Poema Tão Simples

Eu vejo correr as gotas do tempo

como os lentos segundos do soro

que correm sem parar pelo tubo

e as manhãs se repetindo em seu afã...

Os ponteiros dançam em círculos

fazendo um ritual de incontáveis eras

onde repetiremos antagonismos óbvios

em que nada e tudo são apenas iguais...

Bondade e maldade participam 

das mesmas coisas pelos nossos dias

e até o inédito tem a mesma feição

das rotinas que acabam nos envenenando...

Se olhar para o céu ele estará lá

se brincar com as nuvens elas brincarão

se assoviar velhas canções já mortas

o vento as levará para bem longe...

Recorto dezenas de figurinhas de papel

com a tesoura do meu próprio tempo

e as espalho pelos chãos que andei

e em cada uma delas deixo meus recados...
Pode ser que meus olhos falhem
como sempre falharam desde dias passados
mas mesmo assim servem para meus intentos
de captar detalhes que passariam desapercebidos...
A grande mudança de todas as possibilidades
acontece quando menos assim o esperamos
porque tudo muda enquanto permanece
e não há diferença substancial entre opostos...
Até os labirintos podem ser tão simples
que acabamos nos perdemos ao caminharmos
a obviedade é o maior dos disfarces existentes
e o nosso desespero aí que entra em ação...
Eu vejo correr os diversos rios que existem
e fico pensando na sua chegada triunfal ao mar
onde todas as águas vivem por morrerem
e os ciclos infinitos se repetem numa simplicidade...