Mais do que nossas roupas velhas, nossa alma. Rasgada com todas as tristezas quais espinhos pontiagudos e malvados, que não ficam em seu lugar, mas nos procuram. São os acontecimentos da vida e os acidentes de percurso, tão comuns em sua singularidade.
Mais do que máquinas enguiçadas, nossa mente. Os problemas dançam em roda em volta dos nossos olhos, feito um desenho animado qualquer até que fiquemos exaustos, debaixo dos tapetes nossas confissões mais inconfessáveis de que pecamos e muito.
Somos os que somos, seres únicos, um universo em caos, apesar de parecer o contrário. O desconhecimento é a rotina que seguimos, sem percebermos, ser darmos conta de tal.
Estamos num grande tribunal, onde nossos desejos são nossas testemunhas, de defesa ou de acusação, isso depende apenas de meras circunstâncias, o herói do dia foi o covarde que deu apenas o golpe certo.
Somos cruéis mesmo quando não o desejamos, mesquinhos mesmo nos esforçando para que tal não aconteça, tolos o bastante para não reconhecermos nossa falta de visão.
As novas músicas se espalham pelo ar, mas falam sempre de coisas antigas, é impossível modificar isto. As modas são lançadas uma à uma para seu laborioso ofício de nos tornarmos ridículos com gosto apurado. Tudo é obsoleto e esse ofício é por conta de nossos calendários.
As saídas de emergência estão hermeticamente fechadas, as mais simples expressões são em um idioma que não conhecemos, as bulas são escritas em códigos secretos parecidos com os que foram utilizados em grandes guerras.
Tentamos disfarçar sempre, mas o imperador está nu; tentamos convencer à nós mesmos que tudo vai bem, mas o desastre é iminente. Ter paciência é um grande tesouro perdido em alguma ilha deserta no mar da nossa intranquilidade.
Não é por questão de ofício, mas à bem da verdade, só a poesia nos salva de alguma coisa. Seja ela de que forma for, eloquente em palavras de ordem ou em simples gestos afetuosos ou em olhares infinitos. Imaginar é poder viver um pouco nos céus que não merecemos de outra forma.
Eu errei, você errou, todos nós erramos, remendos são quase impossíveis de se fazer...
(Extraído da obra "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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