sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Noite da Impossibilidade

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Vem, meu amor, chegue sem pudor algum, vamos chorar mais um pouco. O dia já escurece e as coisas vão todas mudando de forma e cor também...
É noite. Já percebeu? Noite lá fora no mundo, noite aqui dentro em nossas almas. Milhares de pirilampos estão vindo em nosso socorro para que nossos pés tropecem mesmo. As estrelas estão agora um tanto ocupadas, numa grande sinfonia de seu eterno silêncio...
Talvez um ou outro habitante da noite venha compartilhar de nossa tristeza ou ainda querer nos matar. Não importa. Você está ainda viva e eu já morri há muito tempo...
Lembra-se de minha morte? Foi no dia em que vi os seus olhos pela primeira vez. A profundidade deles superou o castanho comum de um dia desses que se amanhece sem perceber algo e quando vemos as correntes estão atadas em pés e mãos...
Sim, naquele dia eu morri, sem poder acompanhar os seus passos, sem compartilhar os sorrisos (mesmos que comuns) porque nada é tão diferente do que o que nós mesmos vemos...
O jeito de jogar o cabelo, meio embaraçado, meio não. A pouca maquiagem de dias comuns. O modo de sorri como tantos outros. A presilha que se quebrou e eu peguei do chão e guardei, como quem guarda o tesouro mais precioso...
Vem, meu amor, chegue sem temor algum, talvez até seja a hora de rir e não de chorar. Rirmos de algumas piadas só nossas, que nós fizemos e são como um enigma que mais nenhum mortal possa entender...
Da noite virá um outro dia. Já percebeu? Triste, mas é verdade. Amanhã não poderemos dar mais que um simples aceno, mas nossos olhos, tanto os meus, quanto os seus, falarão mais palavras do que todas as bocas juntas...
Segue seu caminho, de encontro á tolice que cobre nossos dias sem assim o podermos evitar. Deixe em mim apenas as lembranças das visitas quando a luz iluminava o meu cárcere e a solidão se dissipava com a sua presença...
Experimente outras bocas que são destituídas de alguma paixão, apalpa outros corpos que jazem mortos, apesar de vivos. Outros novos corrompidos por uma velhice de idéias, uma escassez de sonhos e pela nulidade de alguma fantasia, a verdadeira fantasia do existir...
Eu aguardo uma chance louca e quase impossível, assim como os sonhos de qualquer poeta. Os versos são meus cúmplices nos planos bons que estão em meus bolsos, já me acostumei com a escuridão de tortuosos labirintos...
Vem meu amor, pelo menos dar um beijo na testa, como se beija aos mortos...
Fica com Deus... 

(Extraído do livro "Novos Textos Poéticos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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