sexta-feira, 3 de outubro de 2025

Quase Todos Os Meus Dentes


 Já perdi

             quase todos os meus dentes

            quase todos os meus parentes

            quase todas as minhas vertentes


Num labirinto de espinhos

De falsos caminhos

Onde estamos todos sozinhos

E somos todos mesquinhos


Já perdi

             quase todos os meus dentes

            quase todos os meus pacientes

            quase todas as minhas serpentes


Numa cama macia de pregos

De pintores cegos

Que só conhecem seus egos

E somos todos apenas legos


Já perdi

             quase todos os meus dentes

            quase todos os meus repentes

            quase todas as minhas nascentes


Me sinto como numa novela

No meio da favela

Onde não há nenhuma aquarela

E tudo mais é uma balela


Já perdi

             quase todos os meus dentes

            quase todos os meus parentes

            quase todas as minhas patentes...


(Extraído do livro "Escola dos Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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