Enquadro-me nestes caras fora de esquadro
que compõem os seus temas mais vulgares
onde mais vale a liberdade do que ser burguês
moço bem-comportadinho com os seus ares
Politicamente incorreto em minhas correções
em que não me importo com reais comoções
Não me importo com quem veio antes de mim
afinal de contas eu só consegui ser apenas eu
são tantas os labirintos em que eu me perdi
que até a minha pobre sanidade se perdeu
Inquietamente quieto em minhas ambições
eu sou o objeto de minhas irreais projeções
Faço-me de surdo e cego ao mesmo tempo
desconhecendo completamente à minha volta
em silêncio abro silenciosamente o cadeado
e eis que então o meu demônio enfim se solta
A trajetória de todos é um trajeto de empurrões
onde são guardadas suas indevidas proporções
Até fico cansando só que a arte é grande vício
e a inspiração é como um temor que me inquieta
e as palavras vão se repetindo aos meus ouvidos
da forma mais incômoda e também indiscreta
É quase inútil fazer dos invernos grandes verões
e as feras mais mansas que possuo são os leões
Preparo-me finalmente com um esmero excessivo
sou apenas mais um inocente em minha temática
errei nos cálculos e acabo assim me confessando
eu nunca foi boa a minha natureza matemática
Nem sempre o que sinto eu digo faltam declarações
os dramas que passamos não passam nas televisões
Cansado estou e mais cansado ainda vou ficando
entender todos os meus versos pode ser tarefa atroz
porque os meus sonhos vão então enlouquecendo
e a minha loucura acaba sendo enfim a mais veloz
Eu mesmo faço os meus dramas com suas razões
como um mendigo que conta paciente seus tostões
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