quarta-feira, 29 de julho de 2020

Seja


todas as respostas em uma só
silêncio absoluto em todas as palavras
os meus olhos perseguem cenas
que nunca afinal aconteceram
e mesmo assim trazem suas saudades
(é tudo uma partida que não houve)
eu devoro todos os meus sonhos
como quem chega do nada aflito
esperando sofregamente a hora de morrer
como quem engole com rapidez
cápsulas de cianeto num fim de guerra
(mas isso em vão por permanecer vivo)
deixa que meus devaneios funcionem
como um invento que acabou falhando
todas as proximidades acabam enojando
e eu procuro a caverna mais profunda
de onde só sairei no Juízo Final
(mesmo assim sob protestos)
alguns insetos que não identifico
dão seus voos rasantes nas lâmpadas
e o cheiro de tabaco impregna em tudo
é melhor do que sentir falta dos perfumes
que acabei inventando pra sentir falta
(numa poética idiota que eu invento)
simples simples e ainda mil vezes simples
quebra-cabeças de milhares de peças
prontas para teimarem e saírem do lugar
como as centenas de transeuntes apáticos
que compõem os quadros dantescos
(cidade ou cemitério? nem faço ideia...)
o garoto-propaganda faz seus programas
e as famílias ideais em seus anúncios
nos incentivam a perder nossas chances
de tentar viver um pouco mais talvez
antes que o vento nos derrube de vez
(uma salva de palmas pra nossa idiotice)...

(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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