sexta-feira, 26 de abril de 2019

Bala

bala perdida,
bala achada,
acabou a vida,
mais nada...

o que temos para hoje, sem amanhã,
o sangue no asfalto,
as mãos para o alto,
morte, acabei virando o teu fã...

eu fico procurando aí pelos dos jornais,
esse é o meu país,
é o que deixa feliz,
poder me abrigar destes temporais...

a culpa nunca foi e nunca será minha,
a culpa é sua,
a culpa é da rua,
a violência agora é nossa rainha...

o trabalhador indo para o trabalho,
o menino no sinal,
a cada dia seu mal,
a plantação sem o espantalho...

o negro porque é essa a sua raça,
o pobre por não ter,
é privilégio viver,
quando não é só por pirraça...

a arma está na mão do cão,
o cão está para trás,
deu-se um tiro na paz,
o irmão matou o seu irmão...

bala perdida,
bala achada,
talvez a vida
desesperada...

(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Insalubre (Miniconto)

Insalubre era a casa dela (se é que podia ser chamada de sua ou ser chamada de casa). Qualquer favela tem coisa bem melhor. Sem porta, sem j...