domingo, 20 de julho de 2025

Até Que Foi

 

A mosca deu um mergulho no copo de cerveja

como se fosse um atleta em um salto ornamental...

Um cego tocava violino na feira do meu bairro

como se enxergasse as notas que invadiam o ar...

Eu não morri, mas o ano passado é que morreu...


Acabei de comprar todos os jardins do mundo

onde estiver apenas uma flor é lá que eu estarei...

Consegui a fórmula mágica para transformar

todos os amargos da vida em doces para a boca...

A máquina implacável do tempo nunca para...


Procuro uma vaga de sonhador em tempo integral

quem souber onde há uma me avise logo que puder...

Um solo de flauta pode fazer inúmeras maravilhas

uma delas é fazer minhas asas funcionarem de novo...

Em comerciais antigos vemos a maldade do tempo...


Todos as nossas sinas vão pela contramão da alegria

e mesmo quando rimos é que isso acontece bem mais...

O espelho é a única garantia que temos sempre certa

de que a nossa ilusão vale menos do que uma moeda...

Velhas fotos de família são meu maior motivo de chorar...


As borboletas são as maiores professoras que temos

sobre como fazer somente o que podemos fazer...

A maior agonia que qualquer um poeta pode ter em si

é que seus versos caiam pelo chão como cai o vidro...

Dia desses a cegueira pode atacar a minha pobre alma...


Faremos então o mais solene dos tratos que existem

não chore pela minha morte e eu também não chorarei...

Tudo acaba com o mais simples salto para os céus

como o peixe que sobe mas depois mergulha no mar...

E que possa dizer: A vida foi válida? Até que foi...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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