Toda a escuridão. Em fatos e atos que só eu noto. Por estar mais sozinho que uma pedra no meio da areia sem alguma testemunha ocular. Só meus próprios olhos me vêem e isso não basta. Eu queria porque queria alguma esperança...
Uma esperança vadia dessas que andam por esses ruas sujas e que acabam me pedindo um cigarro. Não posso negar tal pedido. Os desesperados devem ser solidários tanto nas pequenas coisas como nos absurdos...
E é absurdo tentar entender várias coisas. Como também é absurdo tentar virar a cara para o lado da parede e tentar dormir. O sono não chega para os apaixonados e nem para os loucos. Não se dá ao trabalho de descer lá das nuvens e nos visitar...
Que virá me ver? Ninguém atende aos pedidos do doente em seu leito em que o descanso nada mais é do que uma simples farsa. Não há descanso para os que seguem o delírio das febres que acabam tirando toda a consciência...
Consciência de que muitos dias já foram embora. Embora como as águas que têm pressa de chegar. Embora como cada coisa no seu tempo certo e no tempo errado também...
Eu já fui feliz também. Ou apenas estava afetado pela vertigem de uma alegria que sabe se disfarçar. Perigosa alegria. Que se disfarça como um cruel louva-a-deus por entre as folhas para devorar a sua inocente presa...
Preso estou com meus compromissos inadiáveis. De sorrir quando não quero. De ficar sem reclamar quando o machucado dói. De olhar tanta coisa errada que se mascara com a fantasia do normal...
E as fantasias como num pesadelo de Dali dançam diante dos meus olhos. Esquálidas e sem carne alguma. Se estivessem sobre ossos menos perigosas seriam. Certamente não dá mais para correr...
E correr para que? E chegar aonde? Se todos os caminhos chegam ao mesmo lugar. E nem quero visitar Roma. Estive lá outro dia mesmo e as coisas estavam tão sem graça. Eu cheguei à noite e tudo estava tão escuro...
Era tudo escuridão...
(Extraído do livro "Novos Textos Poéticos" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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