Esperar num desespero preguiçoso
Tantas vezes contando nos dedos
Como num ritual que se espera escapar...
Tão sem graça esses dias de hoje
Qual algumas fotos que antigas
Foram esquecidas de uma exposição...
Eu vou rir apenas por hábito
Como fazem as pobres hienas
Expostas num velho zoológico...
A minha ladeira da memória
Reproduz alguns tombos homéricos
Mesmo sabendo que até foi bom...
O espetáculo consistia simplesmente
Em pequenos desenhos de fósforos
Em curvas paralelas e universais...
Meus dedos agora apontam o nada
Meus pés percorrem a toda feira
E minha alma recusa a imortalidade...
Eu guardo pontas de velhos cigarros
Para uma posterioridade mais triste
Onde hei de chorar pelos cantos...
Nuvens cinzas com gosto de dropes de anis
Poemas sem motivo e alguma teima
Escadas de Jacó sem Jacó algum...
A medalha já caiu do meu bolso
E as esquinas perderam o encanto
Como serpentes que não têm veneno...
Não há mais bolos e nem crochês
E como um peregrino sem motivo
Vou encenando esta minha farsa...
Realmente nada é realmente o que é
Enquanto brincamos de flexões verbais
E engolimos algumas flores sem nome...
O falecido interrompeu seu funeral
Acabou de se lembrar que errou
E ainda não é hora de ir embora...
(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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