segunda-feira, 18 de março de 2013

Quando A Cidade Acordar


Amanhece. Trevas e cores começam a se confundir por enquanto em primeiros vôos. Não há como escapar. Preparem-se. O dono do dia vem acender todos os rostos e todos os gostos. O pó se evidencia em todos os seus matizes. E agora aparecem muitos pés. Durmam putas. Sua longa jornada de sonhos desbotados foi exaustiva. E nada mais pode ser feito por enquanto. Acordem homens. É hora de suar mais um pouco em suas caixas de concreto e vidro. É hora de continuar o grande engano. Fazer o concerto e tentar fazer o conserto. Por uma letra escapamos ou não. Por um centímetro a bala nos pegará ou não. Andem pelas calçadas. Ali também estão seus moradores. Tentando nos lembrar o quanto não somos humanos como deveríamos ser. Estão aos montes. Tão longe e perto de nós. Escovem seus dentes e olhem no espelho meus honrados pais de família. De vocês depende a perpetuação da rotina e da incerteza. O caos lhes manda lembranças. Nunca souberam desempenhar tão bem o seu papel. Espera-lhes seu café e as novidades de sempre em letras mascaradas. O abismo também lhes manda lembranças e avisa que está logo ali. O movimento continua crescendo de todos os lados. Ajudem cada um sobreviver um pouco mais e sofrer e sonhar desiludidamente também. A camuflagem está pronta. A fantasia acabou de vir da costureira para seu uso. Olhem as vitrines com seus desejos quase sexuais. O tesão em formato de novas linhas e cores. Tudo poeticamente impoético. Insipidamente gostoso. Em caixas de papelão ou mesmo de aço. Tanto faz. É mais um dia especial como outros. Em qualquer do mundo. Com poucas opções e com vários olhares. Várias lentes com graus diversos. Os únicos sem noite ou dia ainda dormem sob as marquises que em breve cairão. Não se importe. Como num pique cada um transfere a sua vez. É só um jogo. É a sina. É a pena. É a quina. E é a sena. É o certo que deu errado. Acordem os que se atrasaram. É hora de rir e sair aos bandos mostrando as caras. Mesmo que meio amassadas. A farra é agora. Mostrar tudo que não se tem. É o vazio do bolso e o balanço do trem. É a bunda alheia. É o meio das pernas. É tudo que se quer e nada do que se tem. É o mal sorrindo para o bem. Acorda cidade. Aliás termine de acordar. Faça as honras da casa. Mostre para cada um o seu lugar. Acorda. Enquanto isso eu ainda nem fui dormir...

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