domingo, 7 de julho de 2019

Ao Vento

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Eis que agora que agora te compreendo, nunca mais terei contenda alguma contigo, fazes o que bem entenderes, em qualquer tempo e em qualquer lugar que tiveres vontade...
Se quiseres, joga meu castelo de cartas abaixo, não me importo mais, se tive alguma paciência para fazê-lo aos poucos, muitos ainda poderão surgir, se ainda tiver mãos e vontade para tal...
Se for de teu agrado, sai levando meus castelos de areia para bem longe, a maré acabaria fazendo isso em algum momento, não me desespero mais, tanto já perdi e tanto ainda terei de perder...
Queres folhas? Se é teu desejo, leva todas elas, são como os cadáveres de meus sonhos, eram verdes, foram amarelando, agora o cinza as domina, poderão serem engolidas novamente pela terra ou serão queimadas e aos céus hão de subir...
Arrastas tudo? Levas tudo para bem longe? Se não te importares, leva-me junto, leva-me para bem longe de minhas aflições, infla como mais ninguém o sabe fazer as velas do pobre barco da minha existência até o porto distante em que estão aqueles mais queridos que já perdi...
Queres dançar? Há muito estive parado num canto solitário, mas chegou-me a vontade de dançar também. Venha ser meu par, por favor, agitaremos as chamas das velhas fogueiras que permanecem acesas, elas são como alguns amores que nunca morrem...
O silêncio te incomoda? Vence a tua timidez, acorda todas as flautas, movimenta completamente todas as cordas, improvisa no tempo mais incerto possível um carnaval fora de época, eu estarei ao teu dispor, dançando no meio da rua, feito louco que sou...
Nunca, nunca mais, te prometo, me verás passar apressado para encontrar um desnecessário abrigo, paredes podem até proteger-me, mas também acabam oprimindo. De agora em diante, aceitarei tantos os teus beijos como os teus tapas em meu rosto, ambos são carinhos e só agora eu entendo...
Faz o que for da tua vontade, não te preocupes em me magoar, isso a vida e o tempo já se encarregaram de fazer há muito, eu já participei de todas as possíveis dicotomias, já morei nas mais altas nuvens e nos mais profundos abismos, aprendi que até os opostos possuem qualquer coisa de igual...
Traga-me logo, por favor, seja de qual forma quiseres, o que perdi e ainda sinto falta, sei que és sinônimo de boas novas, tuas intenções para comigo sempre foram as melhores, só agora eu posso ver...
Eis que agora que agora te compreendo, nunca mais terei contenda alguma contigo, fazes o que bem entenderes, em qualquer tempo e em qualquer lugar que tiveres vontade, meu querido vento...

(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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