quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Não Há Mais Travessias

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Não há mais travessias poéticas em ares mais bonitos como já foram. Os semblantes se fecharam por tempo indeterminado. Fechado para balanço, fechado sem balanço dolente de rede. Mesmo que insistamos em rimas ingênuas. 
Acabaram as facilidades de desconhecer alguma coisa. Há mais receios do que simples cuidados. Somos os alvos precisos em tanta e tanta imprecisão. Apenas paradoxos podem se sustentar com tantas tempestades. Postes enfileirados com diversos Judas sem nenhum sábado. 
Diversos fantoches caminham placidamente em passarelas de cacos de vidros, os faquires já foram ultrapassados em suas mirabolâncias obsoletas. Fazemos esquemas que sempre falham apesar de tanta exaltada torcida. 
Somos desconhecidos de nós mesmos, espelhos são grandes fazedores de sustos. Rugas corroem nossas almas com mais intensidade que os vermes em esquecidas carnes. Os carros andam agora em esquecidas bobagens que diferem de cor, mas com igual intensidade, a fumaça cega nossos olhos.
Não há mais pedidos atendidos, mesmo os poucos que insistentemente teimamos em fazer. Os aços agora enferrujam com mais velocidade do que alguns sombrios papéis. São cenas, apenas cenas! É nisso que dá sermos humanos. Humanos e boçais, humanos e idiotas, humanos e, sobretudo, humanos mesmos.
Eu suspiro frequentes vezes, mas é só para não perder o hábito. Alguns versos escapam-me da mente e acabam caindo dentro do copo. São tão amargos quanto qualquer aguardente que seguram minha barra.
Disparo tiros em fortes tragadas do veneno que me ajuda à ir de encontro ao escuro. Faltam-me palavras ou sobram muitas delas. É assim mesmo, sou quase um louco, mas não acabei do meu curso intensivo. Sou quase um bufão, minhas lágrimas são tão engraçadas como velhos dilemas sem importância alguma.
Meu tempo é engolido sem detalhe algum, eu o desperdiço em ditas coisas necessárias, isso é bem preocupante. Até as piores coisas se assustam com o que fazemos. E os cataclismos se sentem envergonhados com sua simplicidade muito excessiva.
Todos os vidros não quebram mais, já estão quebrados de fábrica. Os encantos são apenas algo que nem me preocupo mais em conhecer. Meus dedos estão mais embriagados que a minha própria pessoa e falarei deles quantas vezes me aprouver.
Não sinto mais coisa alguma, nós não sentimos, nossas febres mais altas agora são velhos costumes. Os frios tão pouco importam quanto os calores excessivos. Desertos e gelos são apenas motivos de alguns pequenos destaquem que se desfazem.
As feras são agora mansas, mas não mudaram seus alimentares hábitos, apenas arranjaram um outro fornecedor. Certificados de garantia expressos na nossa constante teimosia. 
As mesmices nos cutucam com vara curta, mas a paralisia é mais forte. Sofás acabam dizimando nossas colheitas ou capricham nos agrotóxicos. Índio quer apito e se não der, não vai mais apitar e o psicodelismo é claro por demais.
Ácidos mais fortes são tão constantes como os segundos. Viva a banda! A metade e meia parte também. Eu só sou o que sou por coincidência e nada mais.
Espero de pé que possa deitar...

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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