quarta-feira, 3 de maio de 2023

Até Desespero

Esperar num desespero preguiçoso

Tantas vezes contando nos dedos

Como num ritual que se espera escapar...

Tão sem graça esses dias de hoje

Qual algumas fotos que antigas

Foram esquecidas de uma exposição...

Eu vou rir apenas por hábito

Como fazem as pobres hienas

Expostas num velho zoológico...

A minha ladeira da memória

Reproduz alguns tombos homéricos

Mesmo sabendo que até foi bom...

O espetáculo consistia simplesmente

Em pequenos desenhos de fósforos

Em curvas paralelas e universais...

Meus dedos agora apontam o nada

Meus pés percorrem a toda feira

E minha alma recusa a imortalidade...

Eu guardo pontas de velhos cigarros

Para uma posterioridade mais triste

Onde hei de chorar pelos cantos...

Nuvens cinzas com gosto de dropes de anis

Poemas sem motivo e alguma teima

Escadas de Jacó sem Jacó algum...

A medalha já caiu do meu bolso

E as esquinas perderam o encanto

Como serpentes que não têm veneno...

Não há mais bolos e nem crochês

E como um peregrino sem motivo

Vou encenando esta minha farsa...

Realmente nada é realmente o que é

Enquanto brincamos de flexões verbais

E engolimos algumas flores sem nome...

O falecido interrompeu seu funeral

Acabou de se lembrar que errou

E ainda não é hora de ir embora...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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Poesia Gráfica LXXXVI

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