sábado, 9 de março de 2013

Mágico Espelho

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Não são vinte e cinco anos
São vinte e cinco séculos
São vinte e cinco milênios
E mesmo assim
Nada saiu do lugar
Tudo está a mesma coisa
E o pátio ainda está lá
As cenas se repetem
E a mente delira
Como numa roda de orações
Tudo bem tudo zen
A própria forma é sem forma
E eu rimo quando quiser
É nenhum ou são todos
E ainda podemos escolher
Que adereços formarão o carnaval
É assim e assado
O baticum dos tambores
Ao mesmo tempo tranqüiliza
E acelera o mesmo coração
É o vão da escada e o escorrego
As mil tentativas de vôo
O imã em meio aos dedos
O gozo que não chegou
Tantos sinais espalhados
Como se uma litania diferente
Povoasse qualquer relógio
Falem mal dos meus versos
Falem mal da minha blusa
O peito se abriu já faz tempo
Mas na verdade o pássaro não voou
Ele prefere o cativeiro de boas intenções
E o sol que nunca pára de arder
A disputa nunca foi tal leal
E a bondade nunca teve tanta timidez
Ainda é tempo de inventar castelos
E as damas indefesas estão lá dentro
Ainda é hora de colher dragões
Como outrora foi com as margaridas
Ainda é hora de fazer bruxedos
Num caldeirão chamado noite
Eu quero de volta aquele negro manto
A capa longa e a espada brilhante
A magia que brotava em tantas tardes
Sem ao menos se anunciar
Era o calor que prendia tudo ao chão
E esse calor ainda não arrefeceu
É água nossos olhos agora
Mas mesmo assim viramos o rosto
E os pés não viram nada
Passos lentos e passos rápidos
Sublimes decisões de somenos
Eu guardei gestos ternos
Para serem usados em qualquer hora
Só não sei se eles me matarão de ternura
Porque se morre de tudo
Até de vida se morre
Não há mais frutos suficientes
Mas as folhas estão insistindo
É no respiro o grande segredo
Prometo nunca mais esquecer
E se a memória falhar ainda assim
Haverá outros caminhos
Que cheguem a Roma
As palavras são como notas
E num canto de minha inspiração
Tiro todas que puder
Gostar não é necessariamente
O que quero que façam
Nem tudo que se gosta é bom
E nem todas as manchetes que são lidas
Trazem finais felizes
Quaisquer pedras podem servir
Não precisa ser a filosofal
Não reclamamos muito de muita coisa
Mas que pelo menos
O jantar não esteja frio
Eu não me lembro de todas as datas
Mas há quem as lembre
A memória já fraqueja
Em nosso tempo havia coisas
E coisas e coisas e coisas
Mas as anotações perderam-se
Por ironia ou não
Ainda continuamos os mesmos
Tudo é como é
E a grande diferença é isso
Os biscoitos com goiabada
A bicicleta e a buzina nova
As voltas em volta da quadra
E o suor escorrendo no rosto
Tudo é como é
Pelo menos se pensa assim
É a flauta de Pã
E os fogos chineses
É o papel do papel
E os versos que nele cabem
Tudo programadamente casual
Eram dias bons aqueles
Só porque eram e mais nada
Muito antes de quaisquer beijos
E ainda antes das nuvens
Sente ali e espere
Eu aprendi fazer muitos milagres
Mas todos eles são comuns
Eu aprendi fazer mil maravilhas
Mas todas elas se repetem
São como figurinhas daqueles álbuns
Era todo nosso sonho
Era todo o meu sonho
Refletido num espelho que se quebrou...

(Para RPCS)

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