sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Balé para Principiantes Em Pontas de Pregos

Misturada mental de todos os dias

Sopros de açúcar em ares duvidosos

Estética estranha aos que são cegos

Piedades em tiros de misericórdia...


Nós somos as testemunhas oculares

De algo bem mais que invisível...


Celulares divinizados em vitrines

Calma semântica destes ricaços 

Vamos lotar de vazio todas as ruas

Intermináveis jogos de buracos...


E nós somos os alvos ambulantes

Até da tranquilidade mais insólita...


Varandas frias de noites de verão

Dificuldade aparente do mais óbvio

Sermões calculados milimétricamente

Assentos com bactérias de coletivos...


E nós somos os autores fortuitos

Desta nova tragédia quase grega...


Desfile de saltimbancos tão maníacos

Graça de comediantes só desgraçados

Doadores de miséria para os populares

Assassínio na feira livre sob a luz do sol...


E nós somos bailarinos feitos de cartolina

Em paredes de uma escola abandonada...


Curiosidade de quem não é imaginativo

Lei do Cão para donos de pets premiados

Degustação profissional de monte de lixo

Doce de leite para alérgicos em lactose...


E nós somos ganhadores do gran prêmio

De uma bela porrada no meio da cara...


Carmem Miranda baixou feito pombagira

Um dente desmaiou da boca de um banguela

Arrotei dançando fandango ontem no front

O hipertenso devorou mais um quilo de sal...


E nós somos principiantes em pontas de pregos

Tentando dançar esse balé que chamam de vida...


(Extraído do livro "Pane Na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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