quarta-feira, 31 de julho de 2019

Circos

Resultado de imagem para circo pobre
Circos é o que temos
num desenrolar de muitos destinos
cenas engraçadas, autênticas tragédias
saboreadas uma à uma

Eu não sei quais os caminhos
mas assim vamos andando sempre
até cansar sem mais
calemos todas as palavras

Me atordoo com vários enigmas
mas acabo me conformando
isso é o que temos para hoje
para sempre desde todos os tempos

Eu sou o palhaço por natureza
pinto meu rosto com todas as cores
fui corajoso o suficiente para não correr
dos mais intricados labirintos

Já me acostumei com o ridículo
as filas não mais me atordoam
eu sou o meu próprio abismo
e vida e morte não importo mais

Agradeço todos esses aplausos
eu sou o mestre das minhas ilusões
apenas ando por aí por capricho
as cores do mundo me pertencem

Sentado pois no meu escritório
tenho medo de morrer imediatamente
é tão engraçado essas anedotas
que são os dramas de cada um

Eu vejo o desfile e ainda desmaio
são muitos séculos na bicicleta
há muitos enigmas pra responder
deixe-me descansar apenas um pouco

Circos é o que temos...

Dualidades


Amo a tempestade como a calmaria
Amo a madrugada como também o sol
Tanto a coragem quanto à covardia
Tanto a meditação quanto o futebol

Amo tanto a calma como a valentia
Amo o bem e às vezes até amo o mal
Amo o que tenho e aquilo que não teria
Tenho todo o universo e o meu quintal

Amo a loucura e amo a sabedoria
Quero a eternidade toda num segundo
Eu sou todo pleno com minh'alma vazia
Eu sou de mim mesmo e de todo mundo

Amo o gesto rude quanto a simpatia
A vontade tão frágil o mais firme pulso
As coisas mais reais e minhas fantasias
Aquilo que eu calculei e o meu impulso

Amo a sobriedade mas adoro a boemia
Eu tanto blasfemo e também como oro
Trago em mim toda tristeza e toda alegria
Quantas vezes eu gargalho e como choro

Amo o calor da vida e a morte mais fria
Como sou diferente e assim tão igual
Eu sou o espinho e o remédio que alivia
Eu sou o finados mas também o carnaval

Eu sou o preto-e-branco e a cor que extasia
Sou o que permanece e o que vem e passa
Sou a fogueira que eternamente queimaria
Quando se apagar fará mil nuvens de fumaça

Eu sou a máquina perfeita e a avaria
Aquilo que te falo e o que não te conto
O encontro de um minuto me dá nostalgia
A droga que não usei me deixou mais tonto

Amo a tempestade como a calmaria
Amo a madrugada como o dia claro
Eu sou obra única e também parceria
Eu sou tantas coisas que nem reparo...

(Para Caio Victorino, extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Algumas Feridas


Algumas feridas doem muito
outras feridas doem muito mais
Nenhuma dor é parecida
mas todas as dores são iguais

Umas feridas doem a carne
umas outras o fundo da alma
Algumas feridas são esquecidas
outras produzem até trauma

Umas o tempo as tira logo
outras sempre ficam marcadas
Algumas são a causa de tudo
e outra são apenas mais nada

Algumas feridas são secretas
outras guardamos escondidas
Umas são a nossa salvação
outras destroem nossas vidas

Eu também tenho tantas delas
muitas delas de outros carnavais
Ah! Como dói minha mãe tua perda
essa é a que me dói bem mais...

(Homenagem - in memorian - à minha mãe Maria Nair Oliveira de Almeida, pela data de seu falecimento, extraída do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

terça-feira, 30 de julho de 2019

Estática Mente

Tenho programada alergia à lactose.
Pego todos meus vícios por osmose.
Nossa sociedade está em necrose.

Temos pavor de eternas procuras.
Queremos doenças e não curas.
Muitos dentes sem dentaduras.

O dia-a-dia nos traz aflição.
Não resolve nenhuma questão.
Prefiro as roupas de verão.

Somos news birds na gaiola.
Todos nós fugimos da escola.
Agora o mendigo que dá esmola.

Feche a boca pra cantar.
O cego já está a me olhar.
Eu tiro unidades pra somar.

Durmo na fila é confortável.
Toda empatia é abominável.
A incerteza é mais estável.

A caridade é tão vergonhosa.
Sei errar em verso e prosa.
Com tanto sexo ninguém goza.

Acreditar nas mentiras inventadas.
Transformar seus sonhos em nadas.
Achar as catástrofes engraçadas.

Considerar defeitos coisas normais.
Achar ultrapassadas leis morais.
Fazer das guerras novos carnavais.

Prometer para nunca cumprir.
As carpideiras não estão nem aí.
Vamos lutar sumô com esse faquir.

O pet de estimação é a serpente.
Meu próximo só ser for parente.
Só existe uma estática mente.

(Extraído do livro "Palavras Modernas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

segunda-feira, 29 de julho de 2019

Yagho


Movam-se os moinhos de Holanda
vamos dançar essa eterna ciranda
em dias de sol e em chuvas nos dias
vamos saudar todas nossas alegrias

É fato consumado que eles existem
e que nossos sonhos persistem
eu vou ali no jardim ver as flores
mesmo persistindo nossas dores

Há passos por toda essa cidade
todos vão buscando a felicidade
mas alcançá-la é outra questão
pois fatalmente existe a exaustão

O menino dorme enquanto escrevo
e fico encabulado nem sei se devo
tirá-lo do sono com meus gritos
é que pesadelos podem ser bonitos

Algumas canções nos fazem chorar
e assim mesmo insistimos escutar
vamos fazer festas pelas calçadas
até que as fogueiras sejam apagadas

Movam-se os moinhos de Holanda
ainda existe encanto lá na varanda
conhecemos o sim e também o não
já perdi o medo de andar de avião...

(Para Yagho Lima, meu afilhado, extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

O Jogo Não Tem Regras

Resultado de imagem para menino jogando cartas
o jogo não tem regras
não tem regras tais
vamos todos lá fora
ficar sob temporais
o jogo não tem ética
matemos os quintais
ele não possui freios
só existem carnavais

o jogo não tem regras
é apenas um dança
vamos então disputar
acabou a esperança
quanto mais tentamos
a mão nada alcança
pois andar por aí
ah! como isso cansa

o jogo não tem regras
não possui coração
pois a vida e a morte
são apenas distração
somos acorrentados
nossa própria paixão
e a nossa vã lógica
não tem explicação

o jogo não tem regras
é tudo apenas disfarce
o relógio vai andando
quem dera ele parasse
a dor que vai doendo
que logo se acabasse
abriram nossa gaiola
e a ave então voasse

mas o jogo não te regras...

domingo, 28 de julho de 2019

Ditirambo Norueguês com Ares de Sofisma

Resultado de imagem para abutres
Fosse o que fosse falta-me o ar, isso é o resultado consequente de minhas mais nobres intenções. A velocidade de partículas eletrônicas acabam iludindo-me mais que determinadas tentações um tanto escusas. Eu quero sem cessar dias bonitos, desses que só podemos ver em leilões inspirados de qualquer zona sul. Tento me comportar sôfrego com as luzes todas apagadas, são costumes da moda desses dias turbulentos em que se gastam mais adjetivos que estranhas virtudes.
Salve-se quem puder!  Gritavam os modistas com afetado desespero como é conveniente em determinadas ocasiões...
É um grande festim, meu senhor, onde não faltam rabecas medievais e nem guerras de travesseiros. As cores destoantes estão sempre na última moda e as modelos acabaram se transformando em carpideiras que gargalham sem nenhum pudor. Aliás, por falar em pudor, permitam-me a indiscrição de ser o mais simples dos mortais. Nunca tive culpa disso, quebra-cabeças acabam me cansando de vez e isso pode ser muito triste ou muito alegre, dependendo de qual ocasião.
Meu reino por um cavalo! Exclamou o jóquei feminista que nasceu com apenas dois metros e dez centímetros de altura...
É tarefa deveras árdua cortar as unhas ao invés de roê-las. Quero absorver paixões gota por gota, como o torturante soro que obedece a lei da gravidade, acabo tenho assim a paciência de um gato ou a leveza de um cão que percorre águas sem fins nas calçadas em dias alegres de chuva.
Se não têm pão, que comam brioches! A dondoca sabe fazer as colocações mais temáticas com nervos mais que aço...
Alguns filósofos desconhecem que o são até a hora em que um dedo vem e os apontam. Viu? Os gestos mais simples dispensam certos maquinismos irritantes e o improviso é algo friamente calculado se invertermos todos os termos que pedem as expressões algébricas com determinados decoros exagerados.
Os ingleses estão chegando! Avisou solenemente o diretor do cursinho enquanto limpava seus bigodes de gordura sintética...
As novas receitas expostas no programa matinal da televisão ensina mais sobre o funcionamento universal mais que alguns empoeirados compêndios que se escondem em sinistras gavetas. Se fizermos da vida uma grande brincadeira, talvez não sairemos com um prejuízo tão grande assim, é só questão de habilidade.
O que que a baiana tem? Caim disse tal coisa depois que deu um chega-pra-lá em seu irmão Abel...
Non sense aos montes, isso sim é que é bom, que leiam as dicas do almanaque as suburbanas que costuram em casa com seus cigarros no canto da boca em horas quase especiais. A exata compreensão da vida é suprida pela falta exaustiva de certos detalhes, cartas só podem ser lidas deliciosamente com certos atrasos propositais enquanto a mente ainda funciona.
Quem não se comunica, se complica! Eis a explicação para as crateras de Martes que foram anunciadas num periódico escrito à mão...
Gritavam os arcanos mais recônditos em mais veladas inscrições rúnicas em banheiros sujos de alguns barzinhos suburbanos de algum bairro qualquer. Nesse exato momento inexato aconteceram algumas profecias que erraram por uma questão de lógica como gravetos utilizados em sinais acrósticos e essa rotina inédita acaba me deixando nervoso há seculos.
A sorte está lançada! Eram os ecos dos jogadores de bingo no tempo da saudosa Ana quase inda agora...
E muitos ritos foram feitos como produtos novos, afinal de contas, são as exigências do mercado consumidor que dispensou as pulgas e os baralhos roubados em episódios dantescos de uma brincadeira incógnita e rebelde que agora está consumada e nem mais cinza alguma restou. Abacaxis e subidas ao morro nunca mais.
Os abutres agora usam do mais fino uísque importado e abusam de sinais de fumaça...

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Perseguição

Imagem relacionada
Eu te persigo
tropeço e caio
desse caminho
eu nunca saio

Na selva escura
nós nos perdemos
e alguns abismos
nós nunca vemos

Caço por dias
a vida inteira
mais linda caça
tão prisioneira

Eu te persigo
que perseguição
devolva-me logo
meu coração...

A Nova Estética Artística Segundo C.A.


Enquadro-me nestes caras fora de esquadro
que compõem os seus temas mais vulgares
onde mais vale a liberdade do que ser burguês
moço bem-comportadinho com os seus ares

Politicamente incorreto em minhas correções
em que não me importo com reais comoções

Não me importo com quem veio antes de mim
afinal de contas eu só consegui ser apenas eu
são tantas os labirintos em que eu me perdi
que até a minha pobre sanidade se perdeu

Inquietamente quieto em minhas ambições
eu sou o objeto de minhas irreais projeções

Faço-me de surdo e cego ao mesmo tempo
desconhecendo completamente à minha volta
em silêncio abro silenciosamente o cadeado
e eis que então o meu demônio enfim se solta

A trajetória de todos é um trajeto de empurrões
onde são guardadas suas indevidas proporções

Até fico cansando só que a arte é grande vício
e a inspiração é como um temor que me inquieta
e as palavras vão se repetindo aos meus ouvidos
da forma mais incômoda e também indiscreta

É quase inútil fazer dos invernos grandes verões
e as feras mais mansas que possuo são os leões

Preparo-me finalmente com um esmero excessivo
sou apenas mais um inocente em minha temática
errei nos cálculos e acabo assim me confessando
eu nunca foi boa a minha natureza matemática

Nem sempre o que sinto eu digo faltam declarações
os dramas que passamos não passam nas televisões

Cansado estou e mais cansado ainda vou ficando
entender todos os meus versos pode ser tarefa atroz
porque os meus sonhos vão então enlouquecendo
e a minha loucura acaba sendo enfim a mais veloz

Eu mesmo faço os meus dramas com suas razões
como um mendigo que conta paciente seus tostões

sábado, 27 de julho de 2019

Ainda Não


Eu ainda passo por velhos caminhos como quem conhece a palma de sua mão, no céu acabaram-se as novidades, as estrelas são minhas velhas conhecidas e faz algum tempo que não brincamos mais. 
Eu envelheci, mas a culpa não foi minha, até que tento segurar o menino dentro do peito, mas o choro acaba atrapalhando um pouco. Às vezes me desnorteio e me perco em atalhas que desconheço, mas afinal de contas isso é mais que normal.
Ouço alguns sons desconhecidos de minha fraca memória, não sei distinguir bem se são os tropéis dos cavalos que carregam as fatalidades que devo enfrentar ou se são apenas alguns sons e mais nada.
Cansei de tudo, sobretudo, cansei de me cansar. A preguiça acabou indo embora e mesmo com as dores nos ossos, insisto. É velho projeto este, subir nas nuvens pela velha escada de degraus já quebrados, como o velho acrobata que faz gelar o coração da plateia.
Não quero mais nenhum carnaval, acabei com o folião que se alegrava por quase nada, isso é apenas agora a cena de um filme em câmera lenta e com legendas que passam sem que ninguém leia. 
A minha arte agora é outra, vem de outras paragens, esqueço dos esquemas que arquitetei com as palavras para frases de efeito, em eternos novelos agora estou. Simples, muito simples assim.
Os carros vão apressados pelas avenidas e eu quase rio de uma piada que acabei não fazendo, minha loucura ainda insiste que somos uma boa parceria, no final das contas, até que os lucros são bem bons.
Não sei de muitas coisas, muitas delas mesmo, isso até pode ser uma grande vantagem. Não como os que nada sabem e nem sabem disso, eu sou meio diferente. Eu conheço as artimanhas dos sujeitos sujos e deixo que eles mesmo se afoguem em sua lama.
Gostaria de muitas coisas, algumas delas parecidas com belas palavras de alguns livros meio antiquados, mas as regras acabaram sendo feitas para serem quebradas, isso não é muito bom, mas também não é muito ruim.
Um poeta à mais - é isso que sou. Sem o olhar lânguido e nem rebelde, ando por vales intermináveis em dias sufocantes que parecem apenas isso. Sou sonhadoramente realista como poucos e esses poucos acabam sendo muitos. Não tenho bandeiras, esqueci a minha em casa, deve estar pendurada no varal.
Dizem que falo demais, mas é assim mesmo. Vou de um extremo á outro, sem algum intervalo comercial, ventos bons que me tragam de volta, se existir uma nova história para contar não reclamarei de tal fato.
Fico pensando em interessantes questões, só que a timidez acaba me aprontando das suas. Esqueço as perguntas e se as respostas vierem, acabo estranhando também.
Não me perguntem sobre o que a morte esconde em seu negro manto, ainda não fui lá, ainda estou por aqui...

(Extraído da obra "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Talvez Esse Rio

Resultado de imagem para riacho
Talvez as coisas mudem,
de repente aconteça,
a noite vá embora
e então amanheça,
os medos vão embora
dessa minha cabeça

Um rio leve para longe as coisas más,
as tristezas todas fiquem lá atrás

Um novo amor pode surgir
e o velho amor então esqueça,
uma chama nova no inverno
que a minh'alma aqueça,
eu olhando um céu bonito,
a nova estrela cadente desça

Um rio leve o meu barco para o mar.
lá onde eu possa então sonhar

A coragem substitua o medo
e em mim então permaneça,
uma nova canção venha logo
e na solidão me entreteça,
mesmo que tal presente
eu mesmo não mereça

Um rio siga sempre e sempre assim
sem nunca sair de dentro de mim...

Um Sangue

Resultado de imagem para rio de águas vermelhas
Um sangue
que corre pela veia...
Muitas lembranças
espalhadas na areia...
Os meus passos
tropeço aqui e ali...
A minha vida
foi embora e nem senti...
Eu sou o ontem
eu não sou mais o agora...
Somente a tristeza
é que nunca demora...

Um sangue
que morre pela areia...
Minhas esperanças
se foram na lua cheia...
Os meus fracassos
que nem mesmo senti...
E quem foi embora
eu nem ao menos vi...
É um sol morto
que brilha lá fora...
E a própria vida
é que está indo embora...

(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

O Poema

Resultado de imagem para livro sobre a mesa
O poema está no telhado
o poema está no portão
num silêncio guardado
tanto um sim como um não
está na dança das horas
num porto de solidão
impacientes demoras
chegar logo à estação

O poema é mais antigo
é bossa nova inovação
é meu amigo e inimigo
se escondeu lá no porão
se perdeu pelas estradas
está fazendo a sua lição
é o medo de subir escadas
e também de pôr a mão

O poema será um dilema
a mais delicada questão
qual será o seu tema
se serenidade ou paixão
ele é o rei da cidade
ele é o profeta do sertão
o jovem em sua mocidade
e é o cansaço do ancião

O poema é apenas vertigem
é a placa de contramão
parece a pureza da virgem
é a mais pura devassidão
é o que quero e não quero
os acordes de uma canção
aquilo que eu não espero
são os tiros sem munição

O poema está no telhado
o poema está no portão
o ser que já foi criado
também dono da criação
está na dança das horas
num porto de solidão
arranquem logo as escoras
começou a demolição...

sexta-feira, 26 de julho de 2019

Oi, Eu Sou O Medo

Imagem relacionada
Oi, eu sou o medo,
venho lhe visitar hoje
como faço todos os dias
quando você acorda para o mundo,
entro no seu peito, 
na sua mente,
na sua alma,
para que todos eles
sejam cheios de preocupações,
para que seus passos sejam incertos,
para que você enxergue escuridão
mesmo estando sob o sol...

Oi, eu sou o medo,
chego perto do seu ouvido
para lhe dar notícias preocupantes
sobre como vão todas as coisas,
lhe colocar à par 
de como tudo vai tão mal,
como a violência cresce,
como a indiferença impera,
como as pessoas estão
cada vez mais malvadas
e cada vez mais funciona a regra:
ninguém é de ninguém...

Oi, eu sou o medo,
o mais exímio dos dançarinos,
sei dançar no aço dos punhais,
viajo na velocidade das balas,
canto no barulho dos pneus derrapando,
me avermelho nos olhos do assassino
e na respiração ofegante da vítima,
sou a fome que se aproxima,
as bombas que rasgam os céus,
a distância entre a dúvida e a certeza,
o falso carinho que fere
e que pode até lhe matar...

Oi, eu sou o medo,
o velho relógio não pára nunca,
as rugas são invasoras terríveis,
o espelho está ficando embaçado,
a vida escorre pelas paredes
e os muros vão caindo,
a segurança que temos é insegura,
até a nossa fé vai indo embora
ao sabor de rudes ventos,
é impossível seguir os que amamos
porque cada caminhada existe
por si só em sua solidão...

Oi, eu sou o medo,
mesmo quando você diz calmamente
que eu nunca fui nem serei seu,
você está contando uma mentira piedosa,
na verdade, eu nunca vim encontrá-lo,
nosso encontro foi permanente,
a culpa não é sua nem é minha
se somos dessa forma e não outra,
forma e essência andam juntas,
só existe um meio de escapar 
de minha presença tão incômoda:
encara com toda a serenidade vida e morte...

Oi, eu sou o medo...

(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quinta-feira, 25 de julho de 2019

Coisas Perdidas

Resultado de imagem para menino com olhar distante
Aquele encontro marcado
pela diferença de alguns segundos
tudo seguiu em frente
e nem mais o acaso teve forças...

Aquele plano traçado
e mesmo os lances mais ensaiados
foram dar bem no nada
e assim veio alguma tristeza...

Aquele desencontro de olhos
que não poderão ser mais vistos
como um mar tão distante
que vai dar em outras terras...

Aquela pergunta não-respondida
indagações que ficarão n'alma
e que não sairão de lá nunca 
até que sejam então apagadas...

Aquelas festas já acabadas
que mal foram começadas
em que o luto foi bem maior
do que qualquer comemoração...

Aquele corpo agora ausente
em que a solidão veio chegando
e aos poucos virando rotina
e nada mais acabou sobrando...

Aquelas muitas coisas perdidas
e aquela sentença: nunca mais...

segunda-feira, 22 de julho de 2019

Quase Isso Também

Imagem relacionada
Eu sou aquele velho insone
que percorre silenciosamente
quase todos os cômodos da casa
atrás de mosquitos imaginários
enquanto as madrugadas
acabam morrendo aos poucos
eu sou apenas um arremedo do que fui
eu sou quase isso...

Eu sou apenas mais um cidadão
que vê uma tecnologia desvairada
que aos poucos engole as pessoas
e olha que nunca fomos bons mesmo
mas todos os exageros à parte
fica difícil engolir tanta mentira
eu sou apenas um parafuso na máquina
eu sou quase isso...

Queria ter eu mais um pouco de alegria
dessas alegrias que são mais bonitas
porque não são apenas as nossas
mas são as alegrias de todos os homens
só que como andam as coisas
a sobrevivência virou um ato extremo
eu sou ao mesmo tempo capataz e escravo
eu sou quase isso...

Mesmo assim vastos ainda são meus céus
e que cada delírio seja muito bem vindo
sonhar é tão necessário quanto respirar
e mesmo que o amor tenha ido embora
eu ainda amo a minha velha alma
e até a hora que a morte vir me buscar
eu ainda continuo sendo um sonhador
eu sou quase isso...

(Extraído da obra "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Demasiado

Imagem relacionada
Em todas as coisas exagerado
demasiado somente
quando estou afastado
quando estou presente
quando estou acordado
quando estou dormente
se estou esfriado
se estou fervente...

Em todas as coisas exagerado
demasiado exatamente
quando estou malvado
quando estou benevolente
quando estou alterado
quando estou normalmente
se estou calado
se estou eloquente...

Em todas as coisas exagerado
demasiado loucamente
quando estou sangrado
quando estou contente
quando estou armado
quando estou carente
se estou fadado
se estou consciente...

Em todas as coisas exagerado
demasiado demasiadamente..

Teoria da Possibilidade

Resultado de imagem para impossível
Tudo é possível
o impossível sobretudo
o acaso bate palmas
e pede bis
a plateia delira

Tudo é possível
o insólito está na moda
sustos temos
manchetes variadas
sobre o nada

Tudo é possível
o sol faz serão
e as madrugadas
se enchem 
dos mais azuis girassóis

Tudo é possível
os soldados num festim
comemoram alegres
que os obuses
acabaram por falhar

Tudo é possível
os malvados
ficaram febris
e acabaram sendo afetados
pela empatia humana

Tudo é possível
os amares se encontram
na diferença
de um minuto
quase perdido

Tudo é possível
e as nuvens nos convidam
de forma insistente
para gozarmos
o mais íngreme dos bailados

Tudo é possível
a fé deu adeus ao interesse
e anda por outras terras
procurando seus pares
num absoluto sorriso

Tudo é possível
a beleza procurou 
a ternura que dói 
e a encontrou dormindo
em algumas calçadas

Tudo é possível
o impossível sobretudo...

sábado, 20 de julho de 2019

Dormindo

Não me lembro de tanta coisa que passou
sei que meu peito aperta
se a mente não consegue lembrar
deve ter sido tão bom para minh'alma
mas foi como uma festa antiga
onde todos os meninos brincavam
e eu estava no colo de mamãe
e eu estava dormindo...

Até algumas cicatrizes clarearam
e eu não consigo vê-las sobre a pele
só sei que as dores foram muitas
como tantas outras que depois senti
a vida é feita de tantas delas
e o choro é uma conta incontável
e eu estava nos braços de papai
e eu estava dormindo...

O amor seguiu seu caminho adiante
mesmo não sendo chamado
assim como os ponteiros do relógio
desobedecendo as nossas súplicas
passageiro é a palavra de ordem
e os olhos crescem com a distância
e eu estava nos braços da minha amada
e eu estava dormindo...

Dormindo... Apenas dormindo...

(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

O Mais Absurdo


... não sei e nem quero saber
o que me leva à crer
se os sonhos se realizarão
não é essa bem a questão
o que me basta é sonhar
e andar até sangrar...

... não sei e nem quero saber
o que me faz tão tremer
mesmo se está calor
e ainda com fome e com dor
vou assim prosseguindo
mesmo se vou caindo...

... não sei e nem quero saber
se sou culpado ou você
mas continuo amando
e esse amor esperando
tudo é uma grande dança
mesmo a tal esperança...

... não sei e nem quero saber
se um dia iremos morrer
se uma hora iremos partir
se tudo irá ficar por aí
se acabou a nossa cena
se algo valeu a pena...

... não sei e nem quero saber...

(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

A Mente Mente

Resultado de imagem para menino raciocinando
A mente mente
e nem sente
mente quando diz
que é feliz
que foi tudo por um triz
que é apenas inocente

A mente mente
infelizmente
mente em boas maldades
nas saudades
quando diz ter liberdade
que é apenas carente

A mente mente
de repente
mente pra ser perdoada
mas deu em nada
o final dessa estrada
o sol está no poente

A mente mente
e está doente
mente com ar despreocupado
se está certo ou errado
se errou no seu lado
vamos beber a aguardente

A mente mente...

(Extraído da obra "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Nasci Numa Madrugada Dessas Frias de Agosto

Resultado de imagem para sepetiba fotos antigas
Nasci numa madrugada dessas frias que correm por aí, numa noite escura de um agosto de algumas pragas e também tristeza. Minha mãe sentia dores desde o dia anterior, como tudo no mundo assim o é - somente dor.
Não me lembro do meu primeiro choro (um de muitos e muitos), mas deve ser um refresco que a turma lá de cima nos concede. Sei hoje é filmado, fotografado, documentado, mas naquela época não havia tanta crueldade disfarçada com meigas e belas tintas.
Eu fui um produto da fuga, os socos e os pontapés doíam e o medo era grande. As coisas tinham a complicação de sua época e o ciúme era justificado pela violência. E, apesar das expectativas, no fundo serem até boas, a morte pode vir quando é chamada.
Pegue a bicicleta, meu tio, é urgente que nasça mais um sofredor para o mundo, a esperança corre nas veias até dos mais desesperançados e sempre rimos, mesmo quando não há graça nenhuma na graça que contamos.
O cearense calado chora de emoção, agradece ao seu Deus cristão que correu tudo bem e a senhora bonita festeja do seu modo etílico. Se se pudesse, o cabaré da Maria Carioca estaria em festa, mas isto é uma outra história, enterrada ou não.
Tempo de frio, sim, muito frio, meu senhor, de gelar as veias e paralisar o coração. Tempo de cachorro louco e outras lendas que correm nas bocas e no imaginário dos homens. Muito tempo, tempo de bicas nas ruas e algum decoro, mas só algum. Tempo de muito preto-e-branco e algum colorido, das notícias do rádio e do sonho remoto de uma televisão.
Sepetiba é quase logo ali, vamos lá, a audácia supera algumas coisas, esconde algumas outras. Sepetiba é logo lá, é o terreno místico onde vendedores de milho cozido são filósofos e os caras dos carrinhos de refrigerante fazem profecias. As pranchas de madeiras são nossas naus e os aviões de isopor sangram os céus. Sepetiba é quase cá, sua água e sua lama, seus sonhos que morrerão como todos.
Tempo bendito sim, tempo maldito também, de surpresa e de vinho pra comemorar, tempo de susto, tempo de futuras tristezas, de saudades infinitas, de um destino que faz brincadeiras de mau-gosto, tudo fica, mas tudo passa.
A garrafa do vinho quase barato escorregando da mão do homem rude, o líquido esparramado no chão do quarto, os cacos virando estrelas de não-sei-onde.
- É um menino, seu Eduardo...
- ?
- Nasceu, seu filho é um menino, seu Eduardo.
Câmera lenta na cena.
- Dona Odete, meu filho nasceu perfeito?
...

(Extraído do livro "Teoria do Medo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Fina Flor

Resultado de imagem para flor amarela
Fina flor, linda flor
Que por ela me dano,
É prazer, mas é dor,
Eu sou apenas humano...

Haja fome, haja sede
É apenas uma armadilha,
Cair direto na tua rede,
Pois cada um fio brilha...

Fina flor, fino horror
Que por ela me insano,
Onde vá, onde vou,
Está fora do plano...

Haja fome, haja sede
É apenas mais um dilema,
É um teto sem parede,
Não passa de um poema...

Calor Frio

Imagem relacionada
a métrica é cética e anti-ética
a modelo pornô tem um orgasmo
eu gasto toda a minha dialética
pra ficar no mesmo marasmo

espada de papel do samurai
todas as dúvidas caíram por terra
mais um dia e o arranha-céu cai
a nova piada do dia é a guerra

economizamos cada um tostão
para pagarmos um enterro decente
não se trata nem dessa questão
mamãe me socorre eu tou doente

a urbanidade me cerca de requintes
que acabam arrancando meus dedos
desculpe lá alguns dos meus acintes
são produzidos pelos meus medos

a verborreia se torna contagiante
na proporção exata da minha fome
não sei se retrocedo ou sigo adiante
a minha loucura nunca teve nome

acabei tendo a sensação estranha
poderá ser mais um infarto por dia
mesmo correndo a gente apanha
apanha da tristeza e da alegria

eu canto aqui esse meu protesto
como se fosse um pião em rodopio
e em cada olhar e em cada gesto
sinto um calor que é o mais frio...

(Para o poeta Bruno Aguilera, extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quinta-feira, 18 de julho de 2019

Vivo

Imagem relacionada
Entre a rosa e o espinho,
tão sozinho...
Entre a insônia e o sono,
meu abandono...
Entre a missa e o carnaval,
tudo vai mal...

Porém vivo...

Entre o amor e o desamor,
a minha dor...
Entre a máscara e a verdade,
a minha idade...
Entre o acaso e o desvelo
meu desmantelo...

Porém vivo...

Entre o tudo e o meu nada
minha estrada...
Entre o que serei e o que era,
a minha espera...
Entre meu anjo e a serpente,
ando tão doente...

Porém vivo...

Entre a cabeça e o coração,
perdi a razão...
Entre a rotina e a festa,
pouco me resta...
Entre os gregos e os troianos,
vão-se os anos...

Porém vivo...

Entre a rosa e o espinho,
quero um carinho...
Entre a insônia e o sono,
não sou meu dono...
Entre a missa e o carnaval,
tudo é igual...

Porém vivo...

Morto

Imagem relacionada
Morto sim,
morto enfim, 
morto entre os mortais,
por entre estes carnavais,
morto, porém vivo, bem mais...

Morto tão, 
morto então,
morto entre as feras,
morto sem primaveras,
morto sem mais quimeras...

Morto até,
morto em pé,
morto bicho manso,
morto sem descanso,
morto estrelas alcanço...

Morto vivo,
morto motivo,
morto entre os normais,
andando pelos temporais,
morto, de uma vez, sem mais...

Eu Até Que Poderia

Imagem relacionada
Poderia mentir para mim mesmo,somos marionetes aí, achar que tudo pode ser muito engraçado, sobretudo as tragédias que povoam os destinos e acabam seguindo seu rumo comum, mas nunca normal...
Sim, sim, eu até que poderia...
Poderia me preocupar com a simples aparência, achar o pano mais importante que a carne. formar frases sem sentido com palavras bonitas, ir comendo as cores ao invés de sabores até que estivesse todo impregnado do meu veneno...
Sim, sim, eu até que poderia...
Poderia virar a cara, fingindo que não vi nada de errado, que a desgraça alheia inexiste, ou pelo menos não é culpa minha, mas todo canalha que senta no trono fui eu mesmo que assim o deixei quando a minha omissão é meu maior crime...
Sim, sim, eu até que poderia...
Poderia colocar num saco de lixo ou mesmo numa sacola de supermercado as perguntas desagradáveis que me atormentam e acabo não encontrando resposta alguma, independente do Deus que eu finjo crer e que serve de muleta para minhas fraquezas...
Sim, sim, eu até que poderia...
Poderia ensaiar a pose mais adequada, fazer caras e bocas na frente das mais inocentes câmeras, como uma sofrível imitação barata de um Narciso antiquado que tenta ser moderno como um peixe que quer sobreviver na areia...
Sim, sim, eu até que poderia...
Poderia sair correndo e tentando escapar de uma morte que não precisará me alcançar, eu a carrego dentro de mim desde a primeira respiração, não é uma contagem progressiva esta que mantemos em nós, é apenas regressiva...
Sim, sim, eu até que poderia...
Poderia alegar a sanidade que não possuo, fruto da mesma humanidade que sai atingindo tudo o que encontra, feito um vento malvado que arranca as folhas sem estarem mortas e mata as flores antes mesmo de abrirem...
Sim, sim, eu até que poderia...
Poderia falar das dificuldades porque passo, das dores que sinto, apenas para mostrar que as frases que povoam as nossas ilusões são colocadas em prática, mas não somos civilizados como pensamos, somos apenas canibais com uma nova fantasia...
Sim, sim, eu até que poderia...
Poderia tentar sumir por aí, me disfarçar no meio de um rebanho desses, mas todas essas tentativas falham, mais cedo ou mais tarde todas as ovelhas serão abatidas para um banquete onde só existem servidores e nunca servidos...
Sim, sim, eu até que poderia...
Poderia até não poder mais, mas é que os versos continuam implacavelmente...

(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Uma Experiência Musical




Primeiro ensaio para musicar um poema de Carlinhos de Almeida -  "Jullyano e As Nuvens" com participação de Jullyano Lourenço "Poetinha" (Voz) e de Bruno Aguilera (Voz e Violão).

Pouco Tempo

Resultado de imagem para olhando para o relógio no pulso
Vivi mais de meio século
E o que deu nisso?
Muitas cenas, poucas cenas
(E todas foram embora...)
Aquelas que gostei,
Aquelas que não gostei,
Algumas marcaram, 
Outras nem tanto...
Vivi mais de meio século
E o que deu nisso?
Muitos gestos, poucos gestos
(Uns bons, outros ruins...)
Os que fiz por cálculo,
Outros por precipitação,
Uns por mero desespero,
Quase nada adiantou...
Vivi mais de meio século
E o que deu nisso?
Algumas verdades, outras mentiras
(Às vezes indistinguíveis...)
A expectativa do esperado
Que não aconteceu
Unido ao insólito que veio
E que acabou ficando...
Vivi mais de meio século
E o que deu nisso?
(Como se meio segundo fosse...)
Entre as ilusões que me feriram
E verdades que me machucaram,
Na selva existem muitas armadilhas,
Umas humanas, outras do acaso,
Sem que ninguém possa medi-las
Com uma matemática qualquer...
Vivi mais de meio século
E o que deu nisso?
Nem eu mesmo sei...

(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Duas Faces da Mesma Urbanidade

Resultado de imagem para velho cansado
A minha urbanidade 
me incomoda bem mais que um calo
e acabo falando tanto
que nem me lembro mais do que falo
eu sigo todas as tendências
que nos fazem escravos desta moda
mas como tudo isso dói
como tudo isso me incomoda

eu durmo no Rio 
eu acordo em São Paulo...

A minha sanidade
está aposentada desde muito tempo antes
e as coisas mais simples
acabaram virando batalha de gigantes
eu remo contra a maré
mesmo sabendo que a canoa está furada
e até aquela velha rebeldia
está também quase que aposentada

eu carnavalo no Rio
eu amaluqueço em São Paulo...

A minha duplicidade
vai sangrando cega por todas estas ruas
e não sei onde mais vai dar 
as vidas vestidas e as mortes tão nuas
eu não sei mais qual destino
só sei que aos poucos vou chegando
não importam mais os pés
nem reparo se eles estão sangrando

eu gargalho no Rio
eu choro em São Paulo...

(Para o grande amigo, músico e poeta Maurício Musa, extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...