domingo, 7 de maio de 2023

Pro Omnibus

E acaba marcado com aquela marca de ignomínia

Engula tudo, tempo, não deixe nada sobrar no prato...

Rugas no rosto da velha que criança em desespero

Pois o destino treinou sua mira e tem boa pontaria...

Há coisas que gostei e mesmo assim não mais verei

E antes não tivesse visto tais e mais ainda - saudade...

Morreram os poetas, foram embora os saltimbancos,

A cor viva acabou desbotada em todas as paredes...

As marcas evidentes de velhas modas tão ultrapassadas

Agora provoca risos em todos os que passam nas ruas...

O capricho de todo afã de nada mais adiantou,

Brinquedos quebrados e esqueletos são bem parecidos...

A menina de ontem, aquela mesma com sua boneca,

Agora espera calmamente ansiosa o dia de visitas no asilo...

Os que mandavam no mundo jogam damas na praça

Enquanto o rebelde de ontem suspira pelos dias idos...

Os sapatos estão furados por culpa do caminho,

Os copos são enchidos e vazios pela cachaça do amanhã...

Que amanhã é esse que acaba nos dando nos nervos

Como um filme de terror que não entendemos o enredo?

Que hoje é esse que veio com aquele defeito de fábrica

Como se o adolescente tivesse tido aquele AVC?

Que ontem é esse que nos deu um boxe direto na cara

E riu do nosso nocaute sendo aplaudido pela multidão?

A comida caprichada acabou ficando azeda

E o carnaval foi interrompido por uma súbita chuva...

Toda fatalidade é a perfeição mais do que cruel

E mesmos ditadores sanguinários foram para o site...

O rei do morro tombou pelo mesmo metal frio,

Carrasco e carpideiras também precisam comer...

Abram alas, por favor, deixem-no passar,

O grande esfomeado vem aí com sua boca bem aberta...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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