sexta-feira, 5 de maio de 2023

Nem Divino, Nem Maravilhoso

 

O cão arrasta seu rabo pelo asfalto

Enquanto alguém grita: - Mãos ao alto!

E vai embora aquele celular que não foi pago

E eu tomo um trago e quase que me cago...

Maldita coxinha comida naquele boteco sujo,

Maldito o cujo dito e o dito cujo,

Maldita hora que eu emprestei dinheiro,

Que passei mal e vomitei no banheiro...

E aquele trem se atrasou novamente

E me sinto com a minha alma doente...

Essa minha comida já chegou fria,

A porra da geladeira lá de casa tá vazia,

Acho que eu não como desde de anteontem,

Quem tiver mais coragem que afrontem,

Tem muito babaca por aí sem noção,

Se eu quero escutar mentira ligo a televisão,

Eu acabo rindo e não acho nada engraçado,

Minha roupa tá velha e meu sapato furado...

Qualquer hora dessa eu deito em cima da mesa,

A vida só tem susto, nem tem surpresa,

Esse cheiro de merda quase que me sufoca,

A desgraçada da vizinhança só faz fofoca...

O carro acabou derrapando na pista molhada,

Cada dia vivido é apenas mais uma porrada,

Todo segundo respirado é um novo perigo,

O meu pior inimigo até ontem era meu amigo,

Toda beleza é apenas mais um teatro,

Tudo que já aconteceu me deixou de quatro,

Eu não sei mais se sou algum tipo de animal,

Vivo juntando meus trocados até o próximo carnaval,

Esse papo de alegria se acabou faz tempo,

Já estou tão fraco que não aguento um vento,

Todo humano é em potencial um criminoso,

Não existe mais nem divino, nem maravilhoso...


(Extraído do livro "Só Malditos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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