Eu não tenho que provar nada
É só ver os meus pés
Que estão sujos do pó da estrada...
Não tenho que professar coisa alguma
Meu desejo é pesado
Mas meu amor é a mais leve pluma...
Não tenho que defender uma ideologia
Tenho que tentar ser bom
E com isto fazer a vida menos vazia...
Não tenho que apontar o meu dedo
Cada um sabe no que erra
E cada um carrega seu maior medo...
Não tenho que correr da chuva que cai
O destino é quem sabe
Os caminhos por onde é que ele vai...
Não tenho que ganhar qualquer corrida
Tenho que dar valor ao tempo
E compreender a morte e apreciar a vida...
Não tenho e nem aos menos posso desistir
De acalentar meus bons sonhos
Pelos tempos mais felizes que hão de vir...
Mas...
Tenho que aprender a sabedoria das crianças
Quando até no meio do desespero
Ainda assim acalentam suas esperanças...
Tenho que ser muito e muito simples demais
E ouvir o canto de todos os passarinhos
E a beleza que surge até nestes temporais...
Tenho que sentir dor porque tenho ternura
E essa ternura me guiará
Até no meio da noite que for mais escura...
Tenho que rir de mim até não mais poder
Porque os meus enganos
São meus e só eu é que os posso fazer...
Tenho que suportar firme qualquer solidão
Como suporta um condenado
Cinco minutos antes de sua execução...
Tenho que ser abusado e teimoso e ousado
Não ter vergonha do amor
Gritar por ele e nunca ficar calado...
Tenho enfim que contar todas estrelas
E não apenas fazer versos
Mas tentar pelo menos um dia fazê-las...
Nenhum comentário:
Postar um comentário