domingo, 12 de agosto de 2018

Eu Sou A Sombra Do Que Era

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Assim como todo mundo, ando. Em dias frios ou dias quentes, tanto faz. Tentando trazer de volta à vida, velhos mortos queridos, mas toda a minha tentativa acaba sendo em vão. Doem-me todas as dores possíveis e o caminho andava disfarçado por malvadas ervas. 
Eu sou a sombra do que era. Não me façam perguntas que possa responder, estas já me estão proibidas. Não me contem histórias com finais felizes, eles me afligem. Não tragam anedotas engraçadas, o riso já me faz mal. Dispenso gestos de um carinho que mais na frente me matarão porque partiram e me deixaram tão só. 
Eu sou a sombra do que era. O cavaleiro andante que eu era já há muito esqueceu suas aventuras. Não me restam mais palavras de ordem, todas as revoluções acabaram dando em nada. Não sei se os anjos agora riem de mim e se possuem triste compaixão.
Não sei se num domingo frio destes eu parto ou se isso acontecerá numa decisão de campeonato em que todos estarão mais ou menos eufóricos. Eu sei que partirei sozinho, eu sei que partirei tristonho, por não ter dito tudo que queria ter dito, por não ter amado nem pela metade, por ter ficado imóvel sem os gestos que precisava fazer.
Eu sou a sombra do que era. Uma imagem sem direito ao espelho, uma canção que faltou a pauta, um rio que se perdeu do mar. E todas as comparações que faça são insuficientes para expressar o desespero mais tranquilo que um dia alguém pôde obter. 
Os dados foram lançados, mas faltou o manto. O velho programa de televisão foi cancelado, a bondade das reprises não interessa aos senhores do mercado. E mesmo se acontecesse, a memória das pessoas é muito curta, somos mais lembrados pelo que deixamos de fazer.
Por isto estamos enganados, não existe apenas uma manhã em cada dia, cada minuto, cada segundo uma nova se apresenta, mas a nossa miopia passa desapercebida. Todo mundo, no final das contas, só acaba tendo pena de si mesmos.
Eu sou a sombra do que era. Nada mais...

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