quarta-feira, 31 de maio de 2023

Poesia Gráfica XVI

 

C A C O F O N I A

C A C O L A T R I A

C A C O F A G I A

C A C O R R A G I A

C A C O P E N S A R!

C A C O L A D R I L H O S

C A C O B R I L H O S

C A C O M I L H O S

C A C O F I L H O S

O C A C O R E S T Á N O A R !

C

  A 

     C 

        O

           S. . .


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E S T A R E N Ã O E S T A R

A O M E S M O T E M P O

N O M E S M O L U G A R

V I V E R E N Ã O V I V E R

A O M E S M O T E M P O

V I V E R É O M E S M O M O R R E R


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P E N S A M E N T O

       N Ã O H Á 

                   E M N O S S O S D I A S

E N G A N A R É E S T R A T É G I A

C U L T U R A D E R E B A N H O

O L O B O É T R A V E S T I D O

C A D A U M U M I D I O T A

M Í D I A P O B R E E P O D R E

P E N S A M E N T O

P E N S A R É P E R I G O S O

N Ã O H Á


...................................................................................


A

A B 

A B I 

A B I S 

A B I S M

A B I S M O

M E U A M O R 


...................................................................................


E N C O N T R E I

                        U M

                             R I O

                          U M

                               R I O

                            U M

                                R I O

                             M E

                              P E R D I

                                         L Á


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S E N S A Ç Ã O

S E N S A Ç Ã O C E G A

S E N S A Ç Ã O I N Ú T I L

S E N S A Ç Ã O F Ú T I L

S E N S A Ç Ã O D Ú T I L

 S E N S A Ç Ã O C E G A


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C U R I O S O

C U R I O S I D A D E

C U R I O C I D A D E

C U R I Ó C U R I Ó

C U R I O S A I D A D E


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Pimenta No Dos Outros, Pimenta É

 Sambamos como esqueletos

Esquecemos da soma dos catetos

Lotearam todos esses guetos

Os ferreiros perderam seus espetos

 

Roma foi feita em um dia

O melhor do carnaval é a putaria

Perdi meu pai minha mãe e a tia

Melhor do que cheia só a vazia

 

A raposa tem um rabo grandão

O meu sonho caiu da minha mão

Apague a luz quero escuridão

Perna é perna e mão é mão

 

Eu tive um troço na lua cheia

Tomei um tombo e comi areia

Toda bonita não é mais feia

E a verdade nunca foi meia

 

Sou menos que um cachorro

Eu me perdi e fui parar no morro

Faz tanto tempo que não tem socorro

Não sei se paro e não sei se corro

 

Gravatas servem para foder

Eu não tenho mais o que comer

Eu não sou eu e nem sou você

Não acredito para poder crer

 

Minha velocidade é de tartaruga

Sou bem menor do que uma pulga

Não fiz nenhuma rota de fuga

Até minhas unhas estão com ruga

 

Seu Bonifácio bateu as botas

E quem sofreu ninguém mais nota

Erva daninha sempre mais brota

Ele nada come e depois arrota

 

Feijão e arroz é um mistério

Vou ver minha vaga no cemitério

Essa piada me tirou do sério

Já invadi teu espaço aéreo

 

 

E venha logo cabra safado

Filho-da-puta seu desgraçado

Repare logo no que está errado

Até o torto já anda de lado

 

Eu acredito e não tenho fé

É um sapato pra cada pé

Só não me chame de Lucífer

Pimenta no dos outros, pimenta é...

Blues da Aflição

 

Paro num bar como qualquer outro

Peço mais uma como se fosse um ritual

Quero fugir como muitos o fizeram

Mas isso é quase impossível...

Espero o fim da hora de espera

Como qualquer um retardado

Que acabou perdendo o trem ou o barco

Mas só consigo rir de mim mesmo...

Piso num pé e nem peço desculpas

Esse vazio pertence a todos

E mesmo que queira dormir

Essa merda de insônia fala mais alto...

É bobagem sua puta safada é bobagem

Querer manchar essa camisa suada

Suja dos lugares que já passou...

Talvez eu acabe voltando pra casa

Arrependido de ter andado tanto...

Fila do Purgatório

 

Eu quis imitar uma música famosa

Mas o drone caiu lá do alto...

Aquele perdeu seus olhos...

Aquele não fala mais...

Aquele arrancou sua língua...

Esse bateu com a cabeça na parede...

Tentei escrever algo que prestasse

Mas faltou grana pra propaganda...

Aquele ali perdeu o juízo...

Aquele lá o vício o venceu...

Aquele traiu seu melhor amigo...

Esse se atirou na frente do impossível...

Tentei ter um pouco de ternura

Mas minhas mãos só tinham espinhos...

Aquele matou seu amor...

Aquele cultivou seu medo...

Aquele esqueceu de acordar...

Esse nem teve noção que era gente...

Eu quis saber do que não sabia

Mas o celular estava sem crédito...

Aquele cruzou seus braços para a vida...

Aquele teve cirrose de sonhos maus...

Aquele tinha uma festa e não foi...

E o outro não sabia qual porta de saída...

Eu quis imitar uma música famosa

Mas o drone caiu em minha cabeça...

Em Tempos

 

Não me queira mal

As coisas acontecem porque acontecem

Muitos abismos escolhi

E outros eu nem pude evitar

Eu não queria rir de coisas tristes

É que elas acabaram sendo engraçadas...

 

Evite escrever em paredes

Paredes são perigosas guardando fatos

Apenas alguns símbolos

Passarão desapercebidos de alheios olhos

Falta um pouco de maturidade

E eu acabo então chorando...

 

Esqueça algum poema mais triste

Eu queria apenas disfarçar

Como num drama barato

Mas acabou faltando emoção

E não pude me conter e saí...

O Boys

 

Entre a timidez do espetáculo

E os fogos de artificio de cor indeterminada

Nós jogamos...

Vem para meu inferno de muitos sonhos

Onde a eternidade é tão banal...

Quero te dar algumas dessas chuvas

Com trovões silenciosos...

Andaremos com carros feitos de papel

Onde nada mudará...

Pequenas pedras fazem um coro

Onde segredos são revelados...

Eu pinto em muros

Frases esquecíveis e bonitas...

Minha sóbria maldade

Não deseja limite algum...

Um sacrifício em nossa ara

Traz solenes lembranças...

Capítulos de novelas antigas

E algum choro quase sincero...

Eu mordi o passado

E isso foi em grandes goles...

Não traga a piedade

Embrulhada em papel de pão...

Eu sei todas as partes

De um livro não-escrito...

Em caso de emergência

Não quebre o vidro...

Em caso de alegria

Grite bem alto...

Cuidado ao sonhar

Evite algum acidente...

Doces cairão muito bem

Tanto reais quanto imaginários...

terça-feira, 30 de maio de 2023

Meia Metade

 

Choveu o céu quase todo

Para qualquer arte um consolo

Bestialmente defendo teorias

Provo do açúcar amargo

E nem sei mais nada de nada

Decorarei o nome destas ruas

E quebrarei pedras com as mãos

Repito alguns beijos forçados

Com meu tesão aumentando

Meus pulmões são inocentes

E meus dedos nem tanto

Quero gritar no meio da feira

Vendendo aquilo que não tenho

As minhas feridas doem tanto

É estranho ser tão estranho

Enquanto acendo várias velas

Os inocentes foram culpados

E os livros lidos ao contrário

É tão complicado ser tão simples

Cinzas e marimbondos necessários

Enlouqueci quase agorinha

Dispensando qualquer piedade

O seu sexo me é tão perfeito

Como quarenta e nove segundos acesos

Basta-me uma dose de uísque

E alguns detalhes mais imperceptíveis

Como aquele vagabundo qualquer

Amanhã é qualquer um dia

Que eu agarrarei pelos cabelos

Para poder morder seus lábios

A baixa autoestima bem lá no alto

Enquanto suplicamos sonhos

Antes que morramos deles mesmo

Peço perdão por nada

Solo de Orquestra

 

Liturgia de uma solidão

O trânsito agora está parado

Há alguns pássaros estáticos

E não há o que fazer...

Eu morrerei nos próximos segundos

Mesmo que demorem anos...

A saia dela roda na solidão

E apesar da plateia estar vazia

Ouvem-se muitas palmas

Entre o brilho de tantas luzes...

Eu beberei todo o vinho existente

Um copo atrás do outro...

Eu pisei numa jovem serpente

E mesmo assim saí incólume

Nem as pedras me ferirão

Tempo pelo menos nisso ajudou...

Eu ajeito meus brancos cabelos

No espelho cheio de manchas...

Numa sala cheia de quimeras

Escolho algum dos quadros

Onde esteja palidamente expresso

A história que ainda não vivi...

Quebro alguns dos meus vidros

Com a mesma covardia de sempre

Para fabricar mais outras estrelas

Para povoar esse meu céu vazio...

Não faço questão alguma

Mesmo calado ainda estou aqui...

Morangos Cultivados

 

Não há mais graça nas caixinhas

Mesmo que os mercados nos enamorem...

Eu tenho saudades de alguns lances

Que pareciam ser comuns

Mas acabavam não sendo...

Palavras estranhas da minha boca

E gestos inusitados de meus olhos

Eu quero sapatear para geral espanto

Contradizer o próprio tempo...

A fogueira apagada será acesa

E os mármores desprezados

Faltam apenas alguns sonhos

No vermelho que escorria sorrisos...

Iguanas Felizes

Os iguanas estão felizes por serem iguanas...

Assim como colibris são felizes por serem...

Só os homens ficam insatisfeitos

E destroem tudo que há em volta...

 

Os iguanas estão felizes por serem iguanas...

Assim como os cães por caninos serem...

Só os homens ladram raivosamente

E mordem sem motivo tudo ao seu alcance...

 

Os iguanas estão felizes por serem iguanas...

Assim como os porcos pelo que comem...

Só os homens inventam venenos

E se matam de forma imperceptível...

 

Os iguanas estão felizes por serem iguanas...

Assim como as borboletas que morrem logo...

Só os homens temem o tempo que passa

Mas só eles o desperdiçam com tolices...

 

Os iguanas estão felizes por serem iguanas...

Só os homens nunca serão felizes...

Utopia Duvidosa

 

Era pra nós...

Nem sei se foi...

Nem sei se fui...

Portas abertas...

Paredes geladas...

As palmas com as palmas...

A minha fome derrete...

Benditas pragas...

Fiquei insano...

Dispenso ruídos...

Tiros não bastam...

Dispenso maçãs...

Quero goiabas...

Embrulhos de papel pardo...

Meias coloridas...

Não confie em mim...

Beije só estrelas...

Não respire mais...

As flechas zunem...

Tenho certas manias...

Escuto certas tolices...

Tetas lindas estas...

E nádegas exemplares...

O meio das pernas sorri...

Uma salva de palmas...

Para as aves que caíram...

Meio e meio...

Cada loucura é uma...

A história se repete...

Eu me enjoo de pouca coisa...

Apenas uma fatia de pão...

Um simples copo d’água...

Não disfarço muito bem...

Eu deliro faz décadas...

Só são quadrinhos...

Berros no escuro que são...

Cada detalhe repetido...

Tudo que não dá certo...

O carro quebrado...

A perna quebrada...

As asas inteiras...

Era pra nós...

O Que Mais Lhe Parece

 

Chips quebrados, cadeiras derrubadas,

Essência de baunilha em hálitos proibidos,

O fogo das lareiras é acolhedor e simples,

Em cada sete dias uma semana que passa,

As sardas dos ruivos têm um encanto total,

Nunca mais fui no médico desde que adoeci,

Todo amor é indeciso quanto sempre é,

As estátuas não nasceram para sofrer,

Eu vivo do tamanho do meu próprio tempo,

Sou tão pequeno tanto quanto o universo,

Aperte o gatilho para poder viver em paz,

As bruxas são todas virgens nas quartas-feiras,

Eu sei fazer contas com os dedos dos meus pés,

As cartas do baralho são o que são por si só,

Todos os diamantes não valem como antes,

Toda bola antes de ser foi um quadrado,

A duração de um minuto depende do freguês,

Eu sou do tempo que tamancos existiam,

Balas vinham em caixinhas de papelão,

Existem várias surpresas que nem existem,

As operadoras de caixa nem sempre sorriem,

Mas o barulho das moedas parece uma canção,

Entender de alguma coisa já é alguma coisa,

Os carinhos não me lembram mais outras águas,

O meu prato está vazio e minh’alma cheia,

Não me rogue pragas porque estou surdo,

Conheci algumas dessas cerimônias por aí,

Não fui crucificado pela minha modernidade,

Xaropes e chás têm parecida procedência,

 Eu vim direto das cavernas para a cidade,

A minha imobilidade anda tão veloz,

Não consigo falar senão com enigmas,

O rei sambou e foi em praça pública,

Tarzan acabou loteando todos os cipós,

Meu café da manhã não tem mais café,

Dezenas de baratas enchem os cantos,

Talvez eu encontre rastros de mim mesmo,

Um colar de contas e um cocar me bastam,

Estou num emaranhado de barbantes,

A peça de teatro tem menos de meia cena,

O futuro é o passado que acabou voltando,

Eu quero dormir e não consigo mais...

Da Arte de Matar Mosquitos

 

Tenho um legado de algum ouro e muita prata

Papai chegou muito bêbado ontem

Papai morreu fazem mais de quarenta anos

Deve estar sem beber nada no céu

Mas a casa continua lá bem trancada...

 

Centenas de desenhos feitos em papel de caderno

Mamãe chorou novamente como sempre

Mamãe morreu não tem dez anos

Deve estar no céu se existe algum

Cuidando dos gatos e fazendo seu tricô...

 

Impressões na alma feitas com ferro e com fogo

Vó Augusta me olhou de cara feia

Vó Augusta era ternura escondida

Deve estar escutando agora versos

Que seu apaixonado faz às estrelas...

 

Tempestades de areia sem deserto

Vó Odette sabia muitos dos caminhos

Vó Odette dava suas ordens para a alegria

Deve estar sobrevoando águas em nuvens

O céu bem é bem que cheio delas...

Personagens

 

Eu sou o dono de todos os bonecos

Mas não os escolhi

Vieram em bando

Cada um em seu tempo próprio

Ainda sobra vergonha na minha cara

Para alguns sacrifícios

Não tenho medo de altar algum

E nem meu sangue vale uma moeda

Teu grito meu grito nosso grito

São símbolos de uma nova litania

Num bazar de coisas velhas

Encontrei algumas estrelas

Ser livre mesmo sob grilhões

É o maior feito possível

Nunca poderão tirar o que não tenho

É o maior dos enganos

Os rios são brutos

E o mar é tão delicado

Meus quadros pintados à alma

Todas essas cores

As que gosto e as que não

Uma boa dose de insistência

E uma pitada de teimosia caem bem

Fui testemunha de muitos crimes

Principalmente os não-existentes

Fugirei de mim

Já marquei até horário

Pena que me esqueci

Meus leques e meus tapetes-voadores

Confirmaram presença

E a tribo inteira virá também

O cacique me deu um souvenir

E o pajé me chamou para fumar

Uma lata de biscoitos basta

E três pedras achadas agora

Foi sarampo e não maleita

O que me fechou as janelas

Naquele janeiro que não foi

Um fio de barba ou de bigode

É um firme contrato

Há bodes em todos os cantos

Até na boca de famosos

No beco dos poetas

Encontrei uma garrafa

Com um resto de fantasia

E a pólvora não me fez mal...

Explicando Nada

 

A lata de sorvete enferrujou na geladeira

Acontece quando existe certa maldade...

Fazer alguém chorar da mais pura aflição

É bem mais fácil do que rir sem motivo...

Cada verdade é a mais mentirosa possível

E um pecado vale mais que mil virtudes...

Confesso ter matado os pintos de minha tia

E fiz do monte de tijolos um belo cemitério...

Andei solitário sobre solitária linha de trem

E agora comerei esse doce estando só...

Uma metade de mim não está valendo nada

E outra metade não vale uma coisa alguma...

Qualquer prato velho serve para ser pandeiro

E qualquer dúvida para uma nova confusão...

Queremos ser o mais antigo dos modernos

Cada chance de adultério é sempre vinda...

Uma ida na clínica de cadeira sob a chuva

É mais preciosa que inúmeros tapetes persas...

Passeio com pés desnudos sobre brasas quentes

Enquanto xingar em yoruba ainda é da moda...

Vermelho é a cor que escolhi para meu luto

Enquanto os gatos contam sardinhas em jejum...

A minha primeira vítima teria sido o acaso

 Enquanto alguns abscessos teriam me visitado...

Os velhos quase não lembram de mais nada

Enquanto os moços teimam em não mais lembrar...

Todo deleite tem seu preço em muitas moedas

E cada paraíso começou não mais dando certo...

Tone morreu assim como morremos todos nós

E nem haverá algum luto no outro dia seguinte...

Cada palavra é uma estrela que eu cuspirei

Enquanto cato papéis de bala para o almoço...

Tenho apenas mais uma sugestão plausível

Esqueçam toda a plausibilidade que possam ter...

Um livro é apenas alguns cadáveres de árvores

E a repetição da cena é o que mais a eterniza...

Só usarei as letras que não mais conheço

E a sua piedade acabou de salvar a sua alma...

Quase todos os dias eu amanheço chorando

E minha tristeza me convida para ir ao telhado...

Os sapos nunca tiveram nada contra as moscas

Assim como a lentidão dos caracóis sua pressa...

Eu borrifo poções mágicas pelo ar em volta

Mesmo que tudo desapareça num estalar de dedos...

Em minha pobreza desconheço o que é a falta

Ainda sobra alguma esperança depois da bomba...

Estilo Estiloso

 

Poemas engolidos de qualquer jeito

Pontuação e concordância com defeito

Vergonha na cara quase em extinção

Os heróis são vilões na nova estação

Uma live para falar o que não sabe

Fazendo o papel de idiota que lhe cabe

Vinho suave e veneno mais suave

Estamos prontos para implodir a nave

Vamos degustar belos pratos de areia

A verdade que nos basta é somente meia

A menina inocente com cara de puta

Toda delicadeza tornou-se força bruta

O singular acaba se tornando plural

Algumas decepções acabam fazendo mal

Enquanto o Rio de Janeiro continua rindo

E profetas de esquina continuam vindo

Faremos alguns bacanais improvisados

Acendendo fogueiras para todos os lados

Toda filosofia precisa de um certo ajuste

Enquanto cada sina custe o que custe

Trezentas vezes meio calhambeque

Não tem o valor exato de meio pileque

Um enxame violento de afro-abelhas

É um belo espetáculo de centelhas

Em rumo para Roma por tais caminhos

Nós nunca nos sentimos tão sozinhos

Minha suíte no inferno está preparada

Um pouco de muito e muito de nada

Fui culpado de certas coisas e outras não

Ser humano é apenas toda a questão

Lâminas podem ser o meu presente

Antes que eu me torne mais ausente

Antes que eu não me sinta mais forte

E sinta preocupado ventos do norte

Eu desaprendi a fazer meus cigarros

Enchi meus pulmões de muitos catarros

Assim o diz o grã-duque da Massileia

Toda vez que acaba perdendo a ideia

Cervejas abertas com nossos dentes

E coroas funerárias para os parentes

Somos entusiastas de todas marcas

E temos mais fé do que o pau da barca

Deus é um açougueiro vegetariano

Somos de um tempo que tinham bolos

E certos crimes não possuíam dolos

E toda continuação acabava logo...

Azeite & Palhaços

 

A roda dos desesperados lubrificada

Um aumento de vítimas da mídia

Acaba gerando mais alguns loucos

Tudo está contido em uma grama

Atenção, senhores, acabou o café

Motivos mais que óbvios de luto

Em qualquer cidade há infelizes

A boa saúde só não é má

Mistura insaciável de neologismos

Uma poção de fritas queimadas

Como manda a nova moda

O cancioneiro que foi preterido

Até os modernos envelhecem

As manchas de batom nas cuecas

Mais um reality show de mentiras

Tudo é resolvido por gestos

Cortaram a língua dos mágicos

E os filósofos acabam xingando

Vou engolir os meus óculos

E beber seu caldo até o final

Perdi o medo de douradices

No meio de sérios amarelismos

Nos bazares vendem-se aberrações

Uma tara sim e outra também

Eu não creio mais em fetiches

E sonho aterrado com engrenagens

Satã agora tem a minha cara

Bebo uma certa brutalidade

Receberei mais tortas na cara

É a semelhança de uma diferença

Mais vento do que ventilador

Vendem-se pesadelos baratinhos

A piedade é lâmina de barbear

Não haviam segredos de alcova

Tudo foi se desfazendo

Menos as fotos de eterno papel

Na véspera do carnaval amuei

Mariolas embaladas com esmero

Apenas uma batalha doméstica

Os mariscos herdaram as cascas

O galã de novela sofre de impotência

Acabei de construir um manicômio

Minha cabeça apenas guarda chapéus

E o mundo debruça-se sob os muros... 

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...