Sangram pés...
na rotina mais cruel
de ter que andar por aí
mesmo não querendo ou podendo
porque o tempo não conhece paradas
Sangram pés...
estamos todos propensos
ao suicídio sem morte alguma
porque se morre lentamente aos poucos
e quando vemos já aconteceu a hora da partida
Sangram pés...
tudo tem ar de exagero
mesmo quando parece faltar
o que acaba nos sufocando é apenas ar
assim como as plantas morrem por excesso d'água
Sangram pés...
os monstros que construímos
são aqueles mesmos que irão torturar
nossas carnes como uma infeliz brincadeira
descontroladamente dançamos até cairmos no chão
Sangram pés...
mesmo sem notarmos tal
mesmo se escondemos isso de alguém
as dores são uma constante no calendário
acostumarmos à elas é a estratégia de nossa fuga
Sangram pés...
em todos os lugares possíveis
em ocasiões tristes e até em felizes
mas assim mesmo haveremos de viver sempre
escolhemos a roupa mas nunca escolhemos ocasiões
Sangram pés...
encontrei uma pedra no caminho
não tive tempo algum de fazer versos
apenas a observei com alguma real atenção
ela poderia ser um estorvo ou um descanso talvez
Sangram pés...
e mesmo assim continuemos...
(Extraído da obra "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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