segunda-feira, 27 de julho de 2020

É Mais Que Um Fato

É mais que um fato, é um grito..
Garganta acima, garganta abaixo, nada mais importa...
Onde estamos? Em todos os lugares e em nós mesmos...
Eu me perco por estes dias de muitos temporais e mesmo assim tenho tempo de rir de mim mesmo. Vejo o bailado eterno de folhas mortas correndo pelas águas que escorrem nas ruas solitárias. O mundo em silêncio e eu também...
É mais que um fato, é um choro...
Feridas fechadas, fechadas abertas, nada mais importa...
Pra onde fugir? Pra algum onde minha sombra não vá...
A realidade tem toda a calma possível, tudo vai embora no momento exato, nada vai restar. Vejo o sol atravessando o céu como um menino que anda e anda. Até parados o caminho anda por nós...
É mais que um fato, é um dilema...
Tanto amor, pouco amor, nada mais importa...
De onde partiu o tiro? Não importa porque nos atingirá...
Os amargos e os doces acabam se misturando, tentar impedir isso é apenas mais uma impossibilidade. Eis a lua rasgando o véu do noite, ela em breve sucumbirá. A minha memória tem andado tão curta...
É mais que um fato, é um escândalo...
Sonhos perdidos, sonhos achados, nada mais importa...
Para não olhar, não basta fechar os olhos, a alma enxerga mais e o peito entende todos os idiomas possíveis. A brutalidade me causa inúmeros enjoos complicados de se descrever...
É mais que um fato, é um espetáculo...
Brinquedos quebrados, brinquedos inteiros...
Cavei com as mãos a terra seca para esconder fatais amores, mas quanto mais eu escondia, a evidência afligiu-me com seus sinais. Gostaria de ser como uma pedra, mas algumas delas sentem mais que os homens...
É mais que um fato, é uma dissonância...
Versos perdidos, versos achados...
Minhas asas já nasceram com defeitos de fábrica, não alcançam alturas, somente abismos. Eu tenho medo de tanta coisa, principalmente de ter medo na hora errada e errar novamente, obedecendo as instruções de uso de minha natureza...
É mais que um fato, é um explosivo...
Guerras de dentro, guerras de fora...
Na velocidade alta que eu corro, não vejo a curva e o acidente acaba acontecendo. Todos os vidros quebram-se, sobretudos os meus espelhos e eu acabo esquecendo que ter dor é mais normal do que se possa pensar...
É mais que um fato, é uma história...
Talvez em breve, talvez daqui um tempo...
Quando menos esperar baterão na porta, serei cobrado pelo que deixei de fazer, dos milhares de desencontros que tive e das paixões que tive um dia. A fogueira vai se apagar e só vão restar velhas cinzas...
É mais que um fato, é a própria vida...

(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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