É apenas cena, sinhô, apenas cena. Todo engano vem na vista direitinho, sem erro de percurso, igual o arqueiro que acerta sem errar. Faça chuva, faça sol, faça mormaço o tempo é igual, mesmo parecendo diferente, pouco importa.
A roleta roda no cassino das nossas desilusões sem se importa quem apostou ou não...
É tudo teatro, doutor, tudo teatro. Os próprios sábios tem lá suas indecisões, cada imortalidade é apenas resultado de mancadas ou meias mancadas e assim vai se levando que nem aquela música dos caras.
Alguém acabou fazendo movimento e o castelo de cartas acabou caindo antes de ser feito...
É quase isso, amigo, é quase isso. Nossa bunda é muito grande, o pano é pouquinho, não dá pra disfarçar, as vedetes acabam que estão certas. As melhores intenções, as piores das intenções, todas acabam fazendo parte do nosso currículo, só isso.
Meu cavalo empacou na ladeira, eu queria subir, mas não pude...
É fingimento, meu caro, é fingimento. Todo mundo é culpado, até que se prove ao contrário, nunca foi diferente, é só ajeitar os óculos na frente das butucas que se enxerga isso. É tapete cheio de merda em baixo e morto dormindo no armário.
Quantas camas de prego serão necessárias para o dormitório?
Tá quase lá, madame, tá quase lá. Mais um pouco o mundo enguiça, o carro acaba, nesse caso, a ordem dos produtos não altera o fator. Só o humor nos salva da rotina que engole tudo e todos.
Está tudo pronto para o corpo de baile dançar o funk...
É só engano, meu mano, só engano. As bruxas em volta do caldeirão e a sua temporada de caça aberta para vivos e mortos, nunca durmamos no ponto, todo perigo acaba fazendo hora extra, mesmo se o salário é bem pouco.
Os velhos ritos estão em falta no mercado...
Tanta besteira, meu bom, tanta besteira. Num caleidoscópio feito na aulinha de artes as grandes decisões são tomadas, os computadores capricham em seus caprichos mais complicados e a serenidade é apenas uma aparência perigosa.
Não estamos mais em condições estratosféricas propícias...
Faz tempo, dona moça, faz tempo. Salas de estar são santuários onde a nossa divindade retangular lança suas profecias e as ordens dadas serão executadas custe o que custar, barato ou caro, isso já não importa mais.
Numa sociedade invertida todas catástrofes são naturais...
Me desculpe, meu anjo, me desculpe. Eu não sei, não sabemos mais o que inventar, labirintos bem piores que os de Creta acabam sendo nosso itinerário desde de outros carnavais e isso não é mais causa de surpresa.
A farinha acabou, o pirão acabou indo embora...
É apenas cena, sinhô, apenas cena. É tudo teatro, doutor, tudo teatro. Representação barata de embriagados cegos de algum sentido sensato...
(Extraído da obra "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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