sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Nossa Insônia

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é que eu não sabia, não sabia mesmo
e às vezes eu até me pegava rindo
e em outras vivia me perguntando:
por que ele dorme tão cedo 
e fica andando pela casa na noite?
assim era você, papai,
naqueles dias que já passaram
imersos na eternidade do minha alma
e quase esbranquiçados em minha mente
mas que, afinal, andarão sempre por aqui
a casa velha (e a nova) e pequena (ou não)
o lampião com suas chamas quietas
depois a lâmpada feito um clarão
uma imensidão lá de fora
a velha televisão de madeira
com sua cor sem cor alguma
que só se pode ver assim escondida
os bacurais cantando lá fora
frio ou calor (eu acho que os dois)
e seus temporais que até gostava
e tuas rondas contra mosquitos
a tua ternura meio escondida
porque certos tesouros se não guardados
acabam indo embora sozinhos
mas que eu não entendia
e agora acabo entendendo
eu sou tão velho como eras
e o sono também me foge correndo
e eu faço vários corredores dentro de mim
faltam-me, entretanto, os bacurais
e algum motivo pra ficar acordado,
não tenho quem eu ame
e não tenho quem cuidar
acabo até esquecendo de mim mesmo
eu queria saber quem verdadeiramente eras
e talvez um dia quando morto até o saiba
mas faço uma pequena ideia de quem sou
sou um só carregando toda a tristeza possível
todos os males que afetam o mundo duma vez
um quase cego que ainda enxerga
e que não jogou fora suas próprias besteiras
quem sabe um dia conversaremos 
mais detalhadamente sobre nossa insônia, papai...

(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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