segunda-feira, 1 de maio de 2023

Origem das Espécies

Talvez darwiniana, talvez não...

Minha fonte inesgotável de abcessos e ternuras

Madeixas corridas de um bom disfarce

O tesão da jovem mãe apenas aparente...

Talvez darwiniana, talvez não...

A farsa de saudáveis comerciais de margarina

Enquanto o estereótipo abjeto de machos

Escondem uma ternura inaceitável...

Talvez darwiniana, talvez não...

Mãos trêmulas pelo consumo etílico

Enquanto é descoberto que a porta de saída

Vai dar em um abismo bem pior ainda...

Talvez darwiniana, talvez não...

Poesia de pandeiros inocentes e fatais

Que cobrem de luto nosso tédio tóxico e letal

E eu não sei mais que palavras escolher...

Talvez darwiniana, talvez não...

A mediocridade usa seu mimetismo

Enquanto escolho aquilo que não gostarei

Para que seja aplaudido ontem mesmo...

Talvez darwiniana, talvez não...

A cobra de duas cabeças cospe podres elogios

Campeão de todas derrotas possíveis

Rouba sujamente num jogo sórdido...

Talvez darwiniana, talvez não...

Guerreiros matam assim calmamente com chips

Nossa solidão agora é social

E a boca se cala por fiel obrigação...

Talvez darwiniana, talvez não...

Estou totalmente nu vestido com roupas da moda

Talvez alcance meu diploma de idiota

A tempo de ir passar férias no inferno...

Talvez darwiniana, talvez não...

Falta-me insones malabarismos para arranjos

E ainda tento em vão olhar no espelho

Tentando achar o primata que há em mim...

Talvez darwiniana, talvez não...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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