Não vamos contar mentiras fáceis, mentiras fáceis são como pequenas dores que de repente chegam e somem, nosso tempo tem que ser gasto com algumas tolices bem maiores do que estas.
Acabou de passar na televisão alguns venenos agradáveis para satisfazer nosso grande (pequeno) ser e nosso desespero nasce se corre tudo mais ou menos normal e bem.
É tão fácil ir por caminhos tão errados, mais fácil ainda chorar por cenas que não presenciamos, testemunharmos crimes que não vimos e dormir com sonora calma em nossos travesseiros sujos.
Somos pequenos o bastante para que nossos apetites nos levem à engasgar com bocados que mal cabem em nossas bocas, que não estão presentes na lista de nossos gostos e vomitemos no dia-a-dia uma inutilidade digna de grandes heróis.
Seu maior inimigo é inatingível, uma forte barreira lhe impossibilita de feri-lo, mesmo que ele zombe de seus afetos mais caros, a grande barreira do espelho brinca placidamente com o desespero que nunca havia sentido antes.
Escolhas normalmente existem para que o remorso nos ataque mesmo que tudo tenha corrido dentro de nossos planos, talvez melhor ainda e seja mais rápido ainda a perda de vontade do que tudo o que fizemos para pegar com as mãos nuvens bonitas.
Nada nos assombra mais do que determinadas naturalidades já fora de moda, onde as virtudes são apresentadas com feios andrajos enquanto os vícios desfilam sem pudor algum.
Rios são rios, deveríamos ter prestado atenção à este simples e cruel fato, mas os cadáveres que boiam sobre as águas acabam nos divertindo tanto que as nossas lágrimas ocasionam nossas previsíveis quedas.
Eu sou o mais comum entre os mortais e meu asco acaba sendo enciclopédico, salvo as restrições que acabaram pegando carona num pau-de-arara vindo da direção errada e que me deixa zombando do que pode existir de mais sagrado.
A minha mortalha perdeu seu charme e agora que me transformei em um simples número e estou coberto de razão mesmo quando os augúrios dizem totalmente ao contrário e este possa ser o último café que bebo e esse possa ser o último cigarro que engulo.
Nossa liberdade é algo plenamente admirável, alguns escolhem serem livres em demasia até que sua liberdade transforme-se em grilhões enferrujados e necessários, outros optam pela liberdade de uma escravidão que acaricia e entorpece.
É discutível sabermos quem é o primeiro e o último nesta fila que percorre quarteirões desprovidos de pés, que conhece todos os detalhes sórdidos de nossa jornada inacabável ou não, sempre com sãs dúvidas e certezas ignorantes, ambas migalhas que os pássaros catam pelo chão.
Acabaram todos os instintos básicos e caiu por terra toda compaixão necessária para pelo menos não sujarmos nossa folha corrida, ações impensadas é que temos para o almoço, para a janta e para o dia seguinte em nosso apressado café da manhã.
Hoje é o grande dia! De matarmos à nós mesmos para a realização de um grande e vão espetáculo onde a beleza se esconde sob os véus e tudo mais acaba desaparecendo num simples estalar de dedos pois somos os mágicos sem nada de extraordinário.
(Extraído da obra "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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