segunda-feira, 21 de julho de 2025

Pinturas ao Deus-Dará

Num jardim de flores sem perfume

Encontrei a transparência de espinhos amistosos...

A bandeja de Salomé tinha a minha cabeça...


Era a favela saindo da garganta do desesperado...


Numa selva de antenas de televisão

Sonhos carcomidos vinham ao meu encontro...

Os marginais da mídia suplicam por pão...


O modelo é um espantalho cheio de ouro...


Na contramão de veículos quebrados

Os heróis correm de medo e se escondem...

A comoção nacional ignora os miseráveis...


Compraram latas de merda numa promoção...


O soro escorria como se fosse goteira

Na rotina de todos aqueles que vão sofrendo...

Cada dia é mais um enigma para ser decifrado...


Ela arrumava seus trapos com todo capricho...


Na circunstância de toda oportunidade vinda

Chora-se por cada aplauso que poderá haver...

Só se chora por nossas feridas se elas doem...


O Apocalipse é apenas uma geladeira vazia...


Numa temporada aberta de caça aos patos

Outros bichos também podem ser alguns alvos...

As libélulas recusam-se de forma única em cantar...


Embriagados agora vendem quinquilharias...


Nunca poderemos nos esquecer com tristeza

De velhas pinturas espalhadas pela calçada suja...

Que eram pinturas baratas expostas ao deus-dará...


(Extraído do livro "Pane Na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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