segunda-feira, 1 de maio de 2023

Teoria dos Sustos

...Faces simiescas numa TV quebrada

Narcisos corredores por puro divertimento

Esse sol contribui para o nosso frio

Em décadas futuras que não viverei

Poderão brincar com minha velha poeira...

Eu sou o canto azul meio que esverdeado

De tartarugas velozes e coelhos lentos

Vendi legumes em uma feira inexistente

Enquanto trocava trocadilhos com a febre

Tudo pode ser normal enquanto o é...

Velhos pecados com alguns cínicos perdões

Em minha lida de quebrar pedras com socos

E transformar velhos camaleões em estampas

A mesma litania se repete nos mais absolutos

Monossílabos que a ternura pode me dar...

Pratos vazios com a louça suja e imóvel

Água solitária aguardando o chá das seis

Natureza-morta com algum dos fiéis caprichos

Dentro da noite não podemos ser mais nada

A não ser prostitutas itinerantes de riso fácil...

Cabelos moicanos com seu estilo perfeccionista

Enquanto guerrilheiros esquecidos dançam

O dia agora amanhece para a noite absoluta

Enquanto a distância de corações batendo

Não consegue apagar nada no papel da história...

Demorarão algumas centenas e alguns milhares 

Para que tenhamos alguns motivos para confirmar

A mais pura ciência dos loucos transmutada

Na mais pura tolice saída da boca dos sábios

Deram um jeito para que a luz não se acabasse...

Eu queria ter algum nome novo para exibir

Enquanto desconheço os arbustos e as cabanas

Tudo é aquilo que é e nunca mais de novo será 

Deixem os vitorianos arrastarem seus pés sujos

Espalhando seu algum lixo da mesma história...

Os crânios desnudos demonstram seu pavor

Enquanto o capim exibe sua rude perenidade

Na verdade todo perdedor saiu ganhando

Bananas e carvões saíram mais barato na feira

E os leões dormem serenos em seus resorts...

Maquiavel acabou tomando um pé no rabo

Enquanto os gametas tiveram um doce encontro

Explicar algo pode fazer doer-me os dedos

Toda a pilhéria agora organizada em muitas pilhas

Não satisfaz minha voracidade quase tão normal...

Onde foram parar aquelas minhas pílulas?

Banhos de assento e carrinhos de plástico sabem

O verso surdo declarou-se ao poema mudo

Enquanto os eleitos deleitavam-se com pura maldade

E as engrenagens dos abismos quase pararam...

Fiz um discurso faltando alguns vocábulos

Enquanto a multidão aplaudiu de joelhos

Arrancando os poucos cabelos que ainda possuíam

E os hospitais públicos continuam com as filas

E a normalidade queria ser tudo menos ela mesma...

Troquemos agora seis por meia dúzia e meia

E os glutões continuam comendo suas porcarias

Eis aí o que todos queriam e assim tiveram

Vamos conseguir morrer nas vésperas do indicado

E esta receita não irá conter mais susto algum...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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