sábado, 27 de julho de 2019

Ainda Não


Eu ainda passo por velhos caminhos como quem conhece a palma de sua mão, no céu acabaram-se as novidades, as estrelas são minhas velhas conhecidas e faz algum tempo que não brincamos mais. 
Eu envelheci, mas a culpa não foi minha, até que tento segurar o menino dentro do peito, mas o choro acaba atrapalhando um pouco. Às vezes me desnorteio e me perco em atalhas que desconheço, mas afinal de contas isso é mais que normal.
Ouço alguns sons desconhecidos de minha fraca memória, não sei distinguir bem se são os tropéis dos cavalos que carregam as fatalidades que devo enfrentar ou se são apenas alguns sons e mais nada.
Cansei de tudo, sobretudo, cansei de me cansar. A preguiça acabou indo embora e mesmo com as dores nos ossos, insisto. É velho projeto este, subir nas nuvens pela velha escada de degraus já quebrados, como o velho acrobata que faz gelar o coração da plateia.
Não quero mais nenhum carnaval, acabei com o folião que se alegrava por quase nada, isso é apenas agora a cena de um filme em câmera lenta e com legendas que passam sem que ninguém leia. 
A minha arte agora é outra, vem de outras paragens, esqueço dos esquemas que arquitetei com as palavras para frases de efeito, em eternos novelos agora estou. Simples, muito simples assim.
Os carros vão apressados pelas avenidas e eu quase rio de uma piada que acabei não fazendo, minha loucura ainda insiste que somos uma boa parceria, no final das contas, até que os lucros são bem bons.
Não sei de muitas coisas, muitas delas mesmo, isso até pode ser uma grande vantagem. Não como os que nada sabem e nem sabem disso, eu sou meio diferente. Eu conheço as artimanhas dos sujeitos sujos e deixo que eles mesmo se afoguem em sua lama.
Gostaria de muitas coisas, algumas delas parecidas com belas palavras de alguns livros meio antiquados, mas as regras acabaram sendo feitas para serem quebradas, isso não é muito bom, mas também não é muito ruim.
Um poeta à mais - é isso que sou. Sem o olhar lânguido e nem rebelde, ando por vales intermináveis em dias sufocantes que parecem apenas isso. Sou sonhadoramente realista como poucos e esses poucos acabam sendo muitos. Não tenho bandeiras, esqueci a minha em casa, deve estar pendurada no varal.
Dizem que falo demais, mas é assim mesmo. Vou de um extremo á outro, sem algum intervalo comercial, ventos bons que me tragam de volta, se existir uma nova história para contar não reclamarei de tal fato.
Fico pensando em interessantes questões, só que a timidez acaba me aprontando das suas. Esqueço as perguntas e se as respostas vierem, acabo estranhando também.
Não me perguntem sobre o que a morte esconde em seu negro manto, ainda não fui lá, ainda estou por aqui...

(Extraído da obra "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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