Eu repito algumas mesmas palavras pela pequenez extrema do meu vocabulário, mas as emoções gostam de mudanças, mesmo que só em certos nuances, imperceptíveis até. A culpa é da minha gramática assaz preguiçosa que prefere andar em passos lentos e pequenos.
Posso contar histórias quase sem graça, mas a verdade nem sempre se arruma para seu triunfal desfile. O comum é que mais temos diante dos nossos olhos e geralmente sabemos de antemão sobre vitórias e fracassos. Teimar é o que mais podemos em todos os nossos vãos momentos.
Eu repito muitas coisas porque acabo perdendo as contas, assim como quem acaba puxando um simples fio e acaba desfazendo o casaco por inteiro. As dores são bons visitantes e nunca esquecem de suas insistentes manias de visitar-nos.
Os gostos acabam sobrando em nossas bocas e misturam entre si. Sou muitas misturas em um simples copo de desilusões, faço a música repetir até que enjoe desta vez. Acabaram colocando nisso o nome de rotina, mas poderia ser chamada de desilusão.
Pode ser que o meu grau de loucura tenha ultrapassado os limites da segurança que os sábios classificam de forma mais convencional, mas certas perguntas foram feitas por praxe, não para serem respondidas. Respostas podem fazer rir ou trazer algum perigo dependendo de pompa e circunstância.
Não desejo nada que não seja meu, os sonhos alheios são apenas venenos que nos fazem passar mal, mesmo que não nos matem. Se as pessoas compreendessem isso, o egoísmo ficaria sem nada para fazer e acabaria indo para outras freguesias.
Não caprichemos muito em castelos de areia, os ventos e as marés adoram brincadeiras de mau-gosto e nunca estamos sozinhos mesmo quando na solidão. Somos acompanhantes insistentes de nós mesmos.
Tudo o que penso deveria ter sido exatamente aquilo que não deveria ter pensado, muitos pesadelos já se acostumaram a viver em nossos momentos de solene vigília e nem fogem mais da claridade.
A estética gosta de forçar a barra e a contemplação em demasia gosta de acabar com encantos, uma dose só pode ser mais inesquecível que os mais profundos cortes que nos atingem querendo ou não.
As filas estão grandes, mas as plateias estão vazias. Assim como certas bocas que adoram falar apenas disparates, mas se ofendem com o rótulo inevitável da tolice. A vida é apenas uma consequência das muitas tarefas que atrasam a morte em seu obrigatório trabalho.
Geralmente ficamos preocupados com o meras banalidades, isto é muito preocupante, a boçalidade enche as prateleiras e o comércio acaba gerando exorbitantes lucros e esta mercadoria não aceita devoluções.
Até não queria ser rude, sou sincero, mas é inevitável que tal aconteça, há mais motivos para sair andando em silêncio do que se cansar com repetições baratas. Nem sempre se tem a grande sorte de uma calma solidão.
Os domingos são sempre iguais, mas as segundas, nem sempre. Até a vulgaridade tem um certo encanto, mesmo que seja fugaz como a maioria das invenções duvidosas. Não existem coincidências, apenas descuidos de observação, nada mais.
Há perdão para todos os pecados, menos para os que se comete com boas intenções. Eu gostaria de mudar à mim mesmo, mas a oportunidade foge mais que areia entre os meus pobres dedos, até alguns anéis tentam me ajudar, mas acabam falhando.
Eu repito os rituais mais estranhos que aprendi, mas falta gasolina para dar partida no motor. Todas as calmarias foram feitas para resultarem em algum espanto, pequeno ou não. As lápides são resumos de toda nossa inutilidade. Toda história vai ao nada e o abraça ternamente...
(Extraído da obra "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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