quinta-feira, 9 de julho de 2020

Poema Vago Número 4

O Menino e a Pipa | InterTV Web
espirais maciças cobrem o ar de névoa
e os meus olhos perdem todo seu alcance
mal sei se já é dia ou se é noite ainda
e nossa palavra de ordem é a aflição
reconto todos os contos que aprendi um dia
e acabo acrescentando mais algo inusitado
a culpa é dos metais que me deixaram desumano
querendo querer aquilo que eu nunca quis
o vermelho do chão se confunde com outros objetos
e acaba me faltando até o ar para poder gritar
talvez devesse andar por algumas quadras
para poder achar aquilo que nunca perdi
mas a minha volúpia poderia engolir totalmente
todas as areias que encontrar pelo caminho
é tão simples ser o mais complicado de todos
e fingir que não escutei todos os que me olham
atrás da máscara do meu rosto moram impaciências
algumas bem antigas e outras nem tanto assim
a solitude usou o cartão para comprar minha alma
e isso não consigo disfarçar como tantas outras
as teias de aranha crescem de forma mansa
mostrando que a ordem natural das coisas é exata
pequenos insetos passeiam entre a vida e a morte
e como nós não sabem quem virá primeiro
eu só posso ser aquilo que nunca fui antes
e a minha exatidão é repleta de muitas dúvidas
já passei dos cinquenta mas já vivi por séculos
dormindo algumas noites no quarto do mundo
conheço diferentes luas umas boas e outras más
as feridas de minhas paixões teimam em não sarar
os meus olhos nunca foram de poucas palavras
repetem as reclamações do que era e acabou não sendo
as minhas digitais se espalham nas cenas dos crimes
eu caprichei para que isso pudesse enfim acontecer
meus dois cães dormem mansamente no quintal
até que algum movimento da rua os desperte 
sou alguém que não tem muitas saudades
gostaria apenas de repetir muitas e muitas vezes
todos bons e raros momentos que pude viver
é triste saber que o vento tira certos enfeites do lugar
é triste saber também que nossa perdição reside aí
as espirais continuam na sua sucessão interminável
como o maior dos incêndios pelas florestas
enquanto eu fico aqui apenas parado e chorando...

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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