domingo, 12 de outubro de 2025

No Estreito Túmulo dos Vivos

Ele paga os seus boletos.

Ela paga as suas prestações.


E os cabelos de ambos embranquecem

Mesmo antes da hora.


Ele é lesado nos impostos.

Ela é lesada nas taxas.


E o encanto de qualquer uma coisa

Acaba desaparecendo.


Ele obedece as redes sociais.

Ela obedece os políticos cruéis.


E não há mais tempo para nada

Nesse arremedo de vida.


Ele é escravo do capital.

Ela é escrava do tempo.


Até o tesão acaba acabando de vez

Como se fosse uma doença.


Ele bate cabeça pra moda.

Ela bate cabeça pros algoritmos.


Os mamulengos sofrem cada vez mais

Na mão de meninos traquinas.


Ele trabalha pra seus vícios.

Ela trabalha pra suas futilidades.


Nossas cidades são apenas labirintos

Sem ter saída alguma.


Ele se envenena com a poluição.

Ela se envenena com agrotóxicos.


Os prédios desabam sobre as cabeças

Enquanto magnatas gargalham.


Ele não pode nem mais amar.

Ela não pode nem mais sonhar.


Nossos olhos estão cegos mesmo vendo

Porque os dias são escuros.


Ele pensa que é um ser humano.

Ela pensa que poderá ser feliz.


Mas ambos não sabem que já morreram

E isso aqui é apenas seu inferno...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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