quarta-feira, 10 de julho de 2019

À Vera

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Minhas dúvidas são as mais certas possíveis e tenho calma em todos os níveis, alguns mais ou menos contagiantes, outros mais ou menos irritantes na possibilidade ou não de um pequeno possível.
Eu escolho os cantos mais quietos pra chorar, assim como escolho os amores mais impossíveis pra amar, é a sina, senhor, é a sina, tudo o que nos toca se destina ao esquecimento ou à morte de cada momento.
Eu só quero um salva-vidas ou um salva-morte, nem mesmo eu sei bem, só sei que quando demoro e choro, os anjos acabam dizendo amém. O amém é uma coisa deveras engraçada, pois fala tudo e acaba dizendo nada.
Nós caímos e nem escapulimos do tombo, do rombo e do combo na promoção especial. Eu sou um sujeito mais que perfeito, um perfeito cara-de-pau. Confesso possesso como quem mente à Deus, todos os acessos ao que não existe são todos meus.
Eu tenho uma pressa quase possessa de felizes coincidências de puro medo do brinquedo dessa santa ciência. Livros à parte, não me livro desta arte, arte do complexo, do livre sexo, das sextas burguesas e bem-comportadas de um tudo valendo nada.
Aqui estão os meus documentos e neles todos os elementos substanciais, pra nossa mandinga, que o santo bendiga meus festivais. Repito, às vezes sim, às vezes não, estou aflito, me dê gorjeta, ó meu patrão, não vou à pé, vou de condução.
Abuso dos luxos da minha simplicidade, minha cara metade, a outro é meio desconhecida, é a vida, é a descida sem subida, é a meta estabelecida, no temporal, no vendaval, passando mal sem guarida.
Não sou um cara bonito, nunca fui, nunca serei, faltam sapatos de salto alto para el-Rey, falta um grana pra essa banana que descasquei, cai o vidro, já foi quebrado, qual é o certo que não é errado?
Dois meninos se beijando, duas minas se pegando, tudo na mesma serenidade, não tem idade, não tem cidade, tudo passando. Não tenho meta, nem tenho reta, pública ou secreta, assino embaixo, é que eu acho, sossegue o facho.
Não quero saber, só quero viver, me dê o dendê, esquento quase tudo, eu sou abelhudo, eu sou mais um só, não deixe o pó, não faça o nó, eu nunca fui Jó. São dias de guerra, no meio da paz, sem mais, não fui o patrão, não fiz nem questão, eu fui capataz. 
Meu tempo nem sempre é agora, tem uma demora, que nem a espora que fere e prefere parar, pra ar, pra lá, pra cá, fique quieto, não vá perguntar. A nudez também é enfeite, doce deleite, doce de leite, não vá, não fique, é tudo um aplique.
O segredo é que não há segredo, o medo é que não há mais medo, dormi tarde, acordei cedo, descansei na sombra de um arvoredo, até descansei na sombra do boi, a estética é a aritmética de quem não foi, não lhe pra mim e nem dê um oi. O que jogaram fora, escolhi, não sei qual a hora de sair daqui...

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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