sábado, 9 de março de 2013

Meu Poema

Resultado de imagem para peter pan
Meu poema não é somente feito de versos. É feito dos restos dos sonhos que morreram. É feito das fantasias de passados carnavais que se rasgaram. É feito de luz e sombra. Folia e choro. E de planos maus e falíveis que meus olhos traíram. É feito do dia todo que morreu sem sentido algum. E da esperança que teima em não se apagar. Meu poema é cachaça. Abrigo de loucos. Solidão inquietante dos que mais nada esperam. É o milho atirado aos pombos na praça. E a moeda subtraída da fonte dos desejos. Ela espera como a noiva o grande dia. E é o paciente aflito esperando a descoberta da nova cura. É a peça sem platéia. É o Judas sem sábado de aleluia. Está no poste amarrado e ninguém lhe nota. Meu poema é surdo. Não lhe valem os avisos para que não aconteça. Meu poema é mudo. Não falará nunca mais dos amores que não teve. Meu poema é cego. Como um bicho noturno só lhe adianta a escuridão. Poema insone e maldito! Quantas vezes a tua ausência me maltratou! E quando do teu retorno é como a amante que trai e se sente bem com isso... Meu poema é conta-gotas. Invenção antiga e moderna ao mesmo tempo. Nele tudo acontece desde que não seja o provável. Os cigarros queimam no cinzeiro e os dedos tremem mesmo insensíveis diante as teclas como o inventor que teme o monstro e mesmo assim o cria. Aves cantam lá fora e o sol queima. Não há nada mais que fazer que sonhar. Mesmo que o sonho seja como um cisco no olho e não há colírio. Eu quebrei meus óculos escuros. Há uma cena lasciva cada um dos meus olhares. Há um beijo que não dei e não sei onde está. O pajé de pé fez a dança da chuva. Eu bebi no bar da esquina. Há motivos pra cena estar turva. Tem pierrot e não tem colombina. O meu poema é chato. É mórbido. É lânguido. É tentativa frustrada de parecer bonito. É malvisto. É aflito. É a última chance que não aconteceu. É torto. É o morto. É o aborto que não morreu. É a treva. É o travo. É o prego. É o cravo. É o livre. É o escravo. É o que não tive. E o que lavro. É o destino em sua sagrada ciência. É o menino e a falsa inocência. É Deus vindo dali. É o diabo vindo de lá. Quando menos se espera. Estão indo pra se abraçar. É reencontro de pai e filho. É o brilho. É o brilho. É o brilho. É o milho. É o trilho. É a placa de contramão. É o pai. É o avô. É o irmão. É a trilha da solidão. Extensão. Da loucura não abro mão. Meu poema é ilha perdida. Perdida na solidão. É vida. É sim e é não. É mapa feito à mão. É a ilha do tesouro. É o ouro. É o ouro. É o ouro. É a jóia que não se perde e não se vende. É a força e é a garra. É o canto da cigarra. Cantando até se arrebentar. E mais não dá. Meu poema é simplesmente amar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Carliniana XLIV (Tranças Imperceptíveis)

Quero deixar de trair a mim mesmo dentro desse calabouço de falsas ilusões Nada é mais absurdo do que se enganar com falsas e amenas soluçõe...