terça-feira, 30 de maio de 2023

Explicando Nada

 

A lata de sorvete enferrujou na geladeira

Acontece quando existe certa maldade...

Fazer alguém chorar da mais pura aflição

É bem mais fácil do que rir sem motivo...

Cada verdade é a mais mentirosa possível

E um pecado vale mais que mil virtudes...

Confesso ter matado os pintos de minha tia

E fiz do monte de tijolos um belo cemitério...

Andei solitário sobre solitária linha de trem

E agora comerei esse doce estando só...

Uma metade de mim não está valendo nada

E outra metade não vale uma coisa alguma...

Qualquer prato velho serve para ser pandeiro

E qualquer dúvida para uma nova confusão...

Queremos ser o mais antigo dos modernos

Cada chance de adultério é sempre vinda...

Uma ida na clínica de cadeira sob a chuva

É mais preciosa que inúmeros tapetes persas...

Passeio com pés desnudos sobre brasas quentes

Enquanto xingar em yoruba ainda é da moda...

Vermelho é a cor que escolhi para meu luto

Enquanto os gatos contam sardinhas em jejum...

A minha primeira vítima teria sido o acaso

 Enquanto alguns abscessos teriam me visitado...

Os velhos quase não lembram de mais nada

Enquanto os moços teimam em não mais lembrar...

Todo deleite tem seu preço em muitas moedas

E cada paraíso começou não mais dando certo...

Tone morreu assim como morremos todos nós

E nem haverá algum luto no outro dia seguinte...

Cada palavra é uma estrela que eu cuspirei

Enquanto cato papéis de bala para o almoço...

Tenho apenas mais uma sugestão plausível

Esqueçam toda a plausibilidade que possam ter...

Um livro é apenas alguns cadáveres de árvores

E a repetição da cena é o que mais a eterniza...

Só usarei as letras que não mais conheço

E a sua piedade acabou de salvar a sua alma...

Quase todos os dias eu amanheço chorando

E minha tristeza me convida para ir ao telhado...

Os sapos nunca tiveram nada contra as moscas

Assim como a lentidão dos caracóis sua pressa...

Eu borrifo poções mágicas pelo ar em volta

Mesmo que tudo desapareça num estalar de dedos...

Em minha pobreza desconheço o que é a falta

Ainda sobra alguma esperança depois da bomba...

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Poesia Gráfica LXXXVI

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