O mundo é
mais que uma bola redonda. É uma foto antiga. Estamos nela em inabalável pose e
não podemos sair mais. Tudo acontece. Tudo aconteceu. Mas não nos conformamos e
mesmo assim deixamos que tudo aconteça. Na verdade somos idiotas de carteira
assinada e lamentamos por aquilo que deixamos de fazer. Pare um pouco e pense.
O minuto que você se adiantou ou se atrasou mudou tudo. O que você lamenta é o
que você na verdade não queria e se arrepende amargamente até o final dos
tempos. Ouse mais. Se atreva mais. O que se ganha vale menos do que o que se
perde. O que se tentou dá mais prazer do que o veio. Sem gosto só a água. É
melhor ficar em claro a madrugada toda esperando um novo dia. Deixe que eu te
fale repetitivas histórias em que os heróis são gente como nós. Deixe que eu te
cante canções sem nexo e que servem para trazer o sono. Eu não tenho voz bonita
e nem sei fazer versos que enterneçam o coração. Mas eu canto e escrevo. Não
sou o melhor de todos e até consigo ser o pior e é enquanto sinto. Eu xingo e
tento e esbravejo e sou o que sou porque atrás disso tudo quero teu bem. Perdoe
se não me fiz entender e te causei choro. Não queria que chorasses pois de
choro já basta eu. É de noite. Cantam os bacurais que me dão medo. E eu tenho
que ir lá fora recolher a louça. É de dia. E as cigarras cantam até que morram.
E eu as gosto tanto. Umas pousaram um dia em já morto pé de laranja lima. Onde
estou? Em qualquer canto observando coisas. Não tema. Nenhum dragão consegue
queimar o sonho. E a morte é apenas um disfarce para muitas coisas. Foi ontem
mesmo que nasci. Mas o hoje me faz mais velho que antigas pedras. É tudo meio
complicado e por isso bem mais simples que pensamos. Basta um clique e lá
estamos. É um jogo de cartas sem trunfo nas mangas. É um passeio no domingo de
tarde quando há sol. Não pense duas vezes porque pensar demais tem seu preço e
só a loucura nos proporciona tesouros sem cobrar pedágio. Olhe a ponte e a
atravesse enquanto a dinamite não explode. Seja bom e tome cuidado com isso. A
bondade nem sempre é vista com bons olhos e isso afinal pouco importa. Desculpe
se eu às vezes esqueço regras gramaticais. É que as lembrando não seria mais eu
mesmo. O menino mal educado que sempre usou óculos ainda habita em mim. Mas se
houver qualquer coincidência será mera semelhança. Eu brinco com as palavras e
elas comigo. As deixo como são e como se apresentam. Não serei famoso como um
dia quis. Mas o que tenho basta. Doces já comi na calçada outro dia e eram de
dar inveja e acabaram. Muitos vultos saíram de cena e outros hão de sair. Só
não quero a solidão dos que nada têm para fazer. Há muito milho para os pombos
na praça e jogos intermináveis e não é isso que quero. Quero ainda respirar bem
mais e saber que mesmo com saudade as coisas são boas. Quero ainda brincar mais
um pouco com as palavras como quem resiste no deserto à procura de um oásis.
Ainda é tempo e ele nós que o fazemos. É o nosso o dia e cada dia repete tal
posse. Andemos e saltemos e gargalhemos sem motivo algum. Quando vier alguma
noite então estarei cansado demais para reparar nisto...
Perdido como hão de ser os pássaros na noite, eternos incógnitas... Quem sou eu? Eu sou aquele que te espreita em cada passo, em cada esquina, em cada lance, com olhos cheios de aflição... Não que eu não ria, rio e muito dos homens e suas fraquezas, suas desilusões contadas uma à uma... Leia-me e se conforma, sou a poesia...
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Alguns Poemetos Sem Nome N° 322
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