sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Carliniana CIX ( C.A. Na Cova dos Bufões Malvados )

Este mundo nem gira nem capota - está sempre parado.

Preservado no gelo qual um mamute numa geleira

Esperando de forma inútil se alguém vai encontrá-lo.


Me irrita a repetição constante dessas mesmas coisas.

Vontade de dar um soco na mesa daqueles bem fortes

Como o jogador nos filmes de faroeste americano barato.


Cansei de falar dos dias que sempre são repetitivos.

Não há nada mais podre em reino algum que temos

Pois a podridão depois de total acaba sendo a rotina.


Vidas são diferentes e os destinos é que são iguais.

O bebê é o que será um dia aquele velho decrépito

Que diz ter saudades daquilo que ele jogou no lixo.


Todos nossos atos são impensados até os refletidos.

Assistimos todas novelas na televisão ou fora dela

Mentindo para nós mesmos sobre um final feliz.


A nossa tolice é a maior das mestras que existem.

Quando ela manda que batamos a cabeça na parede

Nós assim fazemos nos ferindo ou até que desmaiemos.


Teimar em falar do amor é apenas jogada de marketing.

Todo amor que sentimos não está em quem nós amamos

Está no nosso amor por nós mesmos refletido em alguém.


A nossa fé acaba sendo mais um disparate na agenda.

Temos medo de um inferno que nós já vivemos nele 

E queremos um céu que será inferno se formos pra lá.


Tudo o que é simples nos nossos tempos é o complicado.

Perdemos tempo pra comprar o que jogaremos fora

Temos só uma boca pra comer e só um corpo pra vestir.


Todo problema e toda dificuldade acabam sendo os mesmos.

Não existem lágrimas que não tenham sal contidas nelas

Pois a realidade é surda e muda e cega e tetraplégica também.


Este mundo nem gira nem capota - está sempre parado.

Preservado no gelo qual um mamute numa geleira eterna

Esperando sempre o próximo bufão a falar uma merda...

terça-feira, 28 de outubro de 2025

Agora Os Bem-Te-Vis

Agora os bem-te-vis

Com seus casacos de penas

Para a nova manhã semigelada...


Agora os bem-te-vis

Misturando seu canto insistente

Com sei lá que outros pássaros...


Como será seu dia?


Poderão visitar as alturas

Que sempre desejei visitar

Mas que vai ficar na vontade...


Vão conjugar verbos

Que nunca vou conjugar

Por minha pequenez de fala...


Vão poder ver a noite?


Isso nunca se sabe

Pois cada uma surpresa

Não coloca anúncio na net...


Existem gatos e pedras

Quedas de toda a espécie

Para cada qual o seu final...


Posso parar por aqui esse poema?


Agora os bem-te-vis que poetizam...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Pajelança Eletrônica

Antes haviam seus baldes de madeira

Para religiosos lavarem os pés de Judas

Haviam churrascos nas praças públicas

Para consumirem feiticeiras de plantão


Mas isso tudo continua na mesma...


Quando leio doutas e antigas linhas

Em que dedos eram apontados sem dedos

Fomos feitos para esquecer as atrocidades

Com as desculpas que a história nos dá


Santificado é tudo aquilo que já morreu...


Fico pensando na saudade que não tenho

Sobre o que era bom mesmo sendo tão ruim

Como cartas mal escritas para um futuro

Que acabou de chegar agora com mãos nuas


Nosso ofício é mentir sem medir distância...


A fome era a mesma daquela noite passada

E as margaridas possuem aquela mesma cor

E a dor continua sobre uma outra pele nova

Para que beija-flores suguem o nosso sangue


O branco continua encardido como sempre...


Os velhos poetas tinham lá seus desvarios

Mesmo quando sob máscaras mais desiguais

Nosso modernismo é uma coisa tão antiquada

Depois de uma semana pode jogar no lixo


Maracatus e cirandas agora estão aposentados...


Em praças suplicam por algumas moedas

Para que a fumaça tenha seu nobre efeito

E o chá nos levem para alturas nunca vistas

Enquanto os virais são nossas fiéis testemunhas...


(Extraído do livro "Pane Na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

E A Chuva Não Era Azul

Eu não sou nenhum cavaleiro valente

Que cavalga nuvens tal brinquedos fossem

Aproveitando sóis de restos de tarde

Sou apenas um lenda que se tornou real

Quando aquela história foi então contada...


A chuva não veio brincar comigo, não veio

Veio trazer várias e várias lágrimas de sal

Como o feitor de fere as costas do cativo

Enquanto disfarça cantando algumas canções

Que reconheço em velhos rádios quebrados...


Rádios quebrados ou ainda revistas rasgadas

Pedaços de papel por entre ruas vadias e vazias

Calçadas com alguma filosofia desconhecida

Do fundo do salão para a porta de era da rua 

E da rua em uma pequena calçada nunca mais...


Assim foi em várias destas aventuras dissonantes

Até que agora me encontro neste oceano deserto

Onde a única água vem de dentro de mim mesmo

Sem episódios de rodas-gigantes naquele parque

Em que eu via a noite feito um belo caleidoscópio...


Não quero perguntar mais uma pergunta sequer

Pois as perguntas ainda sustentam esse meu ser

Com elas caminho com as mãos nos meus bolsos

E aquele assovio pequeno neste canto da boca 

Como olhos para comer um pouco desta tal tarde...


Sim, sem dúvida, sim, a chuva não era e nem será

Daquele azul que eu pedi naqueles passados dias

Suas gotas não serão luzes e nem tão belos cristais

Serão apenas lágrimas que vieram desapercebidas

Neste rosto que traz consigo todo o choro do mundo...


(Extraído do livro "O Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Meia Lata de Lama

O cara ganhou meia lata de lama, ui!

Nem moedinha de um centavo tinha, ai!

Oia qu'eu te faço engolir dente, seu purula!

Só sei tirar minha meleca com dedo do pé!

É a dança do pinico... É a dança do butico...

Fiquei tão pobre que até fiquei tão rico...


Oia a banana, seu Bapo, oia a banana!

Eu como prego e acabo cagando parafuso!

Horrorosa! Tu é a mais horrosa, vadunga!

Rock de cu é rola! Rock de cu é rola!

Mezanga paranga, já volteei na meia...

Vou virar lubasomem lá na lua cheia...


Bedeco, sai correndo logo, filhote de mula!

Viva a Foromimimba, viva a pulamba dela!

Um gole de sanitária aqui pr'esse calhorda!

Medingaria é fubá grosso do seu Zé Porqueira!

Chico meteu porrada na cara da Turma do final...

Quem não quer que vá pra puta que te pariu...


Gruzunzunga coçava o lezengo na mimamba!

Quem quiser leilocar que beba tudim na cuia!

Eu tenho mais que três demonho no meu couro!

Faço teu falilópio, sua Renatinha Não-Vale-Bosta!

Cinteiro é quase uma casa velha que tão ficou...

Eu sei de tudo só não sei mais quem eu fui e sou...


Eita, paraco dos brabos, vai me dar esse teu rabo!

Babuleja não que eu vi do infernicho quase ainda!

Eu só sei comer pitanga usando meio anel no dedo!

Hum, hum, quase comi que até virou dois de dúzia!

Se bobeazar eu peido bem nas grotas do Tarzan...

Que nem o perneco que acabou se obrando amanhã...


É puca na bunca sincerão falso que nem prego de louça!

Carcamijo quebrou tudo quanto era seu tão parente!

Bebo sangue só com farinha, só com farinha de russo!

Tem gente que caga pela boca tem quem caga pelos olhos!

Só tenho febre se for acima de mais ou menos cem graus...

Um vegetal era um animal que não queria coçar o saco...


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

O Vento de Lá

Quero surgir do nada em nuvens de coisa alguma...

Eu não sou o general e nem tenho banda alguma...

Caminhante de coisa alguma sem usar muletas...

Essa minha indecisão é mais um cavalo sem asas...

Anotei todas as tristezas com uma caneta quebrada...

Arranhei paredes com o mais puro de todos deleites...

Essa brisa mansa traz todos os enigmas possíveis...

Faça chuva ou faça sol é tudo aquilo que eu quero...

Cataventos de todas as cores e lençóis bem macios...

Mais uma lata de cerveja para todos comemorantes...

Coleções de chaveiros para todos os que éramos...

Eu usei tamancos de madeira e pingentes brilhantes...

Tive caixinhas de segredo que me valeram tanto mais...

Eram dias de suspensórios e óculos que eu usei antes...

Eu nunca quererei ser o pó por simples antecipação...

As palavras são amigas que me sobraram da guerra...

Dores só ensinam a arte da rebeldia e o ofício do choro...

Programas que já esqueci ainda continuam na mente...

Os pássaros cantarão com o seu trabalho de rotina...

Cada frase é um peixe que foi pescado com as mãos...

Só o desconhecido me conhecerá com toda a certeza...

Nas minhas bruxarias carrego as melhores intenções...

As ressacas das segundas foram os triunfos das sextas...

Proibiram os realejos mas nunca os seus encantos...

A minha espada de brinquedo sempre foi o que era...

Chá com biscoitos para nossa próxima ressurreição...

Levantei com muito sono do meu caixão de morto-vivo...

Mais uma ciranda é o que nosso peito assim precisa...

Posso sentir o vento que vem de lá sempre e sempre...

Mas acho que isso nunca me importou alguma vez...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida). 

domingo, 26 de outubro de 2025

Vou Dar Banho Nos Peixes

 

Pimenta, pimentão,

Tou com o cu na mão...

Pimenta, pimentinha,

Tou com o cu na linha...


Lima, limão,

Virei o rei do sertão...

Lima, liminha,

Sua bunda é minha...


Capricho, caprichão,

Tua irmão é um leitão...

Capricho, caprichinho,

Eu mato por um bolinho....


Cigarro, cigarrão,

Já pedei na minha mão...

Cigarro, cigarrinho,

Vou morrer sozinho...


Caixa, caixão,

Eu ganhei um milhão...

Caixa, caixinha,

Vamos comer galinha...


Pinha, pinhão,

Vou comer esse pão...

Pinha, pinhinha,

O varão tem varinha...


Pimenta, pimentão,

Tá chegando o verão...

Pimenta, pimentinha,

Namorei a Vandinha...


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Facões Sobreviventes

Linhas quebradas em pedaços inteiros

O pandeiro de Geruá quase uma cuíca

A cobertura localizada ali bem no porão

Faz séculos que eu só compro se for nada

Melões-de-são-cipriano neste meu jardim

Rugas que ganhei naquela bet tão maneira


Quando o Demônio pisca eu bebo o guaraná...


Um sombreiro para a puta que usa tranças

Churrasquinho de limões servidos na esquina

Cagar na praça ainda é a melhor das opções

Faço as compras de mês no cemitério local

Pena que não temos mais frangos nas encruzas

Belinha agora está mais porca do que a orca


Cruzes de plástico para vampiros sintéticos...


Se eu não fosse eu mesmo então não seria eu

O morto pegou um resfriado no mês passado

Faltou linha e não tinha agulha na sua mente

Só assistimos desenhos se de trás pra frente

Meus versos são afiados feito estes babuínos

Nunca mais comemos réguas com chocolate


Dentro do coco tinha outro coco que era coco...


No maracatu do Brucutu só tivemos angu

Eu vi uma mosca que estava usando gravata

Os zumbis agora estão indo nas liquidações

Tango-tango e Carrapicho beberam até cair

Eu só como manga se for de madeira de lei

Cuspi um elefante pelos meus pobres olhos


Sou cardíaco toda vez que carrego toneladas...


O burro agora só dirige carros conversíveis

Meu celular mandou eu calar a boca e calei

Meu gato só fala em alemão com muito sotaque

Bibi agora só degusta mísseis transcontinentais

Sabor cicuta é o novo sabor para rebuçados

Nunca mais fui no Maranhão que eu nunca fui


Qualquer dia vou em Marte andando à pé...


A mãe da Mel é com certeza a dona Abelha

Pigarros e sussurros vão parar no mesmo lugar

A Vila Nova é o bairro mais velho da cidade

Que você tenha aquele dia de muita gratipus

Enquanto temos ainda algum fôlego sem ar

Pesquisarei isso no Google sem internet


Facões sobreviventes não possuem dentes...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sábado, 25 de outubro de 2025

Pois Cada Zero É Um

Matemática imprevisível matemática

Matemática problemática

Quando cada zero é mais um

E nos meus ouvidos zunem zoom!


Atravesso o desert sozinho

Misturo rosa com o espinho

Misturo água com sangue

Neste tremendo bang-bang!


Matemática invencível matemática

Matemática sistemática

Quando cada zero é mais um

E mesmo não bebendo estou bebum!


Estou amarrado de corda

Misturo meio com borda

Misturo o bad com o good

Foi tudo aquilo que pude!


Matemática insensível matemática

Matemática fantástica

Quando cada zero é mais um

E aquele meu infinito é mais nenhum!


Matemática má temática....


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

O Salário do Pecado É O Norte

Cada vez mais cada vez

Cabelos verdes de um carnavalis indeterminado

Onde Narcisos também possuem tantas asas

Como poemas que alguém cuspiu ao chão

Sem Terezas e Manuéis sobretudo e assim

Numa nova língua de céleres antiguidades

Eu sou da época de xícaras e chaleiras e bules

Onde as águas também andavam pelas ruas...


Cada vez mais cada mês

O caldo da moenda ia direto pra velha geladeira

Depois ao destino selado do facão amolado

Não era besteira o pé de goiaba e a mexerica

Só não sabíamos os valores de coisa alguma 

Nem que isso custasse os lenços nas cabeças

Hoje a modernidade incômoda tão incomoda

Como o espinho no pé que afinal eu nem pisei...


Cada vez mais cada três

Embrulhado para presente nessa vil digitilalidade

Com um veneno inócuo que fez seu costume

Do lixo viemos e para o lixo nós voltaremos

Nós ejaculamos sem motivo e até sem tesão

Soltei as amarras para ir em direção ao nada

Mesmo que isso signifique não perguntar mais

E nem ser o menino comportado que nunca fui...


Cada vez mais cada burguês

Vou daqui até a Índia em uns só cinco minutinhos

Trarei novos Nirvanas para minha coleção

Serei bem mais odiado como eu nunca fui

O pancadão já se espalhou pelos cerrados

Enquanto aveloz é a bebida desta estação

E as tragédias sacralizadas nos cartórios

Com beijos tarados que um dia irei dar...


Cada vez mais cada talvez 

Há uma cruz cravada na beira deste nosso caminho

Mostrando cada etapa do que é o ser humano

Iremos embora e o dinheiro vai ficar por aqui

Junto com as tentativas que deram mais erradas

E que deixaram muitas cicatrizes que espalhadas

Mais pela a alma do pelos nossos pobres corpos

Pois o salário do pecado sempre vai ser o norte...


(Extraído do livro "O Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Salgado, Azedo e Amargo

Atrás de cada porta - tijolos

Além de cada armadilha - a presa

Não tem graça essa piada

Que não pedi que contassem...


O ser humano é uma balela

A boa intenção é uma farsa

Não quis proferir maldições

Mas elas se tornam necessárias...


Na beira do mar - há perigo

E debaixo do sol - também se morre

Se alguém pediu pra nascer

Esse alguém acho que não fui eu...


Cada rosto é só uma máscara

Mudam apenas os carnavais

Cada folha terá um dia a queda

Mas nenhuma gosta de cair...


Pulando o muro - surpresa ou não

O que não sabemos - douta idiotia

Cada pergunta dorme sem resposta

E cada enigma é tão esquizofrenia...


Hoje é salgado, azedo ou amargo

O doce ainda está em falta...


(Extraído do livro "Pane Na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Carliniana CVIII ( E Os Últimos Serão Os Últimos )

Com a velocidade de um velocípede quebrado

Em dias chuvosos para nada poder se fazer,

Trancado na casa pequena em férias sem sal

Quando nem as moscas visitam as azuis paredes,

Eu sinto, sinto muito a morte que não veio...


Com o mesmo tédio que machucava os ossos

Na mesma televisão primitiva na tosca sala,

Os outros cômodos feito de sólida solidão

Num ponto desconhecido de um old mapa,

Eu sinto, sinto muito que não sei nada....


Eis os olhos que me recusar a escancarar

Porque a escuridão ocupa todo esse tempo,

Gosto amargo ocupa toda extensão bucal

Conviva mal educado que não foi convidado,

Eu sinto, sinto muito um estranho que mira...


Nada é demais para quem é ou está triste

Até esse cheiro dos cadáveres dos sonhos,

Não adianta o engabelo dos passarinhos

E versos sem valor estético desta tal moda,

Eu sinto, sinto que meu sangue ainda corre...


Aqueles meus chapéus acumulam poeira

Junto aos sapatos que agora descansam,

Tudo é pó mesmo dentro de rios tão secos

Que correm em sertões de meu pesadelo,

Eu sinto, sinto que o avião nunca voou...


Contradizendo o que está no papel escrito

Pois não existem nem últimos nem primeiros,

Apenas existem quase mortos e os que mortos

Nessa cena desarrumada que se chama vida,

Eu sinto, sinto meus dedos na tecla feito robô...

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Morreu? Lá Ele!

Aqui pó de pirlimpimpim é que nem capim...

Churrasco seu moço é pra quem tem pé grosso.

Eu queria fazer uma novela só com banguela.

Abestado! Fica de banda e pula de lado.

Quase perdi a tripa numa surra de ripa.

Pois esse meleca me custou uma merreca.

Cada vez que eu engulo um eu faço pum.

Socorro! Se eu beber água eu quase morro.

Fui no cassino e acabei ganhando um pepino.

Me joguei do Ipiranga por meia pitanga.

O cara bateu as botas e foi sem as notas.

Engraçado? É o peixe-galo ser enganado.

Marimba agora só dorme na sua tarimba.

Meio pão e meio guaraná dá pra respirar.

Um copo de blood já dá pra fazer o grude.

Fui lá em Piratininga fazer uma mandiga.

Toda vez que ela perde um dedo acorda cedo.

Todo amarelo que vem do sul e acaba azul.

Minha amante só toma banho no hidrante.

Se o pirão é pouco eu fico é mais louco.

Fui na Serrinha comprar um quilo de farinha.

Eu tenho um fetiche? Sorvete com sanduíche.

Namorei a mãe e casei com a filha sou da família.

Troquei minha bicicleta por uma nuvem concreta.

Agora eu espero quase nada até cair da escada.

Olha direto no espelho que amanhã dá coelho.

Maxixe com jiló é desde o tempo da minha avó.

Pois saudade não tem nem sequer uma cidade.

É geleia de morango pra poder dançar tango.

Um-dois-três só mais um tirinho na cara do burguês.

Vamos lá minha gente! Quem não come tem dente.

Em todo lirismo tem um gesto mais de cinismo.

Quero um doce de calabresa para minha sobrenesa.

Mamão com carne de rato é bem mais barato.

O cara bebia só um pouquim e agora come capim...


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Lânguida Tempestade

Acender uma vela sem uma outra chama.

Em volta da fogueira não há nenhum cacique.

Melodramas antigos ainda em black&white.

Meu mandarim acordou com certa preguiça.

Maquiar a alma é tarefa que muitos fazem.

Foi declarada a guerra de bolinhas de gude.

A gata agora liberou que mamassem nela.

Numa escola vazia as lições são repetidas.

Os ventiladores agora decidiram ir voar.

Mais uma cachaça aqui para o andarilho.

Nuvens sólidas para amantes do nom sense.

O verdadeiro poeta sabe mastigar pedras.

O meu silêncio até grita bem mais alto.

Todas as contradições nasceram prontas.

As injeções que me aplicam não doem mais.

O cachimbo parou de entortar nossa boca.

Agora só marcamos gols que forem contra.

Quero fumar um cigarro no dia do Juízo.

Uma barata morta acabou pisando em mim.

O louco gritava impropérios no condomínio.

A realidade é mais fácil que pular amarelinha.

Só gosto de ficções científicas da Idade Média.

O charuto é charuto porque nasceu charuto.

Quem vai com sede ao pote acaba caindo.

Ali Babá não gosta mais dos cinquenta ladrões.

A baiana agora só vai vender churrasco grego.

Só os ponteiros do relógio suportam repetição.

Ao seu lado é que eu me sinto tão ao seu lado.

Todo motorista tem aquele seu lado contramão.

Uma tempestade viria se não fosse a preguiça...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quinta-feira, 23 de outubro de 2025

A Vida Erra ( Miniconto )

A vida também erra sabe? Mas... por que eu digo isso? Porque o cara não merecia isso. Era a buzina todos os dias, fazendo chuva ou fazendo sol. Lá vinha ele, sorridente como sempre, independente do que acontecia em casa, com a praga dos filhos ou da filha caçula, ou ainda, da merda da esposa que lhe deu um pé na bunda. Maravilha das maravilhas - mágicos salgados, especialmente o bolinho de aipim, carro-chefe de décadas. Não sei qual sua idade exata, mas viu esse velho aqui, garoto, conheceu meu pai que se foi faz tempo. Gerações e gerações que vieram e foram. Quantos bolinhos de graça, dinheiro não era o mais importante, mesmo se necessário. Por que então ficou cego? Maldito diabetes que te tirou da rua...

E Atirou...

E atirou em mim...

Sem arma, sem munição,

Por simples capricho,

Brincadeira, diversão...


Andou pela rua,

Sem olhar pra mim,

Ignorou, desprezou,

Será esse meu fim?


E atirou em mim...

Sem dó, sem compaixão,

Por simples maldade,

Sem pena, sem coração...


(Extraído da obra "O Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Paredes Drogadas

Um homem é um homem até que seja um rato

(Vamos dançar sobre um chão de cacos de vidro?)

Nada mais sobrou daquele dia que foi o ontem

Reza e blasfêmia usam os mesmos prato e copo

Num jardim de flores de cristal nasce a cicuta

Assim como são as pedras assim são os ventos

Só navego se for pelos alguns oceanos de nuvens

Acabo ficando sozinho mesmo se acompanhado

A vida não dá esmolas para ninguém nunca 

Nerverland é um prato de comida para a miséria

Ao rei todas as sardinhas que estão nesta lata

O pregador foi aquele que colocou os pregos

Nada será mais o mesmo daquilo que nunca foi

Só existe happy end para aquele que se vende

As tentações de Wilde ainda permanecem aqui 

A Grande Besta tirou uma selfie quase agorinha

Nunca seremos tão reciclados quanto o plástico

Há muitos santuários em botecos mais imundos

Felizes eram os carvões que queimavam de novo

Os rebanhos pastavam placidamente no front

Quase a metade do que sei é o aquilo que não sei

Óculos brancos e verdes nas mais antigas feiras

A desgraçada roubou a vaca e ainda devolveu

Todo susto cumprirá a sua meta mais primordial

Os olhos estão mais vermelhos do que o sangue

O pobre bambeia mas acaba caindo quase sempre

Nunca mais haverá discurso algum sem palavras

Numa escala de zero até zero claro que somos zero

Mocotó sem farinha pode fazer uma gastura

Pulei amarelinha com marcianos vindos da Ásia

Montei quebra-cabeças que faltavam as peças

O mais concreto abstrato que existirá é niilista

Encomendaram uma poesia e ele fez um epitáfio

Os canários agora são com a plumagem lilás

Colocamos pimenta na água só para disfarçar

Desenhe uma reta e faça dela uma torta de maçã

Os malvados é que ardem os pobres infernos

Quero voltar para um lugar que eu nunca estive

Tantas teias que possuem até vaga na garagem

Não abrir a porta significa alguma segurança

Ela vomitou em sua própria roupa e achou graça

Acho que estas paredes estão quase drogadas

Esses mosquitos estão todos enterrados nas covas

(Vamos dançar sobre um chão de cacos de vidro?)

Um homem é um homem até que seja um rato...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

De Um Cigarro Malfeito

Nada teve

Nada tem

Nada terá...


O que somos?

Um cigarro malfeito

Feito do fumo comprado

Na loja de rações do bairro

Do dinheiro contado...


Nada fez

Nada faz

Nada fará...


Nossas ações?

Passa desapercebidas

Por qualquer multidão

E toda a dor só doerá

Para nossa carne ou alma...


Nada quis

Nada quer

Nada quererá...


Onde vai guardar?

Pode jogar fora

Ou guardar logo ali

No canto da memória

Com as outras merdas...


Nada falou

Nada fala

Nada falará...


Quais os limites?

O do nosso bolso

O da nossa saúde

Desse nosso acaso

Da vontade nem sempre...


Nada dançou

Nada dança

Nada dançará...


O que será hoje?

O mesmo de ontem

Talvez mais novo

Talvez desconhecido

E também acabará...


Nada teve

Nada tem

Nada terá...


O que somos?

um cigarro malfeito

Que o tempo fumará

E depois a ponta

Será sepultada no cinzeiro...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Breves Observações Sobre O Sono

Comemos se há a comida

A sede passa quando se bebe

Sem droga ninguém se droga

O tesão e o desejo são primos

Toda maldade é uma idiota

Se sãos e abertos os olhos veem

Ouvidos moucos não trabalham

Pés cansados são desobedientes

A pele morta não sente nada

A inteligência tem variações

Cada gosto tem seu próprio gosto

Cada cão tem o seu apreço

Algo obedece e o outro não

Mas só o sono e só ele

Não precisa de regras nem lugar

Manda em todos e nada obedece

Quando chegou ou não está lá...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Toda Pele É A Mesma

Toda pele é a mesma

Enquanto todo passo é o outro

A mesma ferida em cada carne

A mesma quebra em cada osso

Igual sangue caindo ao chão...


Iguais doenças e iguais sintomas

Lágrimas todas elas salgadas

Fomes nos estômagos 

Daqueles que têm ou não têm...


Os erros acabam repetidos

Sucessivos pecados sem perdão

A mesma embriaguez do tédio

Ou as drogas mascaradas...


A falta de tempo para todos

Todos acabam correndo assustados

Pois a covardia é semelhante

Em qualquer local do planeta...


O que é feio também belo é

Cultura e ignorância tomam chá

O frio queima e o fogo também

Falta de ar ou mar afogam...


O tesão acaba numa gozada

O vento derruba qualquer coisa

As folhas todas vão ao chão

A moda passada é a moda passada...


Fora da geladeira sempre estraga

Fora de esquadro é cacofonia

Se necessita do mesmo espaço

O estalo de dedos já é a mágica...


Todo idioma que o desconhece

As febres são acima da temperatura

O mal gosto é para quem não o tem

A cinza um dia foi a madeira...


Todo assassino um dia morre

Todo tirano qualquer dia cairá

As palavras vão e voltarão

A verdade foi quase a mentira...


Toda pele é a mesma

Enquanto todo passo é o indeciso

A mesma ferida em traz sua dor

O mesmo osso para a sua sopa

Igual sangue correndo nas veias...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Cheirando À Alho

Gosto de suas reações apaticamente cínicas

Quando eu a bolino com terceiras intenções

Tudo isso é mais um Apocalipse mais caseiro.


Compramos giz suficiente para uma eternidade!


Aquele espelho de pelúcia que comprei pela net

Me traz recordações napoleônicas de um nada

Que não me lembro de ter vivido em lugar algum.


A mosca entediada acabou surrando a aranha!


Como o tanque do nosso tanque estava mesmo vazio

Aproveitei para catar umas nuvens do fundo do mar

Porque as de papelão estavam quase se acabando.


Agora teremos voos aéreos exclusivos para ursos!


Meu cavalo-do-cão ganhou a folia literária erudita

Versando como não escrever por analfabetismo misto

De queijo e presunto criados em laboratórios caseiros.


A morena sambou na caixa d'água da nossa esquina!


Agora é tradição arriar as calças para a modernidade

Vejam só como os pajés preferem pirulitos de avelã

Enquanto aplicam seus dólares na compra de joias.


Cangaceiros usam vermelho no carnaval de Pequim!


Falta quase meio dedo para minha imaginação falhar

E eu confundir lâminas com porcelana de madeira

Em noites longas de inverno russas de quarenta graus.


Que o ajudante de pedreiro traga dez carros de massa!


Mexilhões e mexericas com molho de jaca hidropônica

Para servimos em piqueniques escolares das elites

Das direitas esquerdistas em mais franco desespero.


Faça-me o favor de não me fazer mais favor nenhum!


Nosso festival está previsto para não acontecer mais

Em sextas-feiras que caiam em segundas chuvosas

Que não caia mais um pingo de chuva de velhos barris.


Chá de casca de morango servirá para doenças letais!


Sopa de castanha com maxixe diretamente do exterior

É bom para decifrar enigmas de antigas civilizações

Cuja base era o acrílico sintético de formação caseira.


Meu controle remoto sofre de séria crise existencial!


Estudamos tanto para um dia qualquer morrermos

E nossos cadáveres fazerem acalorados discursos

Em necrópoles chinfrins que nunca nós escolhemos.


Um grande desastre aconteceu: a água pegou fogo!


Todo prazer desconhecido um dia não mais será

Todos os freios falharam na pista mais escorregadia

E como já diziam os antigos: isso tudo cheira à alho...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Pois Todo Tempo É Pouco

Todo tempo é pouco, muito pouco... Para ir ao encontro de coisas simples, para os gestos mais singelos, para beijos escondidos, para uma ter...