O cheiro de urina velha na Rodoviária
Debaixo da passarela que atravessa
Para um outro lado da ferrovia...
O que sentimos?
Que as regras foram estilhaçadas feito vidros
Independente de todas as manhãs!
A visão insuportável do banheiro químico
Ensinando velhas lições não-aprendidas
Toda civilização é um pedaço do Inferno...
O que sentimos?
Que a nossa liberdade é uma simples mentira
E todas as necessidades nos mandam!
Os camelôs todos tontos que nem baratas
Em sua pressa louca de sobreviverem
Como se isso fosse algo que compensa...
O que sentimos?
Um frio que nos sobe até a espinha
Mesmo em dias quentes em que estamos...
A jovem prostituta come seu hot-dog
Enquanto meninos sujos ficam brincando
Como se a rua fosse um grande jardim...
O que sentimos?
Que estamos errados desde o começo
E que a poeira do tempo nunca nos abrigou...
Os pedintes estendem suas mãos sujas
Enquanto os passageiros fazem filas
Para irem de um inferno para outro...
O que sentimos?
Que a morfina acabou dando certo
E nenhuma dor alheia será mais nossa...
O morto aguarda tranquilo quem levará
E seu coberto negro de plástico o protege
Da passeata de moscas em sua cara...
O que sentimos?
Um desespero que deita na cama velha
E junto conosco dorme até o dia seguinte...
E a poesia permanece calado em seu canto...
Agora há tanto sangue tingindo o asfalto...
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