quinta-feira, 31 de julho de 2025

Tapete Velho

Não sou rei de coisa alguma

Nem de velhas fantasias que um dia vesti

Riram de todos os meus amores

Apenas áudios que ninguém escutou

Quebraram todos os meus brinquedos

E o seu destino foi qualquer lixeira

Como a que um dia seremos sepultados

Minhas febres são mais constantes

São parecidas com batimentos cardíacos

Até na maior calmaria estou desesperado

Não faço versos para que todos gostem

A realidade é para ser e não objeto de deleite

Nem só de pão poderemos viver sempre

Mas também dos tiros que não nos alcançaram

As moscas anunciam direto sua vinda e voo

Nossa privacidade é cada vez mais pública

E os discos voadores agora se fazem de Uber

O meu tamanho é de uma névoa qualquer

E ondas estão tirando onda com a minha cara

Todo capricho é agora o mais desleixado

Esqueci e convidei os canibais para jantar

Um daqueles como paredes com mosquitos mortos

Não sou rei de coisa alguma e nem serei...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome N° 352

 

Andava com pressa na rua

(Seria uma rua mesmo?)

E dessa vez nem era notada

(Fato inédito! Fato inédito!)

Em cada uma sempre alguém...

Compromisso inadiável...

Absurdo não ir no próprio funeral...


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Quantos poetas esconderam seu rosto?

Quantos choraram mesmo em silêncio?

Sou apenas um velho que a vida deu as costas.

Ou talvez um menino brincando de roleta-russa.

Calados! Não falem mais absolutamente nada...

Quantos choraram mesmo em silêncio?

Quantos poetas esconderam seu rosto?...


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Não é vingança

É apenas consequência

O tempo tem fome

E muita fome mesmo

Tem fome e ardis

Pensamos que crescemos

Mas só envelhecemos...


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Esses meus erros são repetidos

Pois todo humano tem a mesma mania

- Repetir seus erros mais cruéis -

Cruéis e idiotas por falar nisso

São muitos e é difícil enumerá-los:

Um deles é o sonho e o outro - o amor...


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Eu poderia ficar rindo até o final dos tempos

Seriam risadas mistas de achar graça e contentação

Pois fico voando feito uma pequena mosca

Que não importa nem onde mesmo pousa

Quem me mataria não tem minha habilidade

E acabou esquecendo de comprar inseticida...


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É que certas sonoridades me encantam

Mesmo que pareçam de outras naturezas

Que pertencem aos outros sentidos:

O cheiro dos cinemas são uma trilha sonora

O movimento da praça aqui perto 

É muito semelhante a uma ciranda acontecida

Velas acesas pelas encruzilhadas nas segundas

Lembram-me canções que foram atendidas...


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Quem não tem, queria ter

Quem tem, não queria

O jovem só deseja envelhecer

Quem envelheceu, chora por isso

Nada é permanente entre nós

Somente toda a impermanência...

Cada Palavra

Cada palavra é minha cúmplice

Tábua do desespero sem naufrágio

Tal como uma ferida e um afago

Faltou algum vírus para o contágio


Cada palavra é mais que um berro

Me embriaga mais do que cachaça

É teima e é sutileza e a um palavrão

Que o menino xinga e faz pirraça


Cada palavra vinda da boca ou mão

Com todos seus enfeites ou pelada

Empesteiam o ar fosse feito perfume

E se agora é tudo adiante será nada...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

SemiNu

Feito um cajá

Maduro no pé

Sua casca não esconde

Polpa e suco e caroço


Pois gostamos de gostar do que gostarmos


Feito uma gota

Caída do alto

Foi apenas a gravidade

Alto e percurso e tombo


Somente colorida cor que foi colorizada


Feito um sonhadelo

Vindo da treva

Quase a nua estética

Sono e tesão e sexo...


(Extraído do livro "O Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quarta-feira, 30 de julho de 2025

Poemeto de Saudade Para Valesca

Com seus brincos de falsa cigana

ela sorria quase sempre...

Num tempo antigo e agora apagado

suas poucas carnes nada importam...

Eu sou o corvo que pousa na lápide

que foi esquecida por aí...

Ainda sobrevivo tal lágrima teimosa

descendo em câmera lenta...

Aquele ônibus foi um nunca mais

e se eu soubesse teria me desesperado...

Com suas argolas de falsa cigana

ela só ria sempre e sempre...


(Poema para Valesca B. Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Correntes Antigas, Esporas Modernas

Velhos frutos proibidos

Novos pecados à granel.


Arranque o olho do infeliz

Mas sua rede social nunca!

Deixe-o passar fome

Sua televisão fique na sala...


Antigas doenças usuais

Cura com ilusões venenosas.


Deixe-o nu no meio da rua

Mas não leve o seu celular!

Uma bofetada na cara

Dói bem menos que um deslike...


Vá destruindo o planeta

Mas defenda o capitalismo.


Minta aos seus eleitores

Mas faça todas as lacrações!

Mais vale um viral na mão

Do que dois caras honestos...


Capriche na apatia

A bondade saiu de moda.


Consuma todo seu tempo

Para alcançar o que não quer!

Já está providenciado

O seu diploma de idiota...


Seu haraquiri ficará legal

Se houver várias testemunhas.


Seja um cara religioso

Mas sem acreditar em Deus!

O mundo sempre foi esse

E agora que estamos notando...


(Extraído do livro "Pane Na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

terça-feira, 29 de julho de 2025

Um Real de Bala

Foi antes, bem antes

(nem real era, mas que seja)

e meus sonhos ainda sabiam avoar...


Num tempo num tempo

(eu ainda tinha relógio)

e tinha tamancos para meus pés...


Era uma outra cidade

(sem tantos crimes que apavoram)

e até muitos maus também era bons...


Eu sou grande em nada

(grande sempre essa tristeza)

mesmo assim teimando em sorrir...


Foi antes, bem antes

(nem real era, mas que seja)

e meus sonhos ainda sabiam avoar...


Moço, me vê um real de bala aí?...


(Extraído do livro "O Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Por Que Eu Salvei O Queijo?

Assisti o filme do Besouro Cuco - 

"Os Fantasmas Se Entristecem".

Lançarei bolinhas de gude quadradas

Como a new novidade do mercado.

A dupla John and John fará sucesso

Dançando fado nas ruas de Bombaim.

Encontrei no deserto da Atacama

O maior bordel de meretrizes anãs.

Perdi todo o meu juízo anteontem

Mas o encontrei semana passada.

Tatiana tem asas de matrimônio

Feitas com pura melancia mecânica.

Tenho alucinações das mais lúcidas

Dia sim e no outro também tenho.

Tenho um Piercing na massa encefálica

E mamei na onça umas trezentas vezes.

Um colarinho feito de casca de banana

É o mais indicado na revolução da farofa.

No grande jogo que chamamos de vida

Também quem ganha acaba perdendo.

O rato entrou com um processo na justiça

Querendo indenização dos cruéis felinos.

O langanho do amor está bombando

Em todas as redes sociais deste planeta.

A sobrevivência de tudo o que existe 

Depende se há um oposto para o sujeito.

Porque eu salvei o queijo? Sei lá...


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Fere A Ferida

Discos voadores caseiros

Mãos atadas com sujas gases

O pandeiro tem som de violino

E a aranha agora é costureira


Pragas encomendadas pela net

Limpem a bunda com os jornais

Minha educação apenas zero

Atrás do trio sem eletricidade


Nova devoção para o Capeta

Qualquer família se despedaça

Novo refrigerante de água suja

A virgindade é mais pesadelo


Eu não tenho pena nem dimin

Faço a barba arrancando-a 

Até a famosa virou uma bosta

Tenho síndrome da síndrome


Eis a tirania mais democrática

Tão velozes os nossos algozes

Temos a liberdade da prisão

A bala nunca teve uma casca


Meu cinzeiro também fuma

Vi uma peruana da Jamaica

Estrebuchou no dia da estreia

Só acredite em suas mentiras...


(Extraído do livro "Pane Na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Mau Que Nem O Carnaval

O marketing constrói heróis 

e pinta mártires...


Nas lixeiras encontramos

- saborosas caixinhas -

os restos não-lambidos

pelos cães de rua...


A verdadeira comoção

está na banalidade...


Segundos já sexualizados

- imortalidade besta -

ninguém prova nada

das velhas teorias...


Aquilo que foi atirado

não retorna a origem...


A fama é o real castigo

- eis o esquecimento -

vendidas são as lágrimas

que duram pouco...


É o papa-angu! É o papa-angu!

Vai comer teu cu! Vai comer teu cu!...


(Extraído do livro "Pane Na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

segunda-feira, 28 de julho de 2025

É Porque O Vento Ventou Muito Demais

 

Caso encerrado

Tudo cansa e se cansa

Incompreendam minhas palavras

Sílaba por sílaba

Eu não vi nenhum filme...


O robô não tinha chips

Na feira de ciências tocaram violinos...


Meia achapelada

Era assim sem ter assado

Deixem os tocos de giz na calçada

Calça por calça

Temos gelatina de pedra...


Era um ménage solitário

Todo banheiro acaba um dia sendo bordel...


Delivery surpresa

Tudo rende e desperdiça

Meu gato não gosta de comer peixe algum

Espinha por espinha

Vamos construir farinha...


Caso serrado...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Desengano Sem Imagem

Sonhar... Sonhar... Sonhar...

Sonhar sem controle algum

Tristes passos de quem está - bebum...

Piadas sem graça de clown aposentado...

Rio que tem pressa mesmo parado...


Sonhar... Sonhar... Sonhar...

Sonhar e a mente desobedecendo

E o ar que estamos respirando - morrendo...

Andando na corda mesmo prevendo cair...

Eu não estou mais aqui nem aí...


Sonhar... Sonhar... Sonhar...

Eu fiz tudo que podia com certo esmero...

Esmero não! Foi exagero?...

domingo, 27 de julho de 2025

Parte Dois

Utilitários inúteis

Samba sinfônico

Sérios mais fúteis

Caos harmônico


Kafka comprou inseticida...


Quem nuca

Limpo imundo

Sensata maluca

Raso mais fundo


Usamos bateria polar...


Banana colateral

Pagode burguês

Fantasia irreal

Diariamente ao mês


O agroócio está na moda...


Zumbis saudáveis

Painel em miniatura

Perenes descartáveis

Pureza mistura


O peixe morreu afogado...


Sachê de poeira

Meleca francesa

Contagiante gagueira

Tecido framboesa


Depois vem a parte dois...


(Extraído do livro "Palavras Modernas" de Carlinhos de Almeida).

EntreVivos

Colisão de autos

Estupidez em pílulas

Pupilas contraídas

Vide bola

Frenesi apática

Curou o morto

Uma lenda rural

Loucamente moderado

Esmalte indolor

Cachimbo acostumado

Tímido destaque

Comendo tijolos

Tranças da traça

Meu nome é Nome

Queijos eletrônicos

Salmos salgados

Calma hostilidade

Moda que viola

Prolixo lacônico

Não haverá haver

Adeus coló

Dois de quatro

Mano humano

Cofre exposto

Mostrei a mingua

Nacos mexicanos

Velha mocidade

Parcas moedas

Delegados indigentes

Ninhos da rua

Piano de calda

Cura pela doença

Extravagância comedida

Assim e passado

O guarda Feio

Matei o pau

Mostrei a cobra

Veludo concreto

Certo equivocado

Mais tudo...


(Extraído do livro "Palavras Modernas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Toda Realidade É Irreal

Toda realidade é irreal.

Pequenos poemas tornaram-se grandes demais.

Já não há mais barcos para partir deste cais.

Mais um copo de veneno e até nunca mais.


Toda piedade é malvada.

Os espinhos das rosas feriram meus pobres dedos.

E eu mesmo vou construindo meus próprios medos.

Meus sonhos mais sinceros foram apenas arremedos.


Toda traição é traída.

O pecado necessita apenas de mais um anonimato.

Toda vida é mais uma brincadeira de gato e fato.

Nossa sobriedade depende de qualquer disparato.


Toda ladeira é descida.

Eu farei mais um ano assim que um dia puder.

O carro da história só sabe andar de marcha ré.

Só terá liberdade quando os mortos ficarem de pé.


Toda gentileza é estúpida.

Aquele nosso passo no escuro foi dado em falso.

Para andar num tapete de brasa estarei descalço.

Onde você for lá estarei sempre em seu encalço.


Toda brincadeira é séria.

Decidi retornar ao passado de sei lá tantos anos.

Não sei se falharei em mais todos esses planos.

Pois toda tolice é propriedade de nós humanos.


Toda realidade é irreal.

Pequenos poemas tornaram-se loucos demais.

Já não há mais trens para partir para as Gerais.

Mais um copo de veneno e até nunca mais...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Turismo Assexual Baseado em Fatos Irreais

O jovem bem-comportado embriagou-se rapidamente.

Não existe nada que emocione mais que um asno inteligente.

Nossos belos trocadilhos nos tornam uma raça demente.

Ainda bem que certos venenos não possuem uma semente.


Lili Carabina.

Lili carafina.

Lili queratina.


A gostosa deu logo atrás para depois tomar na frente.

Conversei com um cara estranho que era meu parente.

Esse trem da Central parece mais com uma serpente.

Quando o mundo se acabar vai ser tudo tão diferente.


Mané Maluco.

Mané Macuco.

Mané Caduco.


Macarrão no pão só servia se estivesse aldente.

Faltou água e eu fui batizado com aguardente.

Ganhei uns óculos que estavam faltando a lente.

Aqui não tem chapa fria pois a chapa é quente.


Zezé Cabeludo.

Zezé Cabeçudo.

Zezé Caracudo.


Tire o dedo do nariz seu macaco saliente.

Tem burguês enganado pensando que é gente.

Costela no bafo para o freguês tão exigente.

Toda a minha calma é sobretudo impaciente.


Zé Qualquer.

Zé Talher.

Zé Mulher.


Subi num poste porque estava mais doente.

Naquele tempo até a cama macia era a patente.

Aquele meu argumento foi o mais intransigente.

Ele tinha cabelo grande e esqueceu de ter pente.


Cara Suja.

Cara Cuja.

Cara Puja...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Insolitez Mais Que Imediata

 

Nada ao forno. Nada em torno.

Gases lilases. Ases fugazes.

Foi uma comédia a Idade Média.

Apenas uma disputa filho-da-puta.


Jogaram a sabedoria na pia.

Deram uma descarga bem larga.

Vagabunda com uma bela bunda.

O dinheiro mora ali no banheiro.


É uma declaração na contramão.

O inimigo do povo é dono do ovo.

Quem tem sangue vermelho de joelho.

No canto da boca uma febre louca.


Existe um monte ali debaixo da ponte.

Comer e trepar basta apenas começar,

Xadrez e dama para quem não ama.

Vá jogar baralho na casa do caralho.


Ele foi para o centro do lado de dentro.

Nada é mais feliz que do que a meretriz.

Todo mundo gosta de um bocado de bosta.

Do mês de outembro eu nem me lembro.


Saltei do carro pra fumar mais cigarro.

Eu sou inocente que nem uma serpente.

Todo condenado agora dança xaxado.

Dois dedos de café pra alegrar o Mané.


O filé do rato no mercado está barato.

Cada tiro de canhão custava um milhão.

Na hora da saia justa tudo me assusta.

Toda arte censurada não vale mais nada.


Nada ao corno. Nada em adorno.

Gases audazes. Ases capazes.

Foi uma tragédia a Idade Média.

Apenas uma disputa filho-da-puta.


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sábado, 26 de julho de 2025

Alguns Poemetos Sem Nome N° 351

Não seremos mais como dois animais, meu amor. Esse tempo passou, já está passado, sem nada mais para lamentar. Seremos agora como dois vegetais, dois vegetais sim. Quais? Escolha você... Apenas nos olharemos sempre, isso se formos duas margaridas... Mas acho que seria bem melhor, seu eu fosse uma árvore qualquer, daquelas que só o tempo move, Por causa dessa minha timidez que nunca passa, sabe? E você? Qualquer uma que estrangule meu caule com certo carinho, como sempre foi...


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Coloquei aquela foto sua, antiga, coloquei mesmo. Uma antiga escolhida ao acaso, tão bonita. Onde tens um sorriso que posso chamar - enigma, Ignoro o motivo dele, nem sei da data precisa, onde foi tirada e, muito menos, quem tirou. Só reconheço o mesmo rosto que mirei milhares de vezes, isso mesmo, milhares, pessoalmente ou nos muitos sonhos que tive. Já tem um tempo que não nos vemos pessoalmente, tempo malvado este. Acho que algumas rugas novas são novas companheiras, mas isso não importa. Fique aí sorrindo do mesmo jeito, meu amor, como fundo da área de trabalho do meu pobre Pc. Boa noite, meu amor...


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A luz não se apagou...

Nós que a apagamos!

Na nossa inconsciência maliciosa

Dessa tal de primeira vez...

Queda de eternos dominós...

Castelo frágil de várias cartas...

Todos os grãos de areia...

Infinitas estrelas de sei lá...

A luz não se apagou...

Pois era chama!!!...


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Todo medo é de agora.

Haverá um dia seguinte?

Toda respiração ofega.

Qual será nosso risco?

As canções tocavam.

Todas pararam de vez?


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Meu sangue cansa.

Água de intermináveis rios.

As fumaças sobem.

Pássaros etéreos sem asas.

As palavras conspiram,

Para um novo qualquer poema.


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A minha antiguidade tem um segundo.

As novidades saltam dos espelhos ao chão.

Quem hoje tem uma história engraçada?

Eu sinto algumas vertigens sem controle.

Mas ainda permaneço com vontade de voar...


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A única coisa que sobrou dos mortos

Foi seu nome em minha memória.

Talvez alguma fotografia se acontecer.

Mas o mais certo que assim sobrou

Foram os fatos que nem o tempo apaga...

Romance Imburguês

 

Até cansar... Até cansar...

A boca doeu, a língua doeu,

Festival de salivas aos montes,

As bactérias que se danem,

Os moralistas mais ainda...


Tudo é exaustão... Exaustão só...

Louvo nossas perversões,

Cão faminto roendo osso,

Um monte de siris numa lata,

Mergulho na água fervendo...


Tudo é carinho... Muito carinho...

Pulei no meio das pernas,

Como se fosse um acidente,

Nem vi o que afinal era,

Nem anotei a placa...


Me dá licença... Licença...

Minha malícia é inocente,

Meu tempo quase nenhum,

Não tenho nem culpa,

A necessidade manda...


Não tenho nada... Nada...

Só um sonho de reserva,

Daqueles bem antigos,

Companheiros de solidão,

Perseguidor de noites...


Até cansar... Até cansar...

A boca doeu, a língua doeu,

Festival de salivas avalanche,

As bactérias que se danem,

Os moralistas fodam-se...


(Extraído do livro "Só Malditos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

E Os Cães Ladram Lá Fora

Toda emoção de um canalha não tem direção.

Quem dá tiros sempre também pode receber.

O abismo sabe falar a língua dos desesperados.

Na mais pura indiferença burgueses bebem chá.

As asas que nunca tive são as asas que voam mais.

Temos velhas recordações sem gracejo algum.

Meus pés conhecem bem mais que a mente.

A lua cheia me algemou aos seus muitos uivos.

Sob esta capa moram milhares de tentativas.

As unhas transforam-se em garras faz tempo.

Na próxima estação haverão milhares de frutos.

Talvez nesta areia possamos escrever eternidades.

Eu sou a indefinição de tudo aquilo que se define.

Todos os sweet dreams acabam possuem sabor azedo.

Conheço todos cinemas por seu aroma sui generis.

Montanhas e profundezas herdaram o mesmo tamanho.

Os bem-te-vis acabaram nunca enxergando nada.

Nossas verdadeiras realidades são nossas máscaras.

Toda data já nasceu com seu epitáfio já determinado.

As multidões conhecem bem todas essas crueldades.

Nas danças de São Guido a morte aproveitou o descanso...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sexta-feira, 25 de julho de 2025

Trilha Insonora

Fechado para balanço. Meia lata de cerveja.

O mundo é para quem não sabe nada.

Concepções artísticas. O rastro desta presa.

A preocupação para um final da semana.

Faltaram jornais para ir ao banheiro.

A toxidade da cidade. Seus pentelhos crescem.

Foi a nossa bomba d'água a que explodiu.

Tantas músicas velhas. Os copos nunca bebem.

No dia em que quase peidamos de alegria,

A porta está fechada. A piada perdeu sua graça.

Hoje no almoço o prato será de peixes vivos.

Dormimos nas redes sociais. Anistia às ratazanas.

Juro que nunca mais brigarei comigo mesmo.

Aqui o alto é mais embaixo. Compramos a Disney.

Até um tapa na cara acabou virando um bom presente.

O ladrão foi assaltado. A casa do ferreiro enferrujou.

Nós comeremos a terra sendo veganos ou canibais.

Anime é coisa séria. Camões para o baile funk.

Na boca-de-fumo agora estão vendendo agrotóxicos.

As tartarugas têm pressa, Tenho brincos marcianos.

O sacerdote teve mais uma ereção involuntária.

Agora tem um deus ateu. Os poetas vão criar tilápias.

Foi inventado o mais moderno canhão de bolso.

A dona-de-casa não tem casa. Nosso pet tirou férias.

Em terra de cego quem não enxerga é que é cego.

Cultuaremos memes. A seriedade faz gargalhar.

Quando eu morrer no dia seguinte estarei morto.

A riqueza usa esporas. O amigo da onça é.

O dia de ontem acabou tendo inveja do amanhã...


(Extraído do obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quinta-feira, 24 de julho de 2025

Quem Tem Aí?

Quem tem aí uma velha invenção para inventar?

Quem tem aí uma diferente versão para o verbo amar?

Ou quem sabe uma daquelas revistas tão mais antigas?

Quem tem aí um daqueles tempos com caras amigas?

Alguém ainda possui aqueles versos que eram inocentes?

Ou uns pés descalços para caminhar entre as serpentes?

Quem tem aí? Quem tem aí? Quem tem aí?


Quem tem aí uma reza sem pecado para fazer ao Santo Padre?

Quem tem aí um maço de velas para acender para a Comadre?

Ou aquele padê de dendê para oferendar para o meu Senhor?

Ou algum mapa para poder me mostrar onde é que estou?

Quem tem aí aquela roda de samba sem medo de madrugada?

Ou aquele orador quem não tem medo de ter palavra errada?

Quem tem aí? Quem tem aí? Quem tem aí?


Quem tem aí mais um doce que nem os que fazia a tia Inês?

Quem tem aí pelo menos um pingo de razão para o freguês?

Ou tem um caminhão cheio de alegrias para dar na favela?

Será que alguém tem um final diferente para essa novela?

Quem tem aí aqueles tamancos que vendiam nas vendas?

Ou quem sabe tem para contar mais sensacionais lendas?

Quem tem aí? Quem tem aí? Quem tem aí?


Quem tem aí o cessar-fogo para todo esse ataque?

Quem tem uma bola nova para dar para esse craque?

Alguém por acaso tem aí aquele meu novo endereço?

Tem guardado algum carinho maior que não tem preço?

Quem tem aí aquela primeiro rosa que foi da estação?

Ou tem um par de asas para poder voar na imensidão?

Quem tem aí? Quem tem aí? Quem tem aí?


Quem tem aí? Quem tem aí? Quem tem aí?...


(Extraído do livro "O Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).



Na Mira (De Leis)

Na mira. Na Mara.

Não fira. Dispara. 

Lei do Cão.

Lei do pão.

Lei do não.

Aberto. Fechado.

De frente. De lado.

Lei da marca.

Lei da arca.

Lei da arca.

Ateu. Com fé.

De quatro, De pé.

Lei do gado.

Lei do fado.

Lei do mandado.

Bonito. Mais feio.

Na ponta. No meio.

Lei da merda.

Lei da lerda.

Lei da cerda.

Roedor. Meu felino.

Do acaso. Do destino.

Lei de meia.

Lei de teia.

Lei de areia.

Namoro. Minha mina.

Desmazelo. Minha sina.

Lei do cego.

Lei do prego.

Lei do ego.

Nádegas. Meu tesão.

Aparência. Do coração.

Lei de marte.

Lei da parte,

Lei da arte.

Gosto. Essa insipidez.

Sensível. Nova insensatez.

Lei do bacalhau.

Lei do bacanal. 

Lei do bacurau.

Palhoça. New apartamento.

Troça. Seu jumento.

Lei do fake.

Lei do lake.

Lei da snake.

Acertou. Teve falha.

Acalmou. Na batalha.

Lei da visagem.

Lei da viagem.

Lei da imagem.

Silenciei. Fiz discurso.

Gostei. Amigo urso.

Lei do pão.

Lei do não.

Lei do grão.


(Extraído do livro "Palavras Modernas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Isto Também É Poesia

Isto também é poesia... Isto é... A primeira ave que canta quando clareia o dia Interrompendo seu humilde sono  Que foi em um galho qualquer...