domingo, 31 de março de 2013

Vamos Parar de Velhas Mentiras


Vamos parar de velhas mentiras. Eu sei que há quem as prefira. Mas somos de um outro tempo. Não há mais espaço para choros. E os reis mal encarados em seus castelos de cartas já foram embora. O tempo é outro. É um tempo sem tempo. Em que necessidades urgentes batem em nossa porta. O tempo é hoje. E se guardamos saudades de ontem que fiquem em nossos corações. E se tivermos saudades de amanhã que fiquem em nossas mentes. As flores morrem e os jardins ficam vazios. As águas secam e não poderemos fazermos mais aqueles rituais. Chega. Não há mais tempo dos palhaços estarem na platéia. O espetáculo se acabou e apagaram as luzes no picadeiro. Não há mais fantasias. O carnaval se acabou e as fantasias estão guardadas no fundo do baú. Somos agora nós mesmos sem as máscaras que um dia nos guardaram. Não precisamos mais de idéias. Precisamos de homens. De seres humanos de carne e osso e sonhos. Porque sem sonhos o perigo se aproxima e acaba se instalando. Não precisamos de lados. Nem de ideologias que confundem e não esclarecem. Precisamos de mãos que construam e pés que caminhem. A lógica não é absurda nem a bondade é incoerente. Tudo é muito simples e por isso bom. Não compliquemos as coisas. A felicidade nos espera em quaisquer horas e horas não são boas ou ruins e apenas são. Fechemos olhos apenas quando sonharmos e nunca mais deixemos que os lobos ataquem. É tempo das ovelhas desde que elas também possuam seus guardiões. Nunca mais duvidemos dos tempos melhores. Nem de nossa própria capacidade de amar. Não vamos discutir de que imagens somos feitos. Mesmo porque discussões dessa natureza já oprimiram e fizeram chorar. Mas façamos o melhor que pudermos para sermos o que há de melhor. Os países companheiros de uma jornada sem fim e a terra uma grande família de seres. Vamos parar de velhas mentiras. O amanhã não é o final. É apenas o começo de novos e belos dias.

Revolução da Esperança


Como os loucos
Ou mais um pouco
Dançaremos na praça
E tudo passa
Passa até a certeza
Soltem a presa
O passarinho voa
Livre à toa
E sorrir de ternura
Enquanto dura
O ar em volta
Tudo é revolta
Façamos uma guerra
Pela mãe-terra
Sem armas com flores
O fim das dores
De regras inventadas
Vãs e exageradas
Cada um no seu lugar
Com seu cantar
Esse é o jeito
Tudo é perfeito
É nossa sorte
Que não há morte
É só não dormir no ponto
Que já está pronto
Os sinos vão tocando
Estão chamando
Cada um e sua parte
O resto é arte
Cadê a minha ciranda?
Ninguém me manda
Quero dormir
Nem estou aí
Tenho muito que fazer
Quando eu crescer
Acenda mais uma vela
Para a novela
Eu quero um saideira
Tchau carpideira
Desculpe aí o mau jeito
Não sou perfeito
Não é que provoque
Só dei um toque
Por isso que vim
Nesse jardim
Com flores tão belas
Verde e amarelas
Como as tais margaridas
Tão decididas
E fale quem quiser
Então até...

sábado, 30 de março de 2013

Abstrato Porém Concreto


Por favor me dê um tempo. As andorinhas ainda não chegaram ao estacionamento para fazerem seu dever de casa. A hora já passou em muitas vezes. E mesmo que não passassem há férias que a história ainda foi capaz de digerir. É certo que agora nesse exato momento os dons brotam no chão como modas de viola. Sim. E quantas mais preciso forem. Ando tão distraído e ao mesmo tempo atento. Atento para as particularidades que não importam e no entanto dão mais graça ao ar. São como palavras enferrujadas pela falta de uso retiradas de uma gaveta. É o som de vídeos antigos. E a certeza do ontem me deixa magoado. Surge então a questão da natureza e do número de tão amores que quase tive numa quase época em um quase lugar. É uma estimativa. Só isso. Tantos quantos foram os tiros que dei e acabei me ferindo. Tenham pena de mim. Não existem tantos cigarros e cafés para suportar tal martírio. E assim faltarão apaixonados suspiros em oferta no mercado. Tenham pena de mim. Esperei tanto tempo por alguma coisa e inverteram letras. Sou apenas um observador de meu próprio incêndio. E minhas carnes se consomem até o ponto certo. Deitar é apenas um detalhe. Assim como são os risos sem motivos ou as partidas intermináveis de baralho. A pomba da paz tinha outro compromisso e os urubus são prestativos vizinhos. Os girassóis estão mudos hoje se recusando a falar sobre tais indagações. Talvez em outra ocasião quando borboletas declamarem poemas parnasianos ou fizerem libações extremas. O tempo não está muito bom nem para as necessidades mais básicas. Se me perguntarem quais responderei apenas se tiver salvo-conduto. Não fui que derrubei a muralha da China e nem a crença do Imperador. Era muito tempo para que ficasse a solidão suspensa no ar. Era impossível tantos segredos num só copo. E ainda assim ter tempo de escolher caminhos. Aprendi com a sabedoria dos gatos que só o imprevisível reconhece ordens de comando. E mesmo assim apenas na descida de íngremes ladeiras. Porque elas estão lá. Esperando torrentes de chuva fina que ajudem a decorar as quedas. E quedas são semelhantes em tudo. Menos no choro. É o monstro e sua criação. O médico saindo dos restos de putrefatos cadáveres. E aterrorizando os aldeões em dia de decisão de campeonato. Esqueçamos isso. Nada pode nos separar do ridículo mais bem planejado que seja. O medo não apavora. O ridículo sim. Por este motivo mandei fazer sapatos de cristal por pura inveja. Nada mais atual e ao mesmo tempo eterno. Toda hora chegam notícias que não aconteceram. Vamos ler pelo menos. É bom saber que o coletivo funciona mesmo que seja ao avesso. Tanto faz esbravejar ou soltar balões. Fogueiras acesas são para a extinção. E normas são normais demais. A coerência é um espinho no pé e a sensatez um copo cheio até a boca. A ciência é um brinquedo quebrado e a razão o último convidado que não quer ir embora da festa. Nós também insistimos em transformar o sagrado em profano e vive-versa. É quase tão bom com o cheiro de cinema. Ou reparar em diversas mãos à procura de segredos. O chá das cinco ou o café da tarde. E os embrulhos caprichosamente feitos em papel de pão ou paninhos bordados. Não há mais canto do galo nem duendes indagando se o homem realmente foi na lua. As pipas agora descansam. Mas não possuem a esperança da próxima temporada. Eu dispenso apresentações. As dores vêm até mim e simples. Só não sei ainda qual delas convidarei para um passeio de barco ou um bailado cigano. É difícil escolher entre o que não se quer. Fui pego de surpresa com uma nova cor. E as reclamações das antigas sobre a minha depressão. As neves de Natal são de algodão e os foguetes da NASA acesos por um pavio. Vejam a ignorância com bons olhos. A sua simpatia pode acontecer. O circo está chegando à cidade. E o espetáculo já vai começar. A vida está insistindo mais e mais uma vez. E devemos compreender seu esforço para não decepcionar a morte. Deixar que os mortos se enterrem é perder o melhor da festa. Rosas azuis e passarinhos verdes. Nihil obstat. Imprimatur. Eu gasto tudo o que tem na carteira. Comprando monumentos antigos e mentiras novas. Porque mentiras velhas saíram de moda. Eu sou um homem do meu tempo. Dum tempo sem tempo e com saudade. Eu olho no espelho a procura de um motivo para me mirar. E ainda vejo casas futuristas de papelão e roupas de papel-alumínio. O mínimo que podemos fazer. Os monstros cansaram de ser vilões. Seja quem quiser ou puder ou for designado para tal cargo. E os gênios estão com preguiça de sair da lâmpada. São milhões de respostas para nenhuma pergunta. E ainda um pouco mais ou não. Dependendo do gosto do freguês. E da violência das quartas e quintas na parte da tarde quando chover ou ventar. É que o próprio condenado aperta o gatilho. Enquanto o senhor ministro toma importantes decisões sobre o que não se fazer na hora de maiores tempestades. No momento faltam flores de plástico para plantar no jardim.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Palavras Modernas 3


As palavras envelheceram
Os rostos envelheceram

Inveja do tédio

Raiva na aflição
Doença sem remédio
Apatia do coração
Estrada e prédio
Manhã de escuridão

As palavras envelheceram

Os rostos envelheceram

Pena do ódio

Sincera comoção
Açúcar e sódio
Ânsia da questão
Acorde monocórdio
Sótão e porão

As palavras envelheceram

Os rostos envelheceram

Fatos sem data

Terrível premonição
Alegria barata
Depois do dia de cão
Incêndio na mata
Pobre do meu pulmão

As palavras envelheceram

Os rostos envelheceram

Morre mas acontece

Perda da razão
Balela de uma prece
Trilha de exaustão
Morro que desce
Samba exaltação

As palavras envelheceram

Os rostos envelheceram

Fraqueza do forte

Signo de Salomão
Espanto da morte
Preço da solidão
Ventos vindos do norte
Montanhas do Afeganistão

As palavras envelheceram

Os rostos envelheceram

Duelos modernos

Dia sim dia não
Pastas e ternos
Tomada de indecisão
Novos infernos
Palma da minha mão

As palavras envelheceram

Os rostos envelheceram

Pano que cai

Clara extensão
Carro que vai
Direto na contramão
Pedidos ao Pai
Queda e escoriação

As palavras envelheceram

Os rostos envelheceram
Só os sons se renovaram...

Política


O meu não é o teu interesse
Até que ele o seja
Estamos lutando em lados opostos
Até que venha a cerveja
Temos convicções verdadeiras
Lutamos até a morte
É a direita o centro e a esquerda
Até que mude a sorte
E como fosse a nova moda
Depende da estação
É como um cabo de guerra
Viva a Corrupção!
Cada detalhe é bem cuidado
Capriche na maquiagem
Tapinhas beijos apertos de mão
E a mesma sacanagem
Tem o Campeonato na TV
Falta professor na escola
Eis o novo Salvador da Pátria
Trazendo o bolsa-esmola
Vamos esconder o rabo do gato
Pra ninguém poder pisar
Apesar de toda interrogação
Que fica suspensa no ar
Novos cartazes pelas paredes
Cada figura é repetida
Matar e roubar e destruir
É a vida! É a vida! É a vida!...

quinta-feira, 28 de março de 2013

The Art of The Paint - Desenhos do Poeta




Fig. 1 - À Espera do Pássaro


Fig, 2 - A Flor Morta e A Cerca


Fig. 3 - Ao Caçador de Pipas

Fig. 4 - Arlequino e O Copo


Fig. 5 - Calçada da Minha Infância


Fig. 6 - A Comunhão 1



Fig. 7 - Crônica Desesperada


Fig. 8 - E Toda Lágrima Será Seca



Fig. 9 - Mar Revolto


Fig. 10 - O Descanso do Caçador



Fig. 11 - Teoria Atômica

Fog. 12 - O Absoluto Relativo


Fig. 13 - Pássaro Azul e A Lua


Fig. 14 - Nós, Celebres Desconhecidos Na Solidão


Fig. 15 - A Lágrima de Pablo

Fig. 16 - Verdades e Mentiras


Fig. 17 - Cerimônia de Purificação


Fig. 18 - Papagaio


Fig. 19 - O Pulo, O Salto


Fig. 20 - Dissidência


Fig. 21 - Pássaro no Labirinto


Fig. 22 - Ri de Palhaço


Fig. 23 - É Por Ali


Fig. 24 - Nem Sempre É o Pássaro

Aplausos, Senhores, Aplausos!


Aplausos, senhores, aplausos!
O poeta é um narcisista disfarçado de louco
Que não sabe cantar e nem pintar
Por isso faz um canto de novas cores...
Aplausos, senhores, aplausos!
O poeta é um ator destituído de movimento
E esta espera presa em suas palavras
O faz um demônio em eternos labirintos...
Aplausos, senhores, aplausos!
O poeta precisa quem leiam seus poemas
E lhe digam quanto é bom ou ruim
E se é uma grande estrela ou um grande idiota...
Aplausos, senhores, aplausos!
O poeta quer ser ignorado pelas ruas
Como todos os solitários sempre serão
Mas quer ser lembrado eternamente pelo tempo...
Aplausos, senhores, aplausos!
O poeta vê o mundo como um grande farsa
Onde arlequins e pierrots e colombinas
Desfilam na rotina de todos os olhos...
Aplausos, senhores, aplausos!
O poeta sabe como e quanto é vã a espera
Porque nada possui a exatidão dos números
Quando probabilidade é uma palavra sem sentido...
Aplausos, senhores, aplausos!
O poeta quer de qualquer maneira
Em qualquer tempo que for
Mesmo quando sente o doce perfume da mentira...
Aplausos, senhores, aplausos!
O poeta faz cenas mais vulgares
E tem as vontades mais mesquinhas
Porque quanto mais humano estranho é...
Aplausos, senhores, aplausos!
O poeta tenta enganar a todos
E acaba enganando a si mesmo
Quando diz que já acabou o sonho...
Aplausos, senhores, aplausos!
E finalmente esse mesmo poeta
Corre em desespero pela vida
Mas o que quer é mesmo ser seguido...
Aplausos, senhores, aplausos!
Batam palmas de pé e assoviem
Quero que meu espetáculo comece
E termine com pelo menos um adeus...
Aplausos, senhores, aplausos!

quarta-feira, 27 de março de 2013

Terceiros

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Em estado de completa afonia
Falta-me o ar falta-me o dia
E a noite é serena e é fria

Eu queria visitar todos os países

Eu queria evitar todas as crises
Eu queria inventar planos felizes

A dor é amiga mas não perdoa

Respirar pode ser gastar ar à toa
Tentar amar nunca foi uma boa

Vivemos em constante sobressalto

Olhando as bombas vindo do alto
Más notícias chegando do Planalto

Às vezes o sono vem pra ajudar

E eu paro logo o meu cantar
Como se fosse tudo o fundo do mar

Esqueçamos pois esta reticência

Queremos de volta nossa inocência
Se não tiver serve a incoerência

Os espelhos cada vez mais reluzentes

Vão nos mostrando coisas diferentes
Todos nós estamos tão doentes

Vivemos rindo de nossas piadas

De nossos erros de nossas mancadas
De coisas certas e de coisas erradas

Alô aqui quem fala é da terra

Bom cabrito às vezes também berra
Mais acerta quem mais erra

É assim mesmo é assim a vida

A trama de ontem já foi esquecida
Era uma história muito comprida

Faltam vagas nos manicômios

Faltam pragas para os Febrônios
Mas sobram sobras destes hormônios

Há muita oração muito mais desejo

Nem fala dos coisas que ainda vejo
É o velho ditado: pão pão queijo queijo

Quantas vezes virá outra decepção?

Tudo é metade sim tudo é metade não
É metade certeza metade hesitação

Há muitos seus e há muitos meus

Que falem logo estes fariseus
E sem mais até logo e adeus...

terça-feira, 26 de março de 2013

Teoria do Conceito


Quantos números necessários forem. E o que mais precisar. Tudo detalhadamente arrumado em serenas prateleiras. Eram dias e dias em segundos contados. Sem que necessário seja algum eletrônico cérebro. A natureza de detalhes quase que inconfundíveis. Quem entenderá tudo se nada pára em qualquer lugar? Só a visão tem como dizer alguma coisa desde que não seja enganada. Os outros sentidos padecem e não reclamam por isso. Por que reclamarão? Nem sempre os mesmo caminhos apresentam cores iguais. Mas as águas obedecem a programas pré-definidos. Mesmo se os vírus dançam algum passo de funk. E as tendências da moda atual são suicidas. É o que tivemos. É o que temos. É o que teremos. Foram alguns recortes de jornal que guardamos na carteira. E depois esquecemos onde está. É um quebra-cabeças sem peças. Entre linhas de todas as naturezas e gostos. Todos os gastos e nenhuma conta. Todos os gostos e nenhuma ponta. Salvemos textos em branco enquanto podemos. É nisto que resulta alguma coisa quando muito. Ou nada. Dependendo dos óculos que usamos. De grau quando dormimos. Ou escuros se o tempo está feio. A matemática funcionando às avessas. Só quando não queremos algo corre perfeito. Ou pelo menos nem notamos. Porque as distrações mais sérias são ainda. E a grande comédia é a vida em todas as suas estações. Podemos ou não dependendo de disponíveis margaridas. Ou de indecisos cravos. Nós que o digamos. Ou não. Dependendo do idioma nativo. É a esperança em opacos espelhos. E palavras-cruzadas já decoradas desde muito. Todos os pronomes que se possam oferecer em sacrifício a todos os deuses. E mais seres que possam povoar o impovoável. Goya e suas lúcidas alucinações. Estamos num grande atelier. E todos os esboços estão à mostra. Antes mesmo que tudo seja exposto. Diárias exposições entre o fim e o começo de qualquer coisa que seja. Nada é diferente sem olhos. Ou de muitos deles. E afinal de contas o que mais se pode querer? É o teto e chão no mesmo nível. Nivelados pela mais sábia arquitetura. Entre heróis de quadrinhos e índios do Xingu. Tudo maciço e etéreo em anotações antigas de modernos alquimistas. Os alquimistas não estão chegando. Já estavam aqui há muito tempo. Eram os mesmos que tentavam suportar grandes doses de rotina. E tomavam cafés pelos muitos bares de cada cidade. É o mesmo sim. É à esmo sim. É o Oscar de melhor non sense do ano. Não pense. Só dance. Em inglês para poder ficar mais bonito. As capas esvoaçam enquanto os cavaleiros vão para a guerra. É tudo que se pode fazer. Novas cruzadas e originais sambas-enredo. Apareceremos na tela nas tardes de domingo. Tudo invertido para que normal seja.

Ciranda


Nós vamos todos girando
Até tontear e tontear
Num dia estávamos amando
E no outro a chorar
Num dia somos o rei
No outro o menestrel
Em terras onde não sei
Ou a caminho do céu

Nós vamos todos girando
Até tontear e tontear
Num dia estávamos brincando
E no outro faltou o ar
Num dia somos crianças
No outro envelhecemos
Com mil e uma esperanças
E logo após nós morremos

Nós vamos todos girando
Até tontear e tontear
Num dia vamos louvando
E no outro só a blasfemar
Num dia somos valentes
No outro meros covardes
São nossas as noites quentes
Mas também as frias tardes

Nós vamos todos girando
Até tontear e tontear
Num dia estamos cantando
E no outro pedimos pra se calar
Num dia estamos fadados
Apenas a ser felizes
No outro somos soldados
Cobertos de cicatrizes

Nós vamos todos girando
Até tontear e tontear
Num dia estamos pensando
E no outro nem podemos andar
Num dia somos atores
E no outro a platéia animada
Estamos cheios de cores
E no outro não temos nada

Nós vamos todos girando
Até tontear e tontear
Num dia estamos dançando
E no outro nem podemos dançar
Num dia somos o rei
No outro somos peões
Num dia dentro da lei
E no outro somos vilões

Nós vamos todos girando
Até tontear e tontear e tontear...

segunda-feira, 25 de março de 2013

Outros Quase Haikais


Em meio à uma densa floresta
Leões e outros bichos
Filosofam sobre os humanos erros

As cores que vejo se misturam

E assim um novo quadro
É feito dentro de meu próprio olhar

Contaram-me várias e incertas histórias

Para que não acreditasse
Nas outras que vivi e que senti um dia

Pobre de quem vive nesta mesma rotina

De acreditar sempre
Que além da tela existem coisas novas

O sol e a lua dançam sua cirando

Enquanto o vento
Fica calado em mais sérias decisões

Há um gato dormindo sobre o muro

No calor da manhã sonha
Onde serão suas distantes terras?

No amor todos os gestos são extremos

E mesmo inesperadamente
Aparecem cantos em todos os cantos

O vento brinca sempre e sempre 

E exímio músico
Faz folhas e águas dançarem

Solene como deveria ser

O sacerdote joga
As moedas que usa no oráculo

Pelas ruas daquele bairro antigo

Entre sobrados e vielas
Os meninos riem do tempo apressado

As grandes escadas com seus perigos

São apenas escorregas
Nos sonhos que me acompanham

Escutando músicas que não entendo

Passa-se estas figuras
E sentir saudade já não dói tanto

Tristeza e alegria andam sempre juntas

O tempo todo
Mas a felicidade esqueceu do encontro

A Vida Ia


A vida ia como todas as outras
Entre a incertidão e a certeza
Ia como todos os enganos
Que acabamos nos acostumando
Ia como um jardim sem flores
Mas que mesmo assim o sol brilha
A vida ia com suas cores desbotadas
Como paredes esquecidas há muito
Ia como aqueles carros antigos
Rodando em dias de triste chuva
Ia como o amante desvairado
Que nunca viu seu amor
A vida ia com sua densa fumaça
Tal qual todos os cigarros que fumei
Ia como as noites sem sono
Em que andei por entre a angústia
Ia como um animal noturno
Se resguardando entre as sombras
A vida ia como um grande circo
Em suas sucessivas apresentações
Ia como uma natureza-morta
Dividida entre borboletas e mariposas
Ia como a combustão espontânea
De uma grande e fútil fogueira
A vida ia como uma roda-gigante
Num insondável e bonito céu lá de cima
Ia como um carnaval sem choro
Imortalizado em queridas lembranças
Ia ao mesmo tempo começo e fim
Entre o que se fala e o que se vê
A vida ia e ia e ia
E nós sentados bem aqui...

sexta-feira, 22 de março de 2013

Mais Teatros


Mais teatros
Mais que o meu e o seu
Quantos deles
E pouca gente que percebeu
Outras caras
Poema de bem e mal
Outras terras
Ou o fundo do meu quintal
Outras cores
Sem nomes para dizer
Outras dores
Como acreditar e não crer
Todos os dias
Cantando qualquer canção
Não importa
Se é letra ou se é pão
Quem diria
Apareceu novidade nova
E a contagem 
É apenas uma prova
Carpem todos
Mais carpideiras bem mais
É a guerra
Procurando seus dias de paz
Mais piadas
Quando quase tudo é pilhéria
Cada um sonho
Pode ser a coisa mais séria
O que é o mundo
O mundo mais que uma bola
E a mágica
É no fundo de nossa cartola
Eu queria
E esse querer vai entretendo
E dói bem mais
As coisas que não estou vendo
É tanta coisa
E eu não sei o que comer
Eu sou todos
E ninguém a mim pode ser
Aperte a tecla
Salve o que puder salvar
Fui pra Marte
Espere logo eu vou voltar
Fui logo ali
Talvez volte em dez mil anos
Foram embora
Com as dores todos os planos
Já escurece
Temos medo do bacurau
Se dormirmos
Será pelo menos menos mal...

quinta-feira, 21 de março de 2013

A Vida Que Não Começou


Inda finda linda
A vida que não começou

A vida de tristeza não é vida

É quando muito um arremedo
Não é vida é coisa parecida
Só que a morte veio mais cedo

A morte se chegou como amiga

Falando do final desta espera
E há ainda quem o diga
Que sua amizade é sincera

Que tudo acaba em branco sono

Mas não sabemos se sim ou não
Na verdade só temos ao abandono
Que se faz nosso amigo e irmão

Inda finda linda

Doída pra quem amou,,.

Insano Soneto


Eu não possuo lindos versos
Eu não possuo amores ternos
Possuo em mim todos os perversos
Sentimentos duros e eternos

Assim como as rochas do abismo
Espero sempre sem saber por quê
Incomunicável nesse meu autismo
Porque nada mais poderei dizer

O tempo já passou e eu me perdi
Não há mais nada pra me consolar
Esquecerei as coisas que não vi

Esquecerei que não pude amar
Que ninguém veja onde me escondi
E então enfim ainda possa chorar...

Eu Viajante

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Astronauta que não foi na lua
Pássaro que não saiu do chão
Eu trago em mim toda a rua
Todos os lugares no meu coração

Eu trago a festa que não aconteceu
A noite eterna que não tem manhã
O sonho que agoniza e não morreu
E uma insistente esperança vã

Carrego em mim os barcos sem portos
Em mim estão as ondas sem cais
O semblante triste de todos mortos
E o amor que podia ter sido mais

Está comigo tudo que tentei e não pude
E ainda me persegue o cruel e doce amor
E eu carrego todo carinho terno e rude
E o choro guardado de qualquer uma dor

E faço rimas óbvias comuns passageiras
E o que mais na bagagem puder guardar
Todas as brisas que já vieram ligeiras
E tudo que esteve presente em meu cantar

Mesmo se quisesse então não pararia
Pois meus pés possuem a sua vontade
E eles me dizem que não terminou o dia
E há mais coisas e com mais intensidade


Por isso vou seguindo cada instante
E esperando e mais uma vez esperando
Assim sou e assim é a vida de viajante
Todos nós eternamente andando...

quarta-feira, 20 de março de 2013

Teoria do Poeta

Resultado de imagem para menino escrevendo com pena
O poeta não é nada. Quando muito rema nas galés para levar a poesia ao encontro do sonho. Ele não escolhe coisas. E nem pode escolher. E muitos menos quer. Ele é apenas o louco que desconhece a loucura. E que acordou contando os dias para festejar. A poesia é a festa. Que nas horas mais incertas quando às vezes não dá tempo de se vestir. O poeta é o bufão de uma grande comédia que arranca todos os risos da platéia. E a vítima de um grande drama que arranca lágrimas também. Seu nome pouco importa. E de onde vem nunca lhe perguntarão. Ele pode ser qualquer viajante das estrelas. Ou um bêbado do próximo bar. Ele não sexo. Ele não ter cor. É democraticamente exposto às tempestades que a vida dá. O poeta não tem beleza. Ele vê a beleza onde ela deveria estar. O poeta tem vários ofícios. É a carpideira da morte do dia a dia. O palhaço que abre o circo. E o último a jogar sua pá de cal. Não lhe dêem muitas flores pois é perigoso. Ele saber fazer a mágica de transformá-las em tiros quando é preciso. E também só ele sabe fazer o oposto. Não o olhe nunca no fundo dos olhos. Causa vertigem um mar tão profundo onde o krakkem dorme esperando acordar. E é perigoso revelar assim os seus segredos. Porque o poeta sabe tudo. Mesmo quando desconhece todas as coisas. Se seus versos são imperfeitos é porque desse jeito é que deveriam estar. Ele não os escolhe. Ele é escolhido. Os versos são emoções ternas que compõem um poema. Ou são máquinas infernais que rondam o dia. Mas as emoções ternas podem às vezes machucar mais. E dores para o poeta são apenas conseqüências inevitáveis. Cada um poeta deve ter sido faquir em uma outra encarnação. Como se conhece um poeta? Não há como fazer isso. Muitos escrevem. Mas outras sonham e escrevem no ar. Como se classifica um poeta? Pelo que ele sente. Nem sempre letras são perfeitas. Mas os sentimentos sempre o são. O que se espera de um poeta? Nada. Pois a poesia anda com seus pés e esses pés muitas vezes estão cansados e cheios de poeira. Nunca confiem nele. Se não quiserem chorar porque esqueceram das coisas mais importantes. Se não tiveram toda ternura que deveriam ter. Se a chuva não foi bastante para molhar o jardim. E as flores jazem mortas em seus galhos. Os poetas não têm culpa de nada. Seus sonhos já nascem perdoados. Por último e ainda. Nunca incomodem o poeta. Ele ainda se esforça remando sua galera...

Poema de Bom Dia para B.


Não sei se você já acordou a essa hora
Mas mesmo assim queria te dizer bom
Bom dia B. como você está?
Aprontou muitas no dia de ontem?
Escutou muitas loucuras que a mídia trouxe?
Procurou de novo um novo sentido das coisas?
Ou ainda nem descobriu que há um sentido para elas?
Bom dia B. como você está?
Seu rosto deve continuar lindo como sempre...
E nele o sorriso mais bonito do mundo...
Um sorriso que lembra todas as flores...
Sejam elas flores do bem ou flores do mal...
Bom dia B. como você está?
Está agora com a ressaca do dia de ontem?
E como foi seu dia de ontem?
Igual a todos que vão pela roda da vida?
Não quer que eu busque algo em terras distantes?
Bom dia B. como você está?
Eu queria lhe falar tanta coisa que não falei...
Contar histórias que ninguém mais sabe...
Deixar com você os segredos que em mim morrerão...
E lhe mostrar um pouco do meu amor...
Bom dia B. como você está?
Não quer fazer as malas e vir pra cá?
Não quer me fazer sonhar sonhos mais novos?
Ou quer que eu ressuscite alguns mais velhos?
Ou ainda quer que eu sonhe os seus?
Bom dia B. como você está?
Você nem imagina como tempo corre...
Como posso aprender a lhe amar mais ainda...
Mais do que os outros amores que tive...
E me enganei dizendo que não ia mais amar...
Bom dia B. como você está?
Me liga qualquer hora dessas?
Me fala que me ama só pra me agradar?
Brinca comigo mais um outro carnaval?
Fica comigo até eu ir embora?
Bom dia B. como você está?
Bom dia novo amor da minha vida...

Os Leões Estão Jantando


Silêncio! Os leões estão jantando
Não adianta chorar pela presa
E com brindes vão comemorando
Que a pegaram de surpresa
E não estava nem importando
Se a vítima era indefesa

Silêncio! Os leões estão sorrindo
Pelo jantar que está na mesa
A cada dia vai então surgindo
Uma nova tática para sua empresa
Uma nova ilusão que venha emergindo
Um novo plano para a mentira sair ilesa

Silêncio! Os leões estão revendo
Eles temem pela chama ainda acesa
Suas previsões estão prevendo
Que está incerta toda a certeza
Que agora os minutos vão correndo
Para acabar com essa vileza

Silêncio! Os leões estão jantando
É uma hora boa para pegá-los de surpresa
Eles estão agora se empanturrando
Mas não comerão nem sua sobremesa
Há muito tempo estão abusando
Chegou a hora de comer da presa

Silêncio! As presas também vão jantar...

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...