quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Quase Isso

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eu quero sair por aí
como quem se desespera
em cada manhã vadia
esperando esperanças
que afinal nunca virão
os meus mares secaram
por puro abandono
por ausência de alegria
um fósforo riscado
acaba sendo relâmpago
e minha simplicidade
é apenas um disfarce
para a pobreza dilacerante
eu bebi e bebi até morrer
e ressuscitei das cinzas
espalhadas num jardim
flores é o que quero
uma à uma com afinco
mas pertencem ao ontem
o fogo não queima mais
pois as fogueiras dormem

assim como eu o quero
dormir agora profundamente
e para sempre até não mais
um menino olha quem sou
e sacode a cabeça negativamente
ele não conhece a máscara
que me abrigou por anos
não uma máscara malvada
mas a da tragédia mansa
que desistiu de quase tudo
não há mais nada! não há!
e mesmo assim continua
como um carro sem pressa
ou suicida com avidez
sem precipício para se atirar
não há mais o que dizer
e por enquanto é quase isso


(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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