E acaba marcado com aquela marca de ignomínia
Engula tudo, tempo, não deixe nada sobrar no prato...
Rugas no rosto da velha que criança em desespero
Pois o destino treinou sua mira e tem boa pontaria...
Há coisas que gostei e mesmo assim não mais verei
E antes não tivesse visto tais e mais ainda - saudade...
Morreram os poetas, foram embora os saltimbancos,
A cor viva acabou desbotada em todas as paredes...
As marcas evidentes de velhas modas tão ultrapassadas
Agora provoca risos em todos os que passam nas ruas...
O capricho de todo afã de nada mais adiantou,
Brinquedos quebrados e esqueletos são bem parecidos...
A menina de ontem, aquela mesma com sua boneca,
Agora espera calmamente ansiosa o dia de visitas no asilo...
Os que mandavam no mundo jogam damas na praça
Enquanto o rebelde de ontem suspira pelos dias idos...
Os sapatos estão furados por culpa do caminho,
Os copos são enchidos e vazios pela cachaça do amanhã...
Que amanhã é esse que acaba nos dando nos nervos
Como um filme de terror que não entendemos o enredo?
Que hoje é esse que veio com aquele defeito de fábrica
Como se o adolescente tivesse tido aquele AVC?
Que ontem é esse que nos deu um boxe direto na cara
E riu do nosso nocaute sendo aplaudido pela multidão?
A comida caprichada acabou ficando azeda
E o carnaval foi interrompido por uma súbita chuva...
Toda fatalidade é a perfeição mais do que cruel
E mesmos ditadores sanguinários foram para o site...
O rei do morro tombou pelo mesmo metal frio,
Carrasco e carpideiras também precisam comer...
Abram alas, por favor, deixem-no passar,
O grande esfomeado vem aí com sua boca bem aberta...
(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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