segunda-feira, 1 de julho de 2019

Aonde Cheguei ou Conformismo Não

Resultado de imagem para velhos jogando dama na praça
Não quero chegar onde cheguei
e olhar para trás e perguntar:
Isso valeu de alguma coisa?
Tudo na verdade valeu e valeu muito...
Eu não estou arrependido
de qualquer um dos passos que dei,
eu não estou me lamentando
dos erros e acertos que fiz...
Sim, valeu cada segundo da vida,
o tempo aproveitado e o desperdiçado,
são as moedas que joguei um dia
na fonte de meus desejos inconfessáveis...
Eu vivi cada paixão como se fosse
a única que pude ter e tive,
cada amor que esbofeteou-me 
e saiu andando sem um adeus sequer...
Todas as guerras em que estive
e todos os tiros que dei, acertando ou não,
eram aqueles que o tempo mandou 
e eu fui um bom menino, cumpri ordens...
Eu até tenho muitas saudades,
mas não sou um saudosista...
Eu sinto falta daqueles que amei,
mas não há desespero em minha alma,
porque me considero louco,
mas não tolo o bastante para me contradizer...
Só não me chame para ficar parado,
ficar jogando damas como fazem outros
e ficar olhando das praças calmamente
tudo que acontece em volta de mim...
Eu não tenho paciência alguma, nunca tive,
tenho pressa que as coisas sejam boas,
as notícias venham em bons ventos,
e se isso irá acontecer ou não,
é apenas uma outra história...
Só não me chame para ficar parado,
mais ainda do que tenho estado,
se meus pés doem isso é apenas um detalhe,
um detalhe para passar desapercebido...
O caminho ainda me chama,
ora com afeto, ora rude como eu mesmo sou,
ele ainda quer ver meu velho corpo por aí,
meus ossos estalando e minhas mazelas,
todas elas, com sua habitual raiva inútil...
Não se importa em me dar horários,
é por isso mesmo que meu relógio de pulso
está parado faz um bom tempo,
eu fui escravo quase a minha vida toda dele
e agora que quase nada tenho à perder,
posso me dar ao luxo de rir em sua cara...
Como fui um tolo, hoje eu o vejo,
os sonhos batiam em minha porta
e quantas vezes me fiz de surdo
para poder garantir o que nada valia...
Quantas vezes eu tive medo da esperança
e ela era a maior dádiva que poderia ter...
Podem rir de mim à vontade,
um dia isso me feriu, mas não fere mais,
não há circos sem seus palhaços
e, depois de rir, todos aplaudem de pé...
Não reparem a bagunça, entrem,
podem ficar à vontade,
ainda são uns poucos versos bobos
o que eu tenho para lhes oferecer, 
um dia eles pareceram mais rebeldes,
mas não se enganem com tal coisa...
É que antes, eles usavam a boca,
hoje usam olhos, olhos nunca cansam
e gritam sempre e muito mais...
Só não me chame para ficar parado,
eu nunca fui nem nunca serei
o menino bem-comportado que todos
ainda desejam que eu seja,
pois, se o for, neste dia estarei morto...

(Extraído do livro "Só Malditos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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