quarta-feira, 8 de julho de 2020

Poema Vago Número 3

Gráficos de vetor de fantasia de criança de bobo da corte ...
perfumes inomináveis em fileiras
e a minha obscuridade perante o sol
nada mais restou do que o silêncio
e as avenidas se encontram cheias
os pedestres e os carros se confundem
a inumana cidade é assim mesmo...
eu disfarço que meus pés doem muito
mas a careta que eu faço conta tudo
o som de uma garrafa que cai no chão
pode ser a nova partitura de uma sinfonia
são estes desesperos em total demasia
que fazem-me exagerar o que não sinto...
os poetas vivem tentando soluções práticas
para as mazelas que acabam nos ajudando
agora já não tem importância alguma
se sou preterido pela mais pura apatia
ou se por inveja daquilo que não sou...
eu miro a pedra e ela cai na água do poço
as ondas são minhas mais novas pinturas
e nisso consigo um pequeno contentamento
como uma dose de veneno que evitei
porque em mim existia bastante medo
mas que a agora me é apenas indiferente...
esqueço de certas rimas de vez em quando
e antes que as lágrimas queimem as faces
disfarço e limpo todas na manga da camisa
eu já me cansei de profundas filosofias
que justifiquem o sofrimento que não pedi
e se pedi ainda assim eu não quero ter...
preparo inumeráveis poções quase mágicas
e capricho em iludir a minha própria pessoa
as palavras se entranharam em minhas carnes
e com algum esforço atingirão meus ossos
e para minha total libertação será simples
como quem suspira profundamente ou não....
não aprendi a diferença essencial que existe
entre o que é o começo e o que é o fim
é apenas uma questão simples de cisma
e quanto mais fomos querer nos negarmos
as feridas já cicatrizadas se abrirão novamente
e o sangue jorrará novamente até o chão...
a inumana cidade é assim mesmo
os pedestres e os carros se confundem
e as avenidas se encontram cheias
nada mais restou do que o silêncio
e a minha obscuridade perante o sol
perfumes inomináveis em fileiras...

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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