Quem tu és?
Pergunto todas as manhãs ao olhar-me no espelho, observando quase atentamente a mesma cara de sono de todos os dias, os fios brancos que teimam crescer na minha cara, as rugas malvadas que sitiam minha pele, isso tudo em um cara parecido e diferente daquele que olhei noitinha passada...
Quem tu és?
Insisto nessa indagação sem resposta alguma que me satisfaça, nem nas ruas onde ando, nos lugares aonde passo, ninguém realmente me conhece, sou um ilustre desconhecido pela vida, mal conhecido pelo nome que trago na carteira de identidade e é apenas um entre muitos por aí...
Quem tu és?
Minha inquietação gosta de vencer corridas, imaginárias ou não, e procuro em agitadas ruas aquilo que não sei o que é, minha agonia faz que não repare em mais nada, nada satisfaz, nada é também o que acaba preenchendo meu pobre peito...
Quem tu és?
A gaiola em que estou preso não possui porta, mas mesmo assim continuo lá dentro, na obrigatoriedade de compromissos que não assumi, na precisão de coisas que não preciso, aceitando as mentiras que não parei para verificar se eram verdades ou não...
Quem tu és?
Ainda tenho muitas dúvidas se humano, anjo decaído ou bicho feroz, minha memória me atormenta com tudo o que vivi, fazendo mais maldades do que bondades, sou assim, somos todos nós, poderíamos ter feito bem mais e não fizemos por timidez ou por tolice, isso é certo...
Quem tu és?
Essa é a pergunta que quase me desespera, não importa tanto de onde vi, o que estou fazendo por aqui, o que devo fazer ou não, para onde irei onde chegar a hora derradeira, se existirá algo mais ou aniquilação absoluta, o mais importante, o mais essencial é poder olhar no mesmo espelho velho e cheio de manchas e poder cumprimentar o estranho que vejo e agora sei quem é...
Quem tu és?
Eu sou eu...
(Extraído do livro "A Grande Mentira" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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