sexta-feira, 5 de maio de 2023

SangueAsfalto

 

O cheiro de urina velha na Rodoviária

Debaixo da passarela que atravessa

Para um outro lado da ferrovia...


O que sentimos?

Que as regras foram estilhaçadas feito vidros

Independente de todas as manhãs!


A visão insuportável do banheiro químico

Ensinando velhas lições não-aprendidas

Toda civilização é um pedaço do Inferno...


O que sentimos?

Que a nossa liberdade é uma simples mentira

E todas as necessidades nos mandam!


Os camelôs todos tontos que nem baratas

Em sua pressa louca de sobreviverem

Como se isso fosse algo que compensa...


O que sentimos?

Um frio que nos sobe até a espinha

Mesmo em dias quentes em que estamos...


A jovem prostituta come seu hot-dog

Enquanto meninos sujos ficam brincando

Como se a rua fosse um grande jardim...


O que sentimos?

Que estamos errados desde o começo

E que a poeira do tempo nunca nos abrigou...


Os pedintes estendem suas mãos sujas

Enquanto os passageiros fazem filas

Para irem de um inferno para outro...


O que sentimos?

Que a morfina acabou dando certo

E nenhuma dor alheia será mais nossa...


O morto aguarda tranquilo quem levará

E seu coberto negro de plástico o protege

Da passeata de moscas em sua cara...


O que sentimos?

Um desespero que deita na cama velha

E junto conosco dorme até o dia seguinte...


E a poesia permanece calado em seu canto...

Agora há tanto sangue tingindo o asfalto...

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