sábado, 9 de março de 2013

Talvez Confissão


As mãos estão manchadas sim
Por veias como num mapa
Só que não aparecem aos olhos
São as manchas dos meus gestos
Alguns de carinho e outros de maldade
Foram gestos cada vez mais humanos
Logo assim que o tempo passou
Não me culpe
Nem todos andaram por aí pela vida
Sorrindo de coisas boas e previstas
Nem todos tiveram algo bom
Que pudessem querer guardar
Os pés estão cansados e insensíveis sim
E os grãos de poeira acumulados
Ainda conta um por sua história
E a maioria das histórias é sempre triste
Não me culpe
Eu bem que tentei e tentei novamente
Mas muitas voltas param às vezes
Sempre no mesmo lugar
Os olhos tortos cada vez mais fracos
Não viram tudo o que queriam
E quase sempre choraram de tristeza
E falaram mais e muito mais que a boca
São olhos que se abriram no escuro
São olhos que sentiram o medo
Não me culpe
Não escolhemos nossos olhos
Mas parece que eles nos escolhem
Assim como o destino escolhe as peças
Que fatalmente vai nos aprontar
O coração ainda bate aceleradamente
Mesmo que seja só por impulso
Até que o cansaço domine e tudo pare
E eu não pense em mais nada então
Não me culpe
Corações foram feitos para parar
Tanto os que amam quanto os que odeiam
Têm no fundo algo em comum
A alma ainda vive
Como se imortalidade fosse um castigo
Porque a ilusão da morte
Seria perigosamente um consolo
E todos os consolos valem alguma coisa
Mão me culpe
Todos um dia verão a luz
Mas até este dia
Serei apenas mais um triste...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Insalubre (Miniconto)

Insalubre era a casa dela (se é que podia ser chamada de sua ou ser chamada de casa). Qualquer favela tem coisa bem melhor. Sem porta, sem j...