segunda-feira, 19 de março de 2018

Eu Não Tenho, Eu Tenho

Resultado de imagem para peregrino de santiago de compostela
Eu não tenho que provar nada
É só ver os meus pés
Que estão sujos do pó da estrada...

Não tenho que professar coisa alguma
Meu desejo é pesado
Mas meu amor é a mais leve pluma...

Não tenho que defender uma ideologia
Tenho que tentar ser bom
E com isto fazer a vida menos vazia...

Não tenho que apontar o meu dedo
Cada um sabe no que erra
E cada um carrega seu maior medo...

Não tenho que correr da chuva que cai
O destino é quem sabe
Os caminhos por onde é que ele vai...

Não tenho que ganhar qualquer corrida
Tenho que dar valor ao tempo
E compreender a morte e apreciar a vida...

Não tenho e nem aos menos posso desistir
De acalentar meus bons sonhos
Pelos tempos mais felizes que hão de vir...

Mas...

Tenho que aprender a sabedoria das crianças
Quando até no meio do desespero
Ainda assim acalentam suas esperanças...

Tenho que ser muito e muito simples demais
E ouvir o canto de todos os passarinhos
E a beleza que surge até nestes temporais...

Tenho que sentir dor porque tenho ternura
E essa ternura me guiará
Até no meio da noite que for mais escura...

Tenho que rir de mim até não mais poder
Porque os meus enganos
São meus e só eu é que os posso fazer...

Tenho que suportar firme qualquer solidão
Como suporta um condenado
Cinco minutos antes de sua execução...

Tenho que ser abusado e teimoso e ousado
Não ter vergonha do amor
Gritar por ele e nunca ficar calado...

Tenho enfim que contar todas estrelas
E não apenas fazer versos
Mas tentar pelo menos um dia fazê-las...

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