quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Transformações

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Não há nada mais o que fazer, minha tristeza, minha alegria. Eu ainda estou aqui, por todos os cantos, num mundo que desaba aos poucos, mas que ainda permanece. Com o que sobrou, com todos os restos, eu fiz a mais secreta alquimia e te transformei - em vida.
De algumas canções já esquecidas, de algum tempo já esgotado, de alguns desejos insatisfeitos que nunca pude alcançar. E os bons homens tentando explicar o inexplicável em um consolo já inconsolável. Eu juntei as peças restantes deste quebra-cabeças e te transformei - em caminho.
Marquei encontros que não aconteceram, por alguns segundos atrasados, fiz os maiores malabarismos sem me importar com riscos e com alturas. Era tudo que eu queria para poder gritar, tudo aquilo que sentia ou apenas para pronunciar teu nome e te transformei - em sonho.
Pouco me importei com os cortes, com as feridas que sangravam sempre. As minhas roupas agora estão rasgadas, as unhas sujas, os cabelos despenteados, a vergonha há muito deixou-me com as minhas fraquezas e, eu acabei aproveitando esta solidão e te transformei - em esperança.
Brinquei na beira do abismo, esqueci as vertigens no bolso do outro paletó que deixei em casa. Encarei de frente a mentira dos malvados que queriam se alimentar de alheios choros. Há muito que as minhas fronteiras desabaram, os prédios altos e silenciosos caíram e mesmo sendo ainda um covarde, consegui superar a eu mesmo e te transformei - em coragem.
Esqueci os pecados que cometi, me penitenciei pelas maldades que não desejei fazer, chorei todas as lágrimas que deveria chorar. Com a alma mais limpa e a consciência mais leve anda agora sob brancas nuvens que perambulam pelo azul e te transformei - em inocência.
Rodei feito um pião, levantei o pó do chão, embacei alguns olhos. No beira do abismo me diverti sem me importar com as horas que passavam. Parti numa caminhada sem fim sem provisão alguma, com muita pressa de chegar mesmo sem saber onde e te transformei - em paixão.
Olhei no espelho sem fazer as caretas que a manhã depois de um sono maldormido me exigia, me conformando com o receio da vida e a desilusão sombria da morte. E, finalmente cheguei onde deveria estar e me transformei - em mim mesmo...

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