S P E R D Í C I O D E B L U E S

P R E C I P Í C I O D E N U S

S A C R I F Í C I O D E N E N H U N S

A R T I F Í C I O D E A L G U N S 

N A D A M A I S A D E C L A R A R


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U N S A S S O B I O S D I S P E R S O S

N O A R M A I S D I V E R S O S

M E U S M O N S T R O S I M E R S O S

S E N T I M E N T O S I N V E R S O S

C O N C E I T O S C O N T R O V E R S O S

V Á R I O S U N I V E R S O S


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O A Z U L Q U E N Ã O E X I S T E M A I S

O A Z U L Q U E M O R R E U E M N O S S O S 

C A R N A V A I S

O A Z U L Q U E F O I E M B O R A N O S T E M P O R A I S

O A Z U L Q U E V I R O U M C I N Z A N O S L A M A Ç A I S

O A Z U L Q U E F O I N O S M E U S F U N E R A I S

O A Z U L Q U E M E F A L O U N O S H A I C A I S

O A Z U L Q U E E R A D E A L G U N S P E D A I S

O A Z U L Q U E N Ã O E X I S T E M A I S

E A G O R A T A N T O F A Z . . .


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A N T I - C A N Ç Ã O

A N T I - P O E S I A

A N T I - A M O R

A N T I - T E R N U R A

A N T I - C A R I N H O

A N T I - A M I Z A D E

A N T I - B E L E Z A

P R O D U T O D O M E I O D O N O S S O T E M P O E E S P A Ç O


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U M A E S T É T I C A D U V I D O S A

E A G O R A 

É C I N Z A E J Á F O I R O S A

R O S T O N Ã O B U N D A D E F O R A

S E M M O R A L 

S E M B R I O

U M C A R N A V A L

M A I S Q U E V A Z I O


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T E L H A D O S D E V I D R O

P A R E D E S D E P A P E L

D E Q U E M É E S S E C É U ?

T O D O S T I V E R A M M E D O

D A S M A L D A D E S D O C O R O N E L

D E Q U E M É E S S E C É U ?

M O S Q U I T O S E M R A S A N T E S

P I R I L A M P O S A O L É U

D E Q U E M É E S S E C É U ?

F L O R E S F A Z E N D O A Ç Ú C A R

A B E L H A S F A Z E N D O M E L

D E Q U E M É E S S E C É U ?


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M A R G A R I N A E X T R A O R D I N Á R I A

M E N T I R A Q U A S E M O D E R N A

E U V I V O D O S M E U S V E N E N O S

C A D A U M T E M S E M P R E O S E U

E S C R E V O V E R S O S B A B A C A S

C A D A U M E S C R E V E O S S E U S

E L A C O Ç O U A V I R I L H E E T O D O M U N D O V I U


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É V E R D A D E Q U E É M E N T I R A Q U E É VE R D A D E Q U É M E N T I R A Q U E É V E R D A D E Q U E É M E N T I R A Q U E É V E R D A D E Q U E É M E N T I R A Q U E É V E R D A D E Q U É M E N T I R A Q U E É V E R D A D E Q U E É M E N T I R A Q U E É V E R D A D E Q U E É M E N T I R A Q U É V E R D A D E . . .


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Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...