Meu
poema não é somente feito de versos. É feito dos restos dos sonhos que morreram.
É feito das fantasias de passados carnavais que se rasgaram. É feito de luz e
sombra. Folia e choro. E de planos maus e falíveis que meus olhos traíram. É
feito do dia todo que morreu sem sentido algum. E da esperança que teima em não
se apagar. Meu poema é cachaça. Abrigo de loucos. Solidão inquietante dos que
mais nada esperam. É o milho atirado aos pombos na praça. E a moeda subtraída
da fonte dos desejos. Ela espera como a noiva o grande dia. E é o paciente
aflito esperando a descoberta da nova cura. É a peça sem platéia. É o Judas sem
sábado de aleluia. Está no poste amarrado e ninguém lhe nota. Meu poema é
surdo. Não lhe valem os avisos para que não aconteça. Meu poema é mudo. Não
falará nunca mais dos amores que não teve. Meu poema é cego. Como um bicho
noturno só lhe adianta a escuridão. Poema insone e maldito! Quantas vezes a tua
ausência me maltratou! E quando do teu retorno é como a amante que trai e se
sente bem com isso... Meu poema é conta-gotas. Invenção antiga e moderna ao
mesmo tempo. Nele tudo acontece desde que não seja o provável. Os cigarros
queimam no cinzeiro e os dedos tremem mesmo insensíveis diante as teclas como o
inventor que teme o monstro e mesmo assim o cria. Aves cantam lá fora e o sol
queima. Não há nada mais que fazer que sonhar. Mesmo que o sonho seja como um
cisco no olho e não há colírio. Eu quebrei meus óculos escuros. Há uma cena
lasciva cada um dos meus olhares. Há um beijo que não dei e não sei onde está. O
pajé de pé fez a dança da chuva. Eu bebi no bar da esquina. Há motivos pra cena
estar turva. Tem pierrot e não tem colombina. O meu poema é chato. É mórbido. É
lânguido. É tentativa frustrada de parecer bonito. É malvisto. É aflito. É a
última chance que não aconteceu. É torto. É o morto. É o aborto que não morreu.
É a treva. É o travo. É o prego. É o cravo. É o livre. É o escravo. É o que não
tive. E o que lavro. É o destino em sua sagrada ciência. É o menino e a falsa
inocência. É Deus vindo dali. É o diabo vindo de lá. Quando menos se espera.
Estão indo pra se abraçar. É reencontro de pai e filho. É o brilho. É o brilho.
É o brilho. É o milho. É o trilho. É a placa de contramão. É o pai. É o avô. É
o irmão. É a trilha da solidão. Extensão. Da loucura não abro mão. Meu poema é
ilha perdida. Perdida na solidão. É vida. É sim e é não. É mapa feito à mão. É
a ilha do tesouro. É o ouro. É o ouro. É o ouro. É a jóia que não se perde e
não se vende. É a força e é a garra. É o canto da cigarra. Cantando até se
arrebentar. E mais não dá. Meu poema é simplesmente amar.
Perdido como hão de ser os pássaros na noite, eternos incógnitas... Quem sou eu? Eu sou aquele que te espreita em cada passo, em cada esquina, em cada lance, com olhos cheios de aflição... Não que eu não ria, rio e muito dos homens e suas fraquezas, suas desilusões contadas uma à uma... Leia-me e se conforma, sou a poesia...
sábado, 9 de março de 2013
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Alguns Poemetos Sem Nome N° 322
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